ThiagoDamasceno: novembro 2010

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Música

Bem Que Se Quis
(Pino Daniele/Nelson Motta)

Bem que se quis, depois de tudo ainda ser feliz
Mas já não há caminhos pra voltar
E o quê que a vida fez da nossa vida?
O quê que a gente não faz por amor?

Mas tanto faz, já me esqueci de te esquecer porque
O teu desejo é o meu melhor prazer
E o teu destino é querer sempre mais
A minha estrada corre pro teu mar

Agora vem pra perto vem!
Vem depressa vem sem fim, dentro de mim!
Que eu quero sentir o teu corpo pesando sobre o meu
Vem meu amor vem pra mim!
Me abraça devagar, me beija e me faz esquecer!

        Bem Que Se Quis: música do italiano Pino Daniele com letra do escritor, jornalista e letrista brasileiro Nelson Motta, consagrada na interpretação da cantora brasileira Marisa Monte e conseqüentemente uma canção excelente.
        Nelson Motta é uma testemunha privilegiada dos 40 anos da Música Popular Brasileira, desde a Bossa Nova ao BRock dos anos 80. Quando ele morava na Itália conheceu o compositor Pino Daniele e ouviu sua versão de Bem Que Se Quis, com letra escrita por Daniele em italiano e napolitano. Motta fez uma letra em português baseado na melodia, que é seu estilo de escrever, e Marisa Monte a cantou. A versão com a letra de Motta foi apresentada a Pino Daniele que a adorou, pois de acordo com Motta, ele usou o adjetivo “Deslumbrante!” para se referir à canção, porque mesmo sem entender nenhuma palavra, ele achou mais bonito o som das palavras cantadas por Marisa do que o som das palavras nos idiomas originais.
        Segundo eu, Bem Que Se Quis fala da relação de um casal que em determinado momento não deu certo “Bem que se quis, depois de tudo ainda ser feliz; e o quê que a vida fez da nossa vida?”, mas apesar de nada poder ser como antes “mas já não há caminhos pra voltar”, ainda é possível recomeçar “mas tanto faz, já me esqueci de te esquecer porque o teu desejo é meu melhor prazer” já que o caminho de um leva ao encontro do outro “a minha estrada corre pro teu mar”. Amantes novamente próximos, só resta saciar a sede do amor e abandonar o passado “vem meu amor vem pra mim! Me abraça devagar, me beija e me faz esquecer!”. Também é preciso lembrar que a letra sugere outras interpretações.
       
        Gravei minha versão dessa canção no computador do meu estúdio (meu quarto) com o programa Audacity. Portanto, é uma versão caseira, mas de boa qualidade. Usei o playback disponível no site http://www.mundodosplaybacks.net O link para download está logo abaixo, a canção está no formato mp3 e tem apenas 3.37 MB. Imperdível! E nem é liquidação! Antes que alguém pergunte, para o bem ou para o mal, a voz é minha. Espero que gostem!

Thiago Damasceno


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Crônica

        Eufemismo é uma Figura de Linguagem que permite a suavização de fatos e/ou termos chocantes. Como exemplo, versos famosos de Álvares De Azevedo: “Descansem o meu leito solitário/ Na floresta dos homens esquecida”. Forma clara e direta: “Ponham meu caixão no cemitério quando eu morrer”.
        Leia abaixo a crônica de estréia de Átila Douglas e veja o embaraço que um simples eufemismo pode causar.

Thiago Damasceno

Encontros & Desencontros
Por Átila Douglas
 
          Há pessoas que se divertem sem compromisso, são os participantes da chamada "Geração Tribalista", que nas noites baladeiras cantam "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo." Porém, depois de vários copos de cervejas, vodkas, whisks, acabam em um quarto solitário sem a desejada companhia para aquecer-se no frio da noite.
         Tempos atrás, éramos diferentes, pensávamos em ter uma companhia, e não várias, que na verdade, na hora em que mais se precisa, não podem ajudar. Ou posso estar enganado. Ainda há homens e mulheres que pensam em romantismo, em andar de mãos dadas no parque, ver o pôr-do-sol e o nascer da lua e sob a luz desse luar, desejar-se intensamente, descobrir um ao outro.
         Não entendo essa "geração" que 'pega' todo mundo, que se esbalda em salivas alheias depois de um porre ou outro e está reclamando de que não tem uma companhia para compartilhar segredos, dividir angústias, etc. Encontrei aí uma contradição.
         Andando pelas ruas, numa dessas tardes que a gente não tem nada pra fazer, estava lá eu, pensando neste, digamos, triste caso em que nos encontramos hoje. De repente, encontrei uma amiga, velha amiga, que não via há muito tempo. Vejam só o que ocorreu.
        Depois daquele saudosismo todo, abraços e assassinato da saudade, descobri que ela estava solteira.

-Ah, mas o que houve?! - perguntei surpreendido ela e seu marido (esqueci de mencionar que ela era casada) tinham um amor de dar inveja a qualquer casal. Típico romance do século XIX.

-Meu marido me deixou - respondeu.
        
         Seguindo meu raciocínio no que estava pensando anteriormente, antes de encontrá-la, sugeri o seguinte (eis a melhor parte):

-Pare de se lamentar, seu marido deve ter ido pra essas baladas noturnas, e como todos, beijou todas e achou alguém melhor que você.

         Nesse momento sua cara de espanto e palidez me surpreenderam.

- Vem comigo um dia desses, pra você "se vingar" dele e se divertir.
        
         Tentei alegrá-la com essas palavras, das melhores maneiras, mas algo assustador (pra mim) saiu de sua boca:

-Não. Ele morreu.
        
         Senti-me empedernido, insensato, desumano, sem ter pra onde ir, sem ter o que fazer, sem ter onde me esconder.

domingo, 7 de novembro de 2010

Poemas

"O amor é uma coisa mais profunda que uma transa sensual"
(Belchior)

Para Minha Amada

Não penses que seremos uma só coisa
Meus ossos são meus ossos
Teu sangue é teu sangue
Cada um de nós tem um corpo
Não caia nessa ilusão de que seremos um só
Seremos unidos, claro, mas jamais uma unidade
Não alimente essa idéia de nos transformar
Num ser hermafrodita
Não me resuma a ti
Que eu não ti resumirei a mim

Não quero ser como você
Pois odeio teu jeito de andar
Odeio os livros que lês
Os filmes que vês
E os lugares aonde vais
Não suporto quando acordas irritada
Nem quando estás com sono
Quando a noite se põe a nosso favor

Porém, não se esqueça
Que eu amo te odiar
E me apaixono muito mais quando estás insuportável
Mas não, não alimente essa idéia de nos transformar
Num ser hermafrodita
Seremos unidos, claro, mas jamais uma unidade
Sabe por quê? Pense bem, meu bem:
“Diferença não significa Separação”

Thiago Damasceno

Eu Nem Queria Que Tu Lesses Este Poema

Eu nem queria que tu lesses este poema
Nem tudo que escrevo carrega um aprendizado
Nem tudo que escrevo pode ser aproveitado

Eu nem queria que tu lesses este poema
Ele me deixa nu bem na tua frente
O meu segredo mais guardado se faz presente

Eu nem queria que tu lesses este poema
Com ele posso virar motivo de chacota
Posso ser classificado como poeira debaixo de porta

Eu nem queria que tu lesses este poema
Pareço um idiota procurando um sentido
Ou então uma criança chorando em um castigo

Mas vendo por outro lado
Podes me achar sábio ao ler este poema
Ou simpático, talvez até belo...

Ou podes me achar louco
Antipático, ou muito feio.
Pensando bem...
Eu nem queria que tu lesses este poema

Thiago Damasceno

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Fábulas

         Agradeço aos seguidores do blog e a todos os usuários pela atenção. Com vocês, duas fábulas tiradas da árvore da minha imaginação.

 "A Fábula é uma pequena narrativa que, sob o véu da ficção, guarda uma moralidade".
(La Fontaine, poeta e fabulista francês do século XVII)

O Leão Estressado
Por Thiago Damasceno
        Todos os dias o leão corria atrás do rebanho de búfalos e comia um daqueles grandes animais. Três hienas sempre o observavam a distância e esperavam ele ficar de barriga cheia para irem comer os restos dos búfalos. Às vezes sobrava carne, outras vezes, só ossos, mas elas sempre devoravam as sobras de comida do leão. Acontece que a relação entre o leão e as três hienas não era das mais amigáveis. Mesmo deixando as carcaças dos búfalos, o leão se zangava com as hienas que não tinham coragem de caçar e apenas esperavam ele se satisfazer com sua comida para poderem satisfazer a si mesmas. Quando elas iam sedentas comer o que o leão deixava, ele se retirava irritado:

-Covardes! Nojentas! Só não devoro vocês aqui mesmo porque já estou de barriga cheia! Não lhes suporto mais!
       
        A mais atrevida das hienas retrucava:

-Entenda uma coisa Rei da Selva, os covardes também precisam matar sua fome...
       
        O leão sempre voltava para casa estressado e não tratava bem à leoa, seus filhotes e os vizinhos. Se irritava com eles e estava sempre a reclamar da vida. A leoa já sabia que quando ele retornava do almoço, seria sempre a mesma irritação. Cansada daquilo tudo, ela lhe disse:

-Meu bem, não adianta mais viver assim! Veja como envelhecestes! Estás doente devido àquelas hienas. Sugiro que procure ajuda com a sábia coruja.
       
        Ouvindo sua esposa, o leão foi até a coruja e perguntou como ele poderia sanar sua relação ruim com as hienas, não se perturbar tanto com elas e não jogar essa carga em cima dos outros que não tinham ligação com os acontecimentos. A coruja lhe respondeu:

-Não te irrites tanto com elas, já que elas comem o que tu não queres mais comer.

        E acrescentou:

-Não vale a pena se estressar com seres que passam uma parte do dia com você. Teus dias e tua existência não dependem tanto deles.



A Raposa Que Ouvia Pensamentos
Por Thiago Damasceno
         Era uma vez uma raposa muito esperta e curiosa. Andava sempre lendo livros, que roubava das bibliotecas dos humanos, e também lia as “páginas da natureza”, observando o cotidiano dos outros animais. Rondava um boato pela selva que dizia que ela substituiria a coruja quando esta morresse. A coruja era considerada a mais sábia entre todos os animais. A raposa já tinha então fama de esperta, inteligente e estudiosa, mas sua curiosidade não acabaria por aí. Após alguns dias de reflexão ela empenhou-se na busca do que ela chamava de “a maior das inteligências”. Perguntou a muitos animais: ao leão, ao elefante e à hiena, mas não obteve respostas satisfatórias.  Finalmente ela perguntou à coruja, que com toda sua sabedoria, lhe respondeu:

-A “maior das inteligências” deve ser e deve estar na inteligência reunida de todos os animais.
        
        Não era segredo para ninguém que a coruja ensinava por meio de parábolas, fábulas, poemas, enigmas, etc. A raposa começou a pensar na espécie de “inteligência reunida” e chegou à conclusão de que deveria saber o que se passava na cabeça de todos, ou seja, precisava ouvir os pensamentos dos outros animais, juntá-los, e assim teria a “maior das inteligências”. Ela foi novamente à coruja e perguntou, cheia de confiança na sua esperteza:

-Mestra Coruja, o que eu devo fazer para conseguir ouvir os pensamentos de todos os outros animais?

-Fizeste agora a pergunta de forma mais direta. Como sou conhecedora de muitas coisas, tenho essa resposta na ponta do bico, mas preciso perguntar primeiro se queres mesmo esse dom.

-Sem dúvida, se isso me levar a ter a “maior das inteligências”, por que não?

-É uma escolha difícil de fazer, pense bem.

-Difícil para quem tem preguiça de buscar sempre mais de si mesmo.

-Tudo bem, vejo que você já decidiu. Existe uma fonte sagrada à 2 km da Grande Árvore. Beba sua água numa noite de lua cheia e você terá esse dom.

-Obrigada mestra, muito obrigada mesmo.
        
        A raposa até que foi educada, mesmo sendo arrogante, porém, no seu íntimo, ela sorria, pois iria ouvir e memorizar até os pensamentos da coruja e se tornar então, a mais sábia dos animais.
        Numa noite de lua cheia ela vagou pela selva até encontrar a Fonte Sagrada. Ela bebeu sua água e no mesmo momento milhares de vozes vieram à sua mente. Ela percebeu que estava ouvindo todos, como se estivessem conversando com ela, mas eram pensamentos alheios que invadiam sua cabeça. Ela entrou em desespero, mas viu que precisava se acostumar. Ela precisava controlar aquela chuva de pensamentos, idéias e opiniões. A raposa passou um mês isolada numa gruta numa espécie de treinamento. Após controlar seu poder e aprender a ouvir mentes isoladas e meditar sobre as reflexões dos outros, desde uma formiga a um elefante, ela resolveu sair e experimentar seu poder na prática. Ela queria saber o que os outros pensavam e tirar vantagem de tudo. A curiosa raposa pensava que a dor de receber esse poder era seu preço, mas se ela tivesse a sabedoria da coruja saberia que o preço era outro... e bem mais caro.
         Depois de alguns dias tendo conhecimento das opiniões dos outros animais, a raposa estava frustrada. Ela absorveu muitos fatos que cada animal aprendeu, é claro, mas ela também soube que a maioria deles não a suportava e odiavam sua curiosidade, não pela sua sede de conhecimento, mas pela sua vontade de ser melhor que os outros. Falavam com ela só por falar e com muita falsidade, pois preferiam tê-la como amiga, ainda que na aparência, do que tê-la como inimiga.
        A raposa então viu que a maioria dos animais não eram burros, como antes pensava e também viu que vivia numa selva cheia de mentirosos com suas segundas intenções. Ela nem quis conhecer os pensamentos da coruja, pois estava em tamanho desespero que apenas chorava. Alguns animais vinham ajudá-la, como pose, mas ela sabia dos seus pensamentos mais sinceros:

-Tomara que dessa ela não passe!

-Nem sua esperteza poderá lhe salvar!

-Sem essa rabugenta metida à besta, viveremos mais tranqüilos!
        
        Ela não suportou essas afrontas e se jogou do mais alto rochedo. Quem presenciou sua queda foram apenas os pensamento alheios que nem sabiam por quem eram ouvidos. No fim, a coruja estava certa em saber o local exato da fonte e não bebê-la, pois a curiosidade mataria o gato, como diz um velho ditado, mas nesse caso, matou a raposa.

Se desejas saber o que os outros pensam, certifica-te primeiro se estás preparado para ouvir, suportar e conviver com as opiniões alheias.