ThiagoDamasceno: Um Dia Como Hoje 03: O Diário de Um Duo Chamado VIAJANTE CLANDESTINO

sábado, 31 de dezembro de 2011

Um Dia Como Hoje 03: O Diário de Um Duo Chamado VIAJANTE CLANDESTINO

VIAJANTE CLANDESTINO: O
Terceiro Dia de Gravação de Clipes & Músicas

Por Thiago Damasceno

Brasília-DF, quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

“Acabou-se: É o começo de tudo.”
(Frase dita pelo autor deste texto em um momento de despedida, melancolia e cansaço físico)

           
            Quando levantei da cama, por volta das nove horas da manhã, Heitor ainda dormia na cama de cima do beliche. Durante a madrugada anterior ficamos aperfeiçoando os arranjos de “Eu Vim de Longe” e “Veraneio”. Acordei e pus meu enorme fone de ouvido (modelo diadema) na cabeça e selecionei no meu MP3 a pasta “Milton Nascimento”. Heitor se assustou quando acordou e me viu parado em pé no meio do quarto com um fone de ouvido gigantesco na cabeça. Tomamos café e ensaiamos algumas músicas pra tocar nos bares de Carolina-MA.

            Após o almoço, arrumamos as malas, pois iríamos pra Carolina na madrugada de quarta pra quinta com sua família. Essa viagem estava combinada há tempos. Saímos pra gravar mais imagens pros clipes. Mais uma vez, acompanhados pela intrépida Sara, que ajudou bastante. Porém, o primeiro ponto de nossa jornada não envolvia, necessariamente, gravações, mas o essencial registro de letras na Fundação Biblioteca Nacional (FBN), com sede no Rio de Janeiro e com filial nesta cidade. Primeiro, precisávamos tirar cópias de nossos documentos pessoais, xerocar e imprimir a obra intelectual (o documento com as letras), mas por questões de deslocamento e tempo, decidimos passar primeiro no Escritório de Direitos Autorais da FBN pra saber que horas o escritório fecharia, pois já eram quase cinco horas da tarde. Fomos atendidos por um simpático segurança que nos informou, infelizmente, que o escritório fechava às 13 e 30 da tarde. Ele abriria de novo às oito da manhã do dia seguinte, ou seja, na hora em que estaríamos indo pra Carolina. Resumindo: se o escritório já estava fechado e nós iríamos viajar antes de ele abrir de novo, como registraríamos as letras?

            Graças à Sara, as soluções começaram a aparecer.

            Ela disse que poderia registrar pra nós no dia seguinte. Ótimo! Mas lembrei que ela faria um ato autoral pra terceiros. Então seria necessário uma Procuração. Perguntei se havia um cartório por perto. Ela disse que sim, e nos levou até lá. Chegamos, mais uma vez, em cima da hora. Eram 16 e 54 e o cartório fecharia às 17, segundo os cartazes fixados nas paredes. Mesmo assim, conseguimos entrar e ser atendidos por uma cansada funcionária que não entendeu muito bem minha explicação, mas entendeu quando Sara lhe falou. Foi então que a funcionária explicou que deveríamos arrumar uma Procuração e autenticar as cópias dos nossos RGs e CPFs, já que Sara iria registrar as letras em nossos nomes. Após alguma correria e momentos de tensão, conseguimos a procuração e autenticação das cópias dos documentos. Tudo isso por cerca de R$ 40,00. Isso era uma fortuna pra mim e Heitor no momento, sabe como é né? Universitários não são os cidadãos mais estáveis financeiramente. Gastamos tudo isso, mas ao menos estávamos seguros (ou quase) pra garantir que Sara registrasse tudo em nosso nome.

            Fomos a uma lan house e imprimimos as letras e um Requerimento, que devia ser preenchido e assinado. Feito isso, seguimos pra um shopping center pra comprar uma alça pro meu violão, pois eu esqueci minha alça em Goiânia. Que lamento senti ao comprar uma alça fuleira por R$ 20,00! Era a mais barata. Comprei-a porque já tinha uma muito boa, mas infelizmente, a abandonei sem querer.



            Após tantas operações financeiras, fomos andar pela cidade pra filmar algumas cenas pros nossos clipes. O ponto almejado era o Congresso Nacional. Até chegar a ele passamos pela Catedral de Brasília e pelo Museu Nacional. No caminho, encontramos dois amantes de Engenheiros do Hawaii. Bastou que eles vissem a camisa de Heitor (com estampa dessa banda) pra que eles pedissem que tocássemos uma música gessingeriana. Quando estávamos bem perto do Congresso, vimos um Brasília branco estacionado no meio do nada, nas quadras infinitas de Brasília, que percorremos com muito esforço (a pé) por toda tarde. Fiz algumas poses sensuais, comicamente, em cima do carro e pedi que Sara tirasse algumas fotos. De repente uma senhora apareceu, indo em direção ao Brasília e Heitor disse:

- Lá vem a dona!

            Eu pensei: “Impossível”. Mas estava enganado. Era a dona do carro mesmo, e por problema de visão ou por sorte ou pela escuridão que caía, ela não percebeu que eu estava fazendo graça no carro dela e deixou que tirássemos fotos com ele. Ela também disse que muitas pessoas faziam aquilo. É, era um carro simples no meio do nada, mas chamava muita atenção.


            Filmamos algumas cenas no Congresso, abaixo da fileira de postes onde as bandeiras de todos os estados brasileiros estavam hasteadas. O engraçado era que todas as bandeiras estavam iluminadas por pequenos holofotes que estavam no chão, mas a bandeira do Maranhão, nosso estado natal, era a única que tinha uma lâmpada com defeito, que não iluminava nada. Curioso, curioso...


            Depois gravamos no Museu Nacional, onde uma belíssima apresentação de slides sobre o Natal estava sendo projetada na cúpula. Foi espetacular. Concluindo as gravações, fomos a pé pra rodoviária do Plano Piloto. Sara pegaria um ônibus diferente do nosso. Assim que ele chegou, nos despedimos com um abraço e Heitor a acompanhou até dentro do ônibus. Eu estava fora do ônibus observando aquela amorosa e triste despedida de amantes. Odeio despedidas, mas pelo menos há um encontro atrás de cada despedida. O ônibus de Sara levou-a e eu e Heitor nos dirigimos pra fila do ônibus que nos levaria pra casa. Eram quase dez horas da noite e eu estava fisicamente cansado, ansioso pra ir pra Carolina e tocar, gravar, etc. E ainda melancólico com aquela despedida. Heitor disse algo como “Acabaram as férias aqui, agora só em Carolina”. Eu respondi algo como “É, o negócio vai ser puxado por lá”. Heitor respondeu com um semi-inexpressivo “É...” e após refletir por poucos segundos, me virei pra ele e disse:

-Acabou-se: É o começo de tudo.

Não quero me negar, mas eu não estava tão bem quando disse isso. Foi espontâneo. Contudo, não deixa de ser engraçado (ou sério). Assim que entramos no veículo e sentamos nos bancos, começamos a conversar sobre quem tocaria o quê nas gravações das nossas músicas. O cobrador ouviu e veio se sentar perto da gente. Disse que já tinha tentado tocar violão, mas não tinha conseguido aprender sozinho. Pediu algumas dicas, nós as demos e ele voltou pra sua cadeira e prosseguiu com seu serviço. Minutos depois chegamos ao setor onde Heitor morava e debaixo de chuva fomos sacar algum dinheiro no banco e em seguida, debaixo de uma chuva maior ainda, fomos pra casa.

Viajaríamos pra Carolina dentro de algumas horas.

Anexo: Durante a viagem

            A viagem foi longa, mas divertida. Com exceção de uma sensação de enjoo que cresceu em mim a partir de Palmas-TO e de dois pneus que furaram, tudo foi bem. Passando pelo Tocantins, paramos em um posto onde escutamos um velho gritar:

-Êêê... Calor da gota serena!!!

            Pronto, definitivamente eu estava voltando pro meu primeiro lar. Minutos depois, já na estrada propriamente dita, Sara nos enviou uma mensagem via celular dizendo que não precisou dos documentos do cartório pra fazer o registro das letras. Ou seja, gastamos R$ 40,00 sem necessidade. Maldita Lei de Murphy! Mas eu já esperava por isso mesmo... Porém, o registro deu certo e enfim, poderíamos expor nossas "filhas", nossas canções pra quem quisesse ouvir.  E é isso que vamos fazer. Com aquela notícia, me senti renovado e o enjoo até foi embora. 

Agora, que venham os shows em bares e as gravações de áudio.

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