ThiagoDamasceno: Crônica: Cidade Grande, Cidade Pequena

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Crônica: Cidade Grande, Cidade Pequena

Carolina-MA, 28/12/11

Cidade Grande, Cidade Pequena

Por Thiago Damasceno
           
“Hoje, a noite tá linda demais pra eu ficar em casa”.

            Como todo ser humano entra em contradição, eu entrei momentos após ter dito essa frase pro meu amigo Heitor, quando saía de sua casa. Adoro ficar perambulando pelas casas e ruas da cidade até altas horas e pensei que hoje não seria diferente, mas agora aqui estou, na casa da minha avó, sentado à mesa, escrevendo uma crônica, antes das dez da noite. Anos atrás meu avô escrevia seus textos religiosos nesta mesma mesa, porém, devido aos seus problemas de visão, ele parou de escrever e eu fiquei sendo o único escritor da casa.

            No caminho entre a casa de Heitor e a minha, passei numa sorveteria e encontrei um antigo amigo. Nossa breve conversa me inspirou a escrever esta crônica. Ele ficou aqui, trabalhando, e eu fui embora pra estudar, como muitos fizeram, fazem e irão fazer. Ele já tem bens materiais significativos, estabilidade financeira e até já começou a construir sua casa. Não tenho nada disso. O último produto com certa importância que comprei foi uma Flauta Doce Barroca. Meu amigo disse que, em compensação, eu teria uma bagagem cultural maior (isso é relativo) e um diploma de Curso Superior. Eu lhe disse que ele já não dependia financeiramente dos pais e que estava, de um ponto de vista econômico, onde eu quero chegar com um diploma de graduação e um emprego formal.

            Aprofundando mais os pontos positivos e negativos de sair de uma cidade pequena pra uma grande e/ou continuar na cidade pequena onde você nasceu, vimos que tudo fica meio que equilibrado na balança. Enfim, não há nada de tão glorioso em ir embora pra uma cidade maior e nem nada de tão pacato em continuar numa cidade do interior. Ambas têm seus lados bons e ruins e depende também do que você quer fazer, claro. Você só não pode querer algo de uma cidade grande e continuar numa pequena e vice-versa. Esse assunto é polêmico, porque há pessoas que moram no interior e pensam que a felicidade ou alguma coisa do tipo com um sentido meio duvidoso só existe em outro lugar, numa capital, falando mais especificadamente. E com isso, amaldiçoam o interior. Outros, que glorificam muito o interior, pensam que as capitais são infernos terrestres. O tema é complexo e depende do ponto de vista.

            Chegando em casa, não sei porquê, lavei toda a roupa que usei no dia, na mão mesmo, embora exista uma máquina de lavar roupa em casa. No escuro do quintal onde cresci, fiquei olhando o céu estrelado. A noite bonita me convidava pra sair, mas eu queria mesmo era ficar em casa. Contemplei as belas constelações de Touro, Órion, Cão Maior e o aglomerado de estrelas chamado Plêiades. Lembrei do meu telescópio, que nunca consigo trazer, mas que sempre faz uma falta danada.

            Daí, senti uma saudade futura, uma saudade de quando eu for embora, antes mesmo de ir embora. Lembrei que vi o calendário da minha faculdade e que as aulas só começarão no dia 27 de fevereiro. Como a primeira semana é só enrolação, voltarei pra Goiânia só na primeira semana de março. Ou seja, ficarei por mais de dois meses em Carolina. Não sinto que estou de férias. Vendo as estrelas, trabalhando no meu antigo serviço, tocando e andando por aí, sinto que estou morando aqui de novo.

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