ThiagoDamasceno: Um Dia Como Hoje 01: O Diário de Um Duo Chamado VIAJANTE CLANDESTINO

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Um Dia Como Hoje 01: O Diário de Um Duo Chamado VIAJANTE CLANDESTINO

Primeiro ponto de destaque: Uma das modas da Internet agora é ouvir e ver, ou seja, o vídeo.

Segundo ponto: Quer divulgar bem sua banda? Grave as músicas, mas também grave clipes. Portanto, o primeiro diário do Viajante Clandestino é basicamente sobre vídeo.

Terceiro ponto: Eu quase ia esquecendo que uma caminhada pela cidade pode ser muito divertida (e que você vê muitas pessoas quase se metendo em encrenca)

VIAJANTE CLANDESTINO: O Primeiro Dia de Gravação de Clipes

Por Thiago Damasceno

Goiânia -GO, sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

             Eu e Heitor (Viajante Clandestino) decidimos gravar os clipes de nossas canções em locações de Goiânia-GO, Brasília-DF e Carolina-MA. Antes de ir à Brasília pra esse trabalho, me encarreguei de gravar aqui.  As locações em que pensei servem para os clipes de “Vida de Cão”, “Cidades Solitárias” e “Veraneio”. Foquei a gravação no tranquilo Bosque dos Buritis e gravei o trânsito das avenidas que levam até ele.


            Pensei em adiar as gravações, pois o dia estava nublado e os chuviscos não paravam. E nenhuma das músicas precisava, necessariamente, da úmida melancolia de uma tarde chuvosa. Mas por voltas das três e meia da tarde, os chuviscos pararam, um sol tímido apareceu e algumas nuvens deram as caras. 

            No bosque, dei atenção às árvores, trilhas e lagos. O chão estava com barro e folhas molhadas e várias vezes quase escorreguei, mas as filmagens deram certo. Eu levava uma mochila com uma das minhas flautas e uma câmera digital emprestada. Nas mãos, levava o tripé do meu telescópio, que servia de tripé da câmera. Um quebra-galho e tanto! Enfim, você percebeu que o negócio é punk, bem ao estilo “Faça você mesmo!”. É o preço de uma produção independente. Mas não me importo com isso já que aprendi a tocar mesmo com bandas de rock em garagens mofadas, com instrumentos não tão bons e um equipamento de som pior ainda.

            Filmei boa parte da trilha e quando caminhei pro maior lago do parque, vi um grupo de amigos sentado em um banco. Duas moças e dois rapazes. Um dos rapazes falou:

- Moço, filma a gente!

            Eu dei uma desculpa esfarrapada e saí logo. Eles ficariam me olhando com atenção e sem pretensões, com um olhar de peixe-morto. Estavam fumando alguma coisa que os deixava pra lá da Lua.

            Quando filmei o último lago que queria registrar, escutei um monte de gritos juvenis. Parecia uma torcida vinda de um jogo cujo time foi campeão. Andei um pouco pela trilha e vi um bando de adolescentes literalmente tomando banho nos lagos. Eram cerca de 20 indivíduos, todos aparentando pertencer a algum ramo da classe média e com menos de 16 anos. Banhar nos lagos do bosque é expressamente proibido, segundo as placas do bosque e pelos guardas ambientais (que naquele momento, não estavam em lugar algum). O engraçado é que o lago é povoado por peixes, tartarugas e frequentemente visitado por patos, marrecos e afins. Ou seja, é cheio de urina e fezes desses animais. Além disso, a sujeira da água é visível a olho nu. Vai saber o que se passava na cabeça daquelas crianças ao banhar em tais lugares. Como diria Tiririca: “Só sendo minino mermo, minino!”.

            Eu já estava me preparando para as últimas fotos quando a chuva caiu de novo, mas muito mais forte. Fiquei sentado em um banco que estava embaixo de uns pés de bambu. Deu certo. Fiquei protegido. Pela primeira vez na vida as copas das árvores me serviram de abrigo pra chuva. Pensei que isso só acontecia nos filmes.

            O barulho da meninada cessou e pra não ficar parado olhando a chuva, pratiquei um pouco de flauta. Não tardou muito, a chuva parou e prossegui minha caminhada pelo bosque. Foi então que vi uma fonte de água que ficaria excelente pra “Veraneio”. Já estava preparando o tripé e a câmera quando vi que a meninada estava banhando lá. Praguejei, pois se eu esperasse que eles saíssem, talvez a chuva voltaria. Mas lembrei do zoom da câmera e resolvi usá-lo. Quando eu estava focando a câmera na fonte e filmando-a, percebi que os adolescentes estavam saindo de perto dela. Pronto! Filmei a fonte e continuei em frente. Eles também continuaram, mas escutei um deles cochichar sobre minha câmera. O grupo parou e a garota que estava gritando mais enquanto banhava no lago, veio andando na minha direção. A princípio, pensei que ela ia procurar alguma coisa que por ventura tivesse deixado cair. Mas ela se aproximou de mim. Seu corpo estava projetado em minha direção, porém, ela estava apreensiva. Me olhou nos olhos e disse com calma:

- Ow, deixa eu te perguntar. Cê filmou quando a gente tava banhando ali?

- Não, filmei não.

- Cê é repórter? É que eu sou filha de advogado véi, aí se meu pai vê alguma coisa disso aí, eu vou pro sal. – disse, apontando pra minha câmera. Peguei-a e mostrei a ela.

- Não, sou repórter não. Tô gravando uns clipes pra umas músicas minhas. É vídeo pessoal, mesmo. Nem filmei vocês, foquei na fonte oh.

            Mostrei-lhe a gravação e ela suspirou aliviada.

- Ah, tá. É que eu pensei que cê era repórter, aí se meu pai visse isso aí, eu ia pro sal. Bacana, gravar clipe. Então falow, véi.

            Disse isso e estendeu sua mão pra mim. Apertei em sinal de cortesia e esbocei um sorriso amarelo. Por quê? Por que ela estava banhando no lago! Assim que ela saiu, esfreguei minha mão no tronco de árvore mais próximo, mas não senti na mão nenhum cheiro de fezes de pato.


            Continuei minha caminhada e minhas fotos e os adolescentes continuaram a banhar nos lagos. A garota foi muito educada ao falar comigo, como se pode ver pelo diálogo. Estava mais preocupada do que com raiva.

            Voltei pra casa satisfeito, debaixo de chuva (que voltou, como vinha acontecendo durante todo o dia). Mas tinha na mochila uma câmera com filmagens e muitas ideias na cabeça. Próximo local de gravações: Brasília!

2 comentários:

  1. to super ansiosa pra ver o resultado final desse trabalho que ja tem rendido muitas histórias...
    rsrsrsrs

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  2. Eu também, já tô até escrevendo uma letra chamada "Ansiedade"

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