ThiagoDamasceno: maio 2015

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Crônica: Sobre Amores e Livros

Sobre Amores e Livros
Por Thiago Damasceno


No silêncio do meu quarto, abro a porta do armário e me deparo com várias coisinhas preciosas que ela me deu. Engraçado e bizarro como as coisas – meros pedaços de matéria – podem engatilhar nossa memória, nos fazendo lembrar momentos imateriais, nos fazendo viajar sem pagar pedágio, sem sinalizações ou limites de velocidade. São momentos imateriais porque não existem mais em carne e osso no presente, apenas no passado.

            Cheiros, toques, sabores, frases e gestos, um mundo privado a dois são exalados pelos livros recebidos como presente. Quanto carinho e cuidado ao escolhê-los... Quanta atenção que não existe mais... Quase tudo perdido num jogo de tramas e dramas, desentendimentos e emoções à flor da pele. Tudo dissolvido como se o deus do Caos soprasse sobre uma cidadela de areia. E lá, lá dentro do armário, permanecem os livros intactos, alheios ao presente, à espreita, prontos para fuzilar o Esquecimento. São verdadeiros guardiões da Memória. Até que “disparo balas de canhão, mas é inútil, pois existe um grão-vizir”.  

            Confidenciado isso a uma amiga, e mencionando como um dos livros meu romance preferido, ela disse:

- Ou joga essas coisas fora ou joga esse amor fora.

            Respondi inspirado por uma sabedoria milenar soprada por vozes de Macondo:

- Tá doida, é?! Não se joga fora Cem Anos de Solidão!