ThiagoDamasceno: 2016

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Crônica: Morte Viva

Morte Viva
Por Thiago Damasceno


Dizem que, quando se está morrendo, é possível ver um filme da vida rodando na mente. E quando esse mesmo filme roda enquanto se está vivo é o quê?

          Creio que acontece isso com a maioria de nós, meros mortais brasileiros, nesta época de fim de ano, período de fim de ciclos, recomeços, promessas e reflexões existenciais. Quem inventou essa cultura é um gênio, como diz Drummond em um de seus poemas, pois realmente o momento de pausa e reflexão é essencial pra seguirmos adiante na torrente do ano futuro que, no nosso caso brasileiro, não vem com bons augúrios.

          O que esperar de um país com uma política socialmente ineficiente e financeiramente eficiente pra uma corja de corruptos? O que esperar de um país onde reina nas ruas as leis da vantagem pessoal? O que esperar quando a fé se torna cega e se perde numa mata escura? Quem dera uma crônica trivial de um escritor ocasional em um blog comum respondesse. Mas... o precipício fica depois de outra curva, a coisa não é tão simples assim.

          Frente à não simplicidade da existência talvez nos reste o óbvio romântico, ou seja, aquela boa e velha esperança, um otimismo tímido, uma forma corajosa de ser frente aos muitos desafios que virão em 2017.

          Obrigado pelas leituras neste ano e feliz 2017 a todos!


quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Crônica: O Eterno Conflito do Ser

O Eterno Conflito do Ser
Por Thiago Damasceno
Nada melhor do que a quebra de rotina que viagem proporciona pra inspirar pensamentos “introspectivos globais”, ou seja, pensamentos pessoais, mas que você suspeita poder compartilhá-los com o resto da humanidade. Vejamos então sobre conflitos interiores.
        Não é sobre Freud, Sócrates ou Hobbes e seus lobos. É sobre desejo. Vivemos na tensão entre o que somos e o que desejamos ser, entre o passado e o presente que existiram e existem e o futuro que poderá existir. Podem propor a isso a simples solução: “Então seja! Querer é poder!”.
        Não, gente boa, este mundo é mais complicado do que frases simples de estímulo. O mundo mais gira em desacordo com a nossa vontade do que a favor, e nesse jogo selvagem ficamos nós, na angústia entre o que somos e o que queremos ser, uma ponte às vezes intransitável, uma avenida às vezes trafegável. Tem ocasiões que faltou pouco pra sermos, outras que passou longe e então vem a decepção. E outras em que triscamos no querer ser, tiramos tinta da trave.
        E assim vamos levando essa bola, ora indo de encontro ao gol ora tentando não fazer um gol contra; contra nós mesmos.  

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Novo Projeto: Orientalismo na Rede!


     Pessoal, essa é a primeiro vídeo-aula do meu novo projeto chamado "Orientalismo na Rede"!  Trata-se de uma Página/blog/Canal com estudos históricos e culturais sobre o Oriente Médio e temas afins. Nessa primeiro vídeo-aula, trabalho com o conceito de "Oriente Médio". Espero que gostem! 

     Curtam nossa Página no Facebook e se inscrevam no nosso Canal no You Tube!



domingo, 7 de agosto de 2016

Crônica da Minha Morte

Crônica da Minha Morte
Por Thiago Damasceno


Foi na madrugada após o show do grupo Ira! que sonhei que morri. Foi um sonho ou um pesadelo? Não sei. Um psicanalista pode explicar melhor. O lance que quero dizer é que morrer dói. É triste, mas a dor é maior do que a tristeza.

          No sonho, eu estava de férias numa cidade litorânea, num barzinho todo de adobe e palha numa praia afastada. Dentro, um ambiente animado: música, bebidas, conversas, sinuca e apostadores. Eu conversava com um hippie, numa boa, quando um grupo de uns 5 trombadinhas renderam a todos, com pequenos revólveres.

          O maior de todos, um pré-adolescente, mandou todos ficarem parados e mostrarem as carteiras. Mostrei a minha para um garotinho que não deveria ter mais de 7 anos. Ele ficou encantando primeiramente com as moedas, ignorando as notas de 20 reais. Um maiorzinho o mandou pegar as notas. Ele as pegou, com se fosse a primeira vez que entrava em contato com dinheiro de papel, como se descobrisse um novo continente, e ficou lá acariciando gananciosamente as cédulas.

          Olhou pra mim com olhos de pena e entregou a arma para o maiorzinho. Ele cravou seu olhar no meu. Entendi que morreria ali. O moleque puxou o gatilho. Corri.

          Senti uma dor danada na perna e sabia que havia recebido mais dois tiros: um na barriga e outro na coxa, mas só a perna doía. Cruzei a porta do boteco e não estava mais na praia, mas numa rua de uma cidade do interior. Vi a luz... a luz!

          Era o Sol queimando tudo com sua quentura tropical.

          Tropecei, não conseguia mais andar. Pensei nos moleques, não com raiva, mas com pesar por viver num país com uma violência metralhada por fatores sociais e onde um bando de gente doida pensa que mais violência, Bolsonaros e Bíblias excludentes vão resolver tudo. Pensei que deveria fazer logo as pazes com Deus, mas o tempo corria... Nessa hora o sobrenatural, o além da vida invadiu meu medo. Deus, Deus, e agora?!

          E agora, José?! E agora, Carlos?!

          Pensei: “Ah não... vou morrer... Que droga...”.


          E então morri, como acontecimento banal que é a morte de um ser vivo. 

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Crônica: "Vencer na Vida" - Uma Expressão Abestada

"Vencer na Vida": Uma Expressão Abestada
Por Thiago Damasceno

Talvez na minha 74ª reencarnação eu veja surgir expressão mais abestada do que “Fulano VENCEU NA VIDA!”. Dizer isso implica pensar que a pessoa é “resolvida”, se deu “bem”, tem dinheiro e status social e que pronto: na sua vida tudo é bom e vai continuar indo bem.

            Sabe de nada, inocente!

            Nosso modo de viver capitalista tem essa mania de ficar criando coisas do outro mundo que nada tem a ver com nosso cotidiano e nossa existência como um todo. O que quero dizer é que quem vence na vida é quem é imortal ou viaja no tempo, ou seja, só Connor MacLoad, o Highlander, ou os personagens da trilogia De Volta Para o Futuro.

            Será mesmo que alguém pode se dar por satisfeito tendo uma boa renda, um bom emprego, um bom convívio familiar, social, etc? Claro que não – ou muito difícil isso -, pois além de isso tudo ser praticamente impossível em uma só vida pra uma só pessoa, sempre vai haver uma ponta solta, um problema, uma “angustizinha de nadica de nada” que só várias e várias sessões de terapia talvez possam resolver, e enquanto se resolve uns problemas outros vão surgindo.

            É do ser humano sempre desejar, sempre des-desejar, sempre resolver e sempre complicar. Tudo contraditório e simultâneo. A aventura da existência é essa. Nosso viver é um movimento contínuo de surgimento de problemas e resolução de problemas e, de novo, mais nascimento de questões, e não há crença, etnia ou classe social que evite isso. Como seres que agem e pensam, sempre estaremos envoltos por problemas!


            Portanto, aos imortais cabe a expressão “Vencer na vida!”. Fiquemos aqui com nossa humilde mortalidade perdendo um tanto e ganhando mais um tanto na/da vida. 

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Crônica: Homens Engravatados

Homens Engravatados
Por Thiago Damasceno

Estava eu um dia desses comendo em uma lanchonete no Setor Oeste, ao lado do Tribunal de Justiça do Estado, quando uma turba de homens de terno e gravata adentrou no recinto.

            São figurinhas carimbadas do nobre setor e do poder público na região. Outro carimbo é meu velho senso de revolta ou velho sendo de percepção de contradições.

            Deus que me livre de gravata! Não quero carregar esse fardo: o fardo de se desesperar atrás de respeito alheio, de pompa, de status social, de alguma posse além da posse de paz de espírito.

            Deus que me livre de gravata! Não quero que uma gravata deite por cima de um enorme bucho meu. Não quero que uma gravata combine com sapatos sociais engraxados por alguém que me chame de “patrão”. Deus que me livre de ser patrão!

            Deus que me livre de gravata! Não quero que uma gravata limpe minha reluzente aliança. A aliança ostenta o ouro de um casamento, ouro esse usado por muitas putas.

            Deus que me livre de terno, sapato social e gravata! Prefiro a leveza e odescompromisso dos trajes esportivos, despojados, joviais. Não quero esquentar a cabeça com seriedades bestiais.

            Quanto aos homens engravatados... que suas tolas seriedades os carreguem!


terça-feira, 28 de junho de 2016

#TigreCast 139 - O Som Ao Redor

O Som Ao Redor


Para quem curte cinema nacional... eu, Tiago Paes de Lira e Matheus de Souza  discutimos com muito barulho o filmaço "O Som Ao Redor" de Kleber Mendonça no 139º Tigrecast!





sexta-feira, 10 de junho de 2016

TigreCast#137: Wall-E

TigreCast#137: Wall-E


Nesta semana compartilho com vocês o primeiro podcast do qual participo: TigreCast#137, sobre a animação Wall-E. 

            O bate-papo sobre essa grande obra da Pixar rolou com Tiago Lira (Tigre), Marcelo Zagnoli e Matheus de Souza! Pra quem curte cinema e nerdices mil, tirem as ceras dos ouvidos e boa audição! 



terça-feira, 31 de maio de 2016

Crônica: Existo, Logo Encriseio

Existo, Logo Encriseio

Por Thiago Damasceno

Náusea: essa palavra estranha e elegante menciona bem o atual clima do país. Não há Jean Paul Sartre que discordaria disso. Crise ou crises? Tanto faz, o pouco e o muito, o implícito e o explícito, o bom e o mau, celestiais e satânicos, direita e esquerda, feministas e machistas, marxistas e culturalistas... estão todos em crise. Primeiro existimos, depois entramos em crise.

            Falo da crise política, moral, intelectual, etc. Toda essa bagunça no país invade o interior. Se o exterior fica instável, o interior também. Quase entrei em depressão após aquele funesto domingo em que a Câmara de Deputados votou pelo prosseguimento do impeachment. Concordando ou não com o governo de Dilma Roussef, é fato que nosso corpo político-legislativo é, predominantemente, sujo, burro, cretino, safado, bandido. Mau caráter.

Não citei o termo “crise econômica”. Será que há mesmo essa dita cuja? E se houver, pra quem há? Quando os bancos lucram milhões a menos, mas ainda lucram milhões, será que estarão mesmo em crise econômica? E nós, habitantes da galáxia classe média, e os habitantes do buraco-negro classe baixa (de onde não se sai), estamos de fato em crise econômica?

            Primeiro o Ser existe e só depois se define, se inventa, se reinventa, e nesse processo contínuo sempre há crises. Podemos jogar todas no saco das “crises existenciais”. Viver é isso: nascer e morrer a cada dia, e renascer; comprar em demasia, correr o risco de dever além do valor do salário; se perguntar onde, quando e para quê; votar em bandido; ter medo da polícia e ligar pra ela nos momentos de desespero, ler Nietzsche e ler a Bíblia; ser preconceituoso e sofrer preconceitos, ser macho e ser fêmea, crer na ciência e crer na Astrologia, ser consciente e ser inconsciente, tantos seres em uma só relação de amor e ódio entre corpo e mente.


            Enfim, existo, logo encriseio. 

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Sociedade e Política: Goiás: Estado Violência

Goiás: Estado Violência

Por Thiago Damasceno


“Estado Violência, deixe-me querer!
Estado Violência, deixe-me pensar!
Estado Violência, deixe-me sentir!
Estado Violência, deixe-me em paz!”

(Estado Violência, Titãs)

Sou mais um maranhense que veio tocar a vida em terras goianas, terras de povo simpático e hospitaleiro, qualidades que minimizaram meus humanamente naturais medos da mudança e da adaptação. Esses medos não existem mais. Sete anos desde minha migração, já me sinto com identidade goiana e considero este estado também o meu lar. Porém, outro medo nasceu, ou melhor, cresceu. É o medo da violência. E para piorar, é um medo da violência tanto dos fora-da-Lei quanto dos agentes da Lei.



             Não vou falar sobre os criminosos perante a Lei porque isso é praxe. Falarei dos crimes cometidos por aqueles que estão sob a proteção legal e que, justamente por isso, abusam de suas autoridades e poderes. Há exceções, claro, mas quem dera viver sob o manto da ética e da justiça fosse fato para todos.

            Goiás, e principalmente a capital Goiânia e cidades vizinhas, vêm passando por momentos sociais e políticos turbulentos: além dos problemas “de sempre”, ultimamente a maioria da população vem sofrendo com o aumento abusivo da passagem do transporte coletivo e com as cacetadas de uma governança autoritária, avessa ao diálogo e a explicações de suas atitudes para com aqueles que mantêm os cofres públicos tilintando de moedas: nós, o povo, esse termo vago e genérico, mas que você e eu entendemos bem.
           
            O governo estadual, de forma arbitrária, quer introduzir o sistema de gestão escolar via Organizações Sociais. Isso gerou um movimento forte e coeso por parte dos estudantes secundaristas e até ação civil do Ministério Público de Goiás contra tal procedimento. Claramente, a gestão escolar via OSs favorece um grupo detentor de poderes políticoeconômicos e desfavorece as classes mais socialmente fragilizadas da população. É um esquema imoral, um esquema oriundo da lógica neoliberalista de governar. Sobre isso, o professor e diretor da Faculdade de Educação da UNICAMP, Luiz Carlos de Freitas, fala melhor.  


            Manifestações estudantis contra as OSs vêm ocorrendo desde o conhecimento público desse esquema, e de “brinde” a essas manifestações, a violência da Polícia Militar de Goiás. Ando com medo, você também deve andar assim. Mas agora não sei se tenho mais medo de um bandido ou da polícia. A polícia aqui prende, bate e humilha psicologicamente a seu bel-prazer, principalmente se você estiver participando ativamente de uma manifestação ou passar perto de uma. O discurso que as autoridades fardadas usam para legitimar seus abusos de poder é raso, superficial: “Fulano é vândalo, malandro, bandido, terrorista”, etc, etc... É um discurso bastante estúpido e simplório. 

Claro que há pessoas mal intencionadas e violentas nos movimentos sociais, mas isso não é “regra”. Claro que há PMs que exercem suas funções com ética - e paz na medida do possível - mas a “regra” que vem crescendo é a oposta. Vi e ouvi dizer de amigos, colegas e conhecidos sendo presos e humilhados pela PM. Durante uma ocupação na Seduce (Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte), no dia 15 de fevereiro, 31 pessoas foram presas por ocuparem o órgão. 13 dos presos eram estudantes menores de idade e um era professor doutor em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É necessário que os eleitores goianos saibam dessas atrocidades cometidas pelo governo e se lembrem delas no próximo período eleitoral.

O aparato policial durante a ocupação da Seduce... Guerra contra o tráfico: viaturas, helicópteros e policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais). A polícia até usou um ônibus coletivo da CMTC (Companhia Metropolitana do Transporte –Transtorno - Coletivo) para levar para a cadeia os 31 presos políticos que estavam apenas exercendo seu direito constitucional de livre manifestação e queriam acompanhar o andamento do processo jurídico do esquema das OSs na Educação (processo fechado para o público, uma clara ação anticonstitucional. Coisas de Goiás....). A força policial, levando todos em um ônibus coletivo, lembrou o clima do livro 1984, lembrou uma conspiração no ar arquitetada pelos poderosos. Aqui, em outros lugares do país, ativista político é rotulado de bandido.






A classe policial é uma classe muito incoerente. Não é detentora do poder econômico – na prática é uma classe trabalhadora - mas ou obedece sem refletir as ordens da classe superior (que a explora!) que manda “descer o cacete” em todo mundo que incomoda o sistema pelas suas falhas ou os policiais violentos simplesmente carregam o germe da violência dentro de si e são sádicos por natureza e por isso batem, prendem e xingam quem e quando querem.

             Nem vou entrar nas questões tanto sociais quanto filosóficas que envolvem a violência humana, tema muito complexo e polêmico, mas isso serve de gancho para mencionar a tristeza acarretada pelo assassinato da estudante Nathália Araújo Zucatelli de 18 anos no Setor Marista - bem como lembrar outros crimes tão ou mais bárbaros ocorridos com pessoas de outros setores da cidade, com outras cores e condições econômicas – e o despreparo democrático do governador Marconi Perillo para lidar com o caso.

            Numa coletiva de imprensa, o governador demonstrou sua falta de tato com jornalistas, principalmente quando uma das profissionais cobrou medidas mais práticas por parte do governo. Ela cobrou isso porque a retórica de Perillo foi de fuga do assunto e essencialmente de isentar-se de culpa. A culpa, como sempre nestes dias de “Ódio ao PT” disseminado por seus opositores, foi da tal “crise sem precedentes na história do Brasil” (se esqueceram dos anos 80/90!) e da presidenta Dilma.

            Não estou defendendo nem o PT e nem Dilma Rousseff. Obviamente a presidenta e seu partido têm seus muitos problemas, como toda a estrutura política do país e seus partidos, mas culpá-los EXCLUSIVAMENTE por todas as desgraças do país – como muitos cidadãos vêm fazendo, criando uma verdadeira algazarra de estupidez política – é ingenuidade, desinformação, falta de senso crítico e até – dependendo do caso – mau caráter.

            Ao governador Marconi Perillo sobrou o autoritarismo esnobe para pedir a demissão da ousada jornalista e a cômoda posição de, enquanto principal gestor de um estado, representar-se como vítima perante uma “crise em igual” e escrever uma carta para a “demoníaca” presidenta Dilma Rousseff cobrando uma posição. Até onde sei, existem forças policiais exclusivamente de Goiás e verbas federais para a segurança, mas parece que é mais rentável investir em propaganda e pagar cachê para cantores milionários – como o Leonardo e companhia – em detrimento de investimentos sociais que favoreceriam a construção de uma sociedade mais pacífica e humanizada.

            Os donos do poder estão no poder há tempos e pouco se importam com a sociedade. Não sei como conseguem dormir direito à noite.  Ou talvez durmam bem, afinal de contas, há uma teoria – parece que de caráter popular, não pesquisei a fundo – que defende que uma pessoa para chegar em um altíssimo cargo de gestão em escala estadual/nacional/mundial, dependendo do seu cargo, precisa de elevada dose de apatia e “des-sentimentalismo”. Ou então a escalada do poder políticoeconômico em si leva ao desenvolvimento de tais estados psicológicos.

            Vivemos tempos complicados em que muitas autoridades são os verdadeiros bandidos e os bandidos explicitamente foras-da-Lei não ficam para trás. Vivemos tempo complicados, injustos e violentos. Ou talvez sempre se viveu assim.

            A sombra do medo paira sobre Goiás. Tenho saudades daquele tempo em que era recém-chegado nestas terras, em que tudo era uma novidade e eu sentia apenas bons ventos soprarem pelo cerrado do coração do Brasil.


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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Crônica: A Noite Goianiense

A Noite Goianiense
Por Thiago Damasceno


A noite goianiense cheira a cerveja, cheira à “cantina das trevas” e a uísque caro que leva ao mesmo efeito de uma pinga nacional boa e barata. A noite goianiense cheira à nicotina, porronca e maconha. Cheira a um perturbador alívio.

A noite goianiense cheira à ressaca e à sofreguidão da última noite mal dormida.

A noite goianiense cheira a vulvas e pênis tanto encharcados quanto ressecados. A noite goianiense cheira a arrotos imorais. Cheira a fogo e cinzas de prazeres.

            A noite goianiense cheira a pobres almas desesperadas mendicantes de atenção, a anjos em busca do Paraíso, a demônios viciados no Mal procurando em vão a salvação.

            Mas salvação não há na noite goianiense.

            A noite goianiense cheira a intelecto ansioso por gamas de assuntos, por questões, dúvidas e incertezas que aflijam o espírito e por isso mesmo o acalante, porque não há nada mais relaxante para a angústia existencial tu que viver em busca de respostas.  

            A noite goianiense cheira a você preferir ir a um pub onde uma banda faz cover do bom e velho Nirvana a ir a um show de uma banda internacional viajada cujo som não passa de um rockão antigo que começa a tocar numa daquelas cenas clichês de filmes hollywoodianos em que dois motoqueiros descolados entram num bar.

            A noite goianiense cheira à tua amiga te deixando em casa na calada da madrugada enquanto a cevada já corrompe teu senso de juízo e direção e ela já te fez todas as perguntas cujas respostas você só confessaria pra Deus ou pro Diabo.

            A noite goianiense cheira à busca por algo, mesmo sabendo que você não vai conseguir esse algo, mas que precisa quebrar a cara, pagar pra ver.

            A noite goianiense cheira à sobrevivência após andar por quebradas obscuras em um setor nobre. É na nobreza que se escondem os vícios. A pobreza nada tem a esconder, é explícita e declarada. A miséria é sincera. A riqueza mente.

            A noite goianiense cheira à lição de se satisfazer e se contentar com uma bela noite de sono. A cama está lá toda a te abraçar. 

            A noite goianiense chega ao fim no teu quarto silencioso enquanto aquela velha parábola zen fica a ecoar na tua mente cheia de conceitos e ideias até que você a acalme porque no final essa é a única saída que resta no beco da ansiedade.

            A noite goianiense cheira à tua sombra, cheira à tua projeção nublada no escuro.

            A noite goianiense cheira à meditação. Mas salvação não há na noite goianiense.



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terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Cinema: Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força


ATENÇÃO: Texto Com Spoilers!

O Retorno da Força:
Uma Breve Análise de Star Wars – Episódio VII Por Um Fã

Por Thiago Damasceno

É um prazer imenso, espacial e mitológico ver o retorno de Star Wars às telonas com seus personagens icônicos e seus demais elementos que se tornaram presentes no imaginário popular desde os anos 1970, mas Episódio VII – O Despertar da Força não é lá essas coisas que estão falando, como se fosse um dos melhores filmes da franquia ou do ano. É um filme bom. É um bom começo para uma nova trilogia. Apenas.



            Já iniciei o texto com minha opinião e a seguir falarei meus motivos. Começo com as qualidades da obra: trama ágil, boa escolha de elenco, ótimas atuações, cenas de ação no ritmo e na medida certa e toques de mistérios e suspense ao estilo J. J. Abrams, que primeiro apresenta seus personagens e depois mostra seus passados. Pelo jeito, o cineasta fará isso nos próximos episódios, VIII e IX. Aguardo ansiosamente respostas sobre os passados de Rey, Kyle Ren, Luke e Snoke.  Só espero que J. J. Abrams não perca a mão como perdeu na série Lost, onde deixou muitas questões sem respostas.

            É perceptível para os fãs de média e longa data que Episódio VII – O Despertar da Força usa em seu enredo estruturas dos Episódios IV e V. Uns veem isso como homenagem. Concordo em partes. Mas devido à quantidade excessiva de referências estruturais aos episódios anteriores, Episódio VII deixa a desejar em criatividade.

            Estão lá novamente o dróide-chave que todos procuram. Antes era R2D2 com a mensagem da Princesa Léia Organa para o velho mestre jedi em autoexílio Obi-Wan Kenobi, agora é o carismático BB-8 com um mapa para encontrar o lendário jedi também em autoexílio Luke Skywalker; antes o jovem Luke Skywalker deixou seu desértico planeta Tatooine rumo a uma jornada heroica, agora é a vez da jovem Rey deixar o estéril Jakku; antes o Império tinha uma super arma secreta, agora sua filha mais nova, a Primeira Ordem, também tem sua super arma secreta; antes o confronto entre pai e filho era entre Luke e Darth Vader, agora é entre Han Solo e Kyle Ren, também numa ponte sobre um grande fosso, tal qual no episódio V.

            Há várias outras referências menores que considero desnecessárias, mas destaco por último a figura do Velho Mentor. Antes tínhamos uma criatura antiquíssima que conhecia muito bem a Força: era o pequeno mestre verde Yoda. Agora, a maior conhecedora da Força é Maz Kanata. Também pequena e também antiquíssima. Uma versão feminina de Yoda, e laranja.


            Penso que bastavam as referências normais aos episódios anteriores como personagens, naves e temas. As referências às estruturas das estórias e roteiros anteriores prejudicaram o novo episódio. Há tempos eu suspeitava que enquanto a trama trabalhasse com os personagens da trilogia clássica, a nova trilogia não iria avançar muito em termos de “autonomia”. A trilogia do I ao III tem sua identidade e a do IV ao VI também. A nova trilogia (do VII ao IX) iniciou com pouca autonomia pela quantidade excessiva de referências estruturais aos enredos passados, mas com a morte de Han Solo e já apresentados os novatos na saga, creio que nos episódios VIII e IX teremos realmente os episódios VIII e IX, filmes mais autônomos em termos de estrutura e identidade. Assim espero.

            Outros dois pontos fracos do filme são a escassa contextualização política Pós-Queda do Império e o mau uso da personagem Capitã Phasma.

            Devem ter se passado uns 20 anos desde a queda do Império e, mesmo assim, não vemos como funciona a Nova República e a Resistência, apesar de aliada ao poder oficial, encontra-se tão sucateada quanto a antiga Aliança Rebelde.

Na Primeira Ordem, cuja origem é obscura – mas que talvez seja esclarecida nos próximos filmes – temos a Capitã Phasma, que é um soldado diferenciado, mas age pouco e não tem nenhum peso na trama. Talvez os próximos filmes, talvez...

Entretanto, O Despertar da Força é um bom filme de aventura. Como diria uma amiga, praticamente um “As Aventuras de Finn e Rey”. Interessantes esses dois personagens protagonistas, um negro e uma mulher, seguindo a tendência cinematográfica de dar voz a representantes de grupos sociais até então bastante submissos no cinema. Finn é engraçado e ativo, você pensa que ele será o próximo jedi e então... Rey, moça forte e independente revela ser o principal receptáculo do “despertar da Força”, como menciona Kylo Ren ao seu mestre, Snoke.

Quanto aos mistérios relacionados à família Skywalker, Rey e os novos vilões há vários. Kyle Ren, cujo antigo nome era Ben – como seu pai Han Solo o chama – é um jovem rebelde que se espelha na sombra do avô, Darth Vader. Muitos pensam que ele era um discípulo de Luke que foi para o lado sombrio, mas isso não é afirmado com exatidão, deixando a ideia de que talvez Snoke possa ser o antigo discípulo rebelde de Luke. Esperemos as respostas.

Outra coisa que precisa ser mais esclarecida é o uso do sabre-de-luz. Até então a arma era considera super perigosa e só alguém com reflexos de jedi e muito treino poderia manuseá-la. Mas Finn a usa. E ele, tem a Força ou não? Rey usa a arma magistralmente, mas a Força está com ela, porém, só isso seria necessário para bailar com o sabre-de-luz? Kyle Ren deu uma surra em Finn, mas perdeu para a garota. Válido, sendo ele um aprendiz ainda – Snoke diz que precisa terminar seu treinamento – mas ao mesmo tempo um aprendiz que consegue parar um tiro laser no ar. Confuso, tão confuso quanto os caminhos do lado sombrio.

Pontos fortes e emocionantes do filme são a entrada de Han Solo e Chewbacca na Millennium Falcon, o voo da Millennium Falcon após anos estacionada, a trágica morte de Han Solo, as visões que Rey tem sobre seu passado e o encontro da jovem com Luke Skywalker, logo no final da o filme.

Um gancho perfeito para as próximas aventuras galácticas.





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sábado, 16 de janeiro de 2016

Crônica: Essa Coisa Toda de Ano Novo

Essa Coisa Toda de Ano Novo
Por Thiago Damasceno


Sempre achei uma grande besteira essa coisa toda de Ano Novo com suas promessas e juras de positividades eternas, mas também gosto de estar dentro dessa besteira com as amizades do peito. Faz bem pra alma, se é que há alma. Acredito mais em memória do que em alma. Quando se morre, pra onde vão as lembranças? Retornam à Força? São convertidas em raios gama, raios cósmicos, voltam a ser matéria interestelar? Afinal, tudo se transforma e somos poeira das estrelas.

       Na manhã de primeiro de janeiro de 2016 estava dando uma volta pela nossa preguiçosa Goiânia que exibia com orgulho sua ancestralidade rural e tediosa em suas ruas vazias pela ressaca do dia anterior. E eu, também de ressaca, ainda arrotava garrafas de Estrella Galicia e o espumante da meia-noite cuja marca nem procurei saber, só queria mesmo uma dose mais forte pra ajudar a digerir o complicado ano de 2015.

         Mas ver o ano se iniciando daquele jeito, de forma calma e tímida, fez bem. Deu mais ainda aquela sensação de recomeço, como se fala em um poema do Drummond que todo mundo anda compartilhando tanto nas redes sociais que já virou clichê.

        O início do ano foi tipo começo de temporada nova de seriado: no final da temporada anterior a agente Scully encontra um embrião extraterrestre e o agente Mulder quase foi morto por saber demais, mas aí uns caras de preto levam o embrião de volta pro lugar de onde não deveria ter saído e devolvem o Mulder ainda vivo. Pronto: tudo voltando ao normal.

         No mais, só espero que este 2016 não tenha tanto clichês nem tantos porres-clichês pra esquecer as merdices do ano, muito menos embriões de extraterrestres a serem descobertos. Tô desejando mesmo mais estabilidade e sossego, mas sei que isso vai ser difícil.

         Já tô vivido o suficiente pra sentir que vem bagaceira por aí.

                   E muita ressaca. 


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