ThiagoDamasceno: maio 2016

terça-feira, 31 de maio de 2016

Crônica: Existo, Logo Encriseio

Existo, Logo Encriseio

Por Thiago Damasceno

Náusea: essa palavra estranha e elegante menciona bem o atual clima do país. Não há Jean Paul Sartre que discordaria disso. Crise ou crises? Tanto faz, o pouco e o muito, o implícito e o explícito, o bom e o mau, celestiais e satânicos, direita e esquerda, feministas e machistas, marxistas e culturalistas... estão todos em crise. Primeiro existimos, depois entramos em crise.

            Falo da crise política, moral, intelectual, etc. Toda essa bagunça no país invade o interior. Se o exterior fica instável, o interior também. Quase entrei em depressão após aquele funesto domingo em que a Câmara de Deputados votou pelo prosseguimento do impeachment. Concordando ou não com o governo de Dilma Roussef, é fato que nosso corpo político-legislativo é, predominantemente, sujo, burro, cretino, safado, bandido. Mau caráter.

Não citei o termo “crise econômica”. Será que há mesmo essa dita cuja? E se houver, pra quem há? Quando os bancos lucram milhões a menos, mas ainda lucram milhões, será que estarão mesmo em crise econômica? E nós, habitantes da galáxia classe média, e os habitantes do buraco-negro classe baixa (de onde não se sai), estamos de fato em crise econômica?

            Primeiro o Ser existe e só depois se define, se inventa, se reinventa, e nesse processo contínuo sempre há crises. Podemos jogar todas no saco das “crises existenciais”. Viver é isso: nascer e morrer a cada dia, e renascer; comprar em demasia, correr o risco de dever além do valor do salário; se perguntar onde, quando e para quê; votar em bandido; ter medo da polícia e ligar pra ela nos momentos de desespero, ler Nietzsche e ler a Bíblia; ser preconceituoso e sofrer preconceitos, ser macho e ser fêmea, crer na ciência e crer na Astrologia, ser consciente e ser inconsciente, tantos seres em uma só relação de amor e ódio entre corpo e mente.


            Enfim, existo, logo encriseio.