ThiagoDamasceno: fevereiro 2011

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Portuguesando: "Gincho", "Flôr"

        Eis a segunda postagem da mais polêmica seção deste blog. Estou com bastante material, mas antes de escrever sobre eles preciso ler mais algumas coisas para explicar as coisas de maneiras mais clara. Sabe como é né? São tantas coisas...

Thiago Damasceno

Não Estacione



        O aviso “GARAGEM – SUJEITO A GUINCHO” está gramaticalmente correto. Eu já vi garagem com j (garajem) e “SUJEITO À GUINCHO”, o que é incorreto, pois não se usa crase antes de palavra masculina. Guincho, no caso.

Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
       


        Mais uma vez, por motivos éticos, não tirei a foto de toda a fachada da loja. Tirei apenas do nome, que é o que nos interessa. Apesar de se pronunciar um “o”  fechado, “flôr”, a grafia adequada é “flor”. Pra não dizer que não falei das flores...

Até semana que vem, com a estréia da seção Filosofia...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Diário II

Um Dia Como Hoje II

O Segundo Diário De Uma Banda Chamada Cidade Muda

Por Thiago Damasceno
Texto escrito na Segunda-Feira, 31 De Janeiro de 2011

 As únicas pessoas que realmente me interessam são as que estão loucas: loucas para viver, loucas para falar, loucas para salvarem-se, que querem tudo ao mesmo tempo agora, que nunca bocejam ou dizem alguma coisa corriqueira”.                                                                                    
 (Jack Kerouac, escritor beat norte-americano)

“Se aconteceram coisas boas ou ruins, não importa, todas são histórias para contar”.                                                                                                   
 (Orlean´s Silva & Thiago Damasceno)
        
         Caso você não tenha lido o primeiro diário da Cidade Muda, aconselho a lê-lo antes de ler este, sua segunda parte. A primeira parte está nas postagens de Janeiro, intitulada Um Dia Como Hoje I: O Diário De Uma Banda Chamada Cidade Muda.

Quinta-Feira, 26 De Janeiro De 2011
        
         Acordei com a sensação de “hoje não estou com muita vontade de tocar”, mas resolvi tocar no bar Massas & Cia à noite, já que estava tudo marcado com os organizadores e público. Para falar a verdade eu estava inseguro, e para falar a verdade mais uma vez, minha insegurança e mal estar mostraram-se verdadeiros desde o final da tarde ao final da noite.
       
         Além do assalto, o primeiro show repercutiu pelo repertório e som, incluindo a gaita e a vontade de todos os músicos durante as execuções musicais. Mas nesse segundo show as coisas seriam diferentes...
        
         Heitor, nosso multi-instrumentista, precisou voltar para Brasília. Isso já foi um déficit para a banda, já que deveríamos fazer no mínimo uma apresentação tão boa quanto a primeira, mas dessa vez sem a companhia, voz, violão, percussão e gaita de Heitor. A nova formação foi composta por mim (voz e violão), Orlean´s Silva (guitarra), Luciano Noleto (voz), Ítalo (violão) e Bruno (violão). Bruno não pode tocar devido a eventos familiares que aconteceram em sua residência, mas essa pequena falha foi a menor falha daquela noite. O pior estava por vir... Pensando numa apresentação melhor que a primeira, apostamos no repertório e ensaios, caprichando mais em algumas músicas. O efeito não foi como esperamos. Já diziam os Titãs, “é mais difícil manter o sucesso do que chegar e ele”. Se não disseram exatamente isso, disseram mais ou menos isso.
        
          Nosso amigo Gleidson, tecladista da primeira formação da banda Blackout, nos emprestou sua mesa de som. Passei na sua casa à tarde para pegá-la. Eu já tinha combinado com Orlean´s, Luciano, Bruno e Ítalo para passarmos o som à tarde, por volta das 16 horas no Massas & Cia. Nosso amigo Gabriel também nos ajudou nessa empreitada. Vejamos agora as tensões que talvez tenham ajudado a baixar a qualidade do nosso segundo show.
         Um dos músicos estava se mostrando distante e evasivo desde o ensaio de quarta-feira, quando precisamos passar algumas músicas. Comecei a ficar de olho nele. Naquela tarde de quinta, ele demorou para arrumar seu instrumento e simplesmente faltou à passagem de som porque foi para um lugar que não deveria, tal lugar poderia ser frequentado por ele em outro dia. Assim que ele estava indo para esse lugar, eu e mais dois músicos estávamos passando o som. Vimos tal cidadão indo para esse lugar de bicicleta passando pela rua perpendicular à Avenida Elias Barros. Gritei-o e pedi que fosse até nós. Ele foi, mas disse que iria para esse outro lugar. Eu falei:

-Mas bicho, a gente tem que passar o som!
        
         Ele deu mais algumas desculpas esfarrapadas e se foi. Me irritei e gritei antes que ele saísse do meu campo de visão:

-Fulano! Vai tomar no cú!
        
         Alguns funcionários que estavam no bar se assustaram e outros riram. Estava feito. Ajudei a plantar um conflito na banda, justamente no dia de uma apresentação.
        
          Eu dizia que se dependesse de mim, esse membro não tocaria conosco, mas foi inevitável sua participação na hora do evento. Começamos por volta das 21 horas. Já havia um bom movimento no bar. Começamos com o pé errado quando Orlean´s disse:

-Moço, tem energia aqui não, solta um grito!
       
         Então eu gritei ao microfone e imediatamente começamos a tocar O Passageiro, do Capital Inicial. Gritei ao microfone como se estivesse no Rock In Rio. Havíamos regulado o som à tarde, mas ele mostrou problemas. A guitarra de Orlean´s gritava mais que atriz pornô, o microfone de Luciano falhava mais que tentativa de paz no Oriente Médio e estávamos sem retorno, consequentemente ninguém se ouvia direito. Eu não ouvia meu violão e microfone, e com isso, tocava e cantava mais alto para poder me ouvir, amplificando assim a má equalização do som. Em termos de som, o show foi ruim. Em termos de algumas músicas... também. Inventamos versões muito rápidas para músicas que tocamos com violão e guitarra como Meu Erro do Paralamas do Sucesso e uma versão semiacústica de Bichos Escrotos do Titãs. Saiu horrível. Pelo menos fizemos jus ao seu nome, porque essa versão foi bem escrota. Houve muita tensão da plateia e do dono do bar ao nos ver e ouvir berrar o “vão se foder”! do refrão. Hoje eu me pergunto onde nós estávamos com a cabeça para tocar Bichos Escrotos num típico barzinho.



         Quero lembrar que eu não tinha tanta noção das péssimas qualidades do som e das interpretações musicais. Só escutava os amigos de uma mesa próxima dizendo que não estava tão bom. A plateia estava muito parada e muda. Levaram o nome Cidade Muda muito a sério. Ninguém aplaudia, nem nada. Só deram sinal de vida na hora de Bichos Escrotos com olhares de desaprovação (alguma reação pelo menos). Por causa disso eu falei ao microfone: “Depois que queria saber quem morreu porque vocês estão muito quietos”. Essa foi mais uma das besteiras que eu disse no dia. Um dos pontos altos da apresentação, se é que ela teve pontos altos, foi quando eu e Orlean´s tocamos nossa canção, chamada Cidade Muda. Eu disse brevemente que ela fala sobre o relativo descaso das autoridades políticas com Carolina e de certos problemas sociais. Coisas que todos os carolinenses sabem, mas que por meio do voto continuam mantendo um sistema político bipolar que apenas leva ao regresso da cidade.  Eu disse que a canção poderia ser levada como canção de protesto ou de amor. Mas será que poderia mesmo? Tocamos nossa criação e um cara bêbado que estava na minha frente a achou legal. Ele conhecia tudo que era rock que tocamos e levava todos os erros na brincadeira.
         
         Outras coisas foram engraçadas, como quando erramos a introdução de uma música e paramos sua execução para trocar os instrumentos. Eu disse: “Isso acontece nas melhores bandas”. Nosso amigo Eduardo, vulgo Dudu, falou apenas para quem estava na sua mesa: “E nas piores também”... Depende do referencial, depende do referencial...
        
         Por volta das 23 horas eu saí e deixei os outros rapazes tocando. Foi então que vi a péssima qualidade do trabalho e vi o tamanho do buraco em que tínhamos nos metido. Eu fui até Zezinho, o dono do bar, e perguntei:

-A gente pode encerrar meia-noite? Porque o som tá dando problema.
        
         Não foi exatamente uma mentira, foi uma aceleração para o término do nosso tosco trabalho para não prolongar a desgraça musical que havíamos criado. Encerramos então à meia-noite. Ninguém reclamou. Diferente do primeiro show, no qual precisamos tocar várias ”saideiras”. Eu não disse? O povo levou a sério o nome Cidade Muda. De cabeça baixa, lamentamos muita coisa. Um pensamento meu e de Orlean´s resume o que houve: “A gente tava sem retorno, o som tava ruim, a gente não interpretou, ninguém aplaudiu, ninguém vaiou, ninguém disse nada, a gente não tá aqui, o público não tá aqui e não aconteceu nada”.

Sexta-Feira, 27 De Janeiro De 2011
        
          Guardamos nossos instrumentos e caixas de som em nossas sonolentas residências e voltamos para o Massas & Cia para comer. A turma era composta por mim, Luciano, Orlean´s, Gabriel, Dudu, Leonardo e Ítalo. Perto da nossa mesa, havia uma pequena caixa de som com um grande incômodo ao tocar forró elétrico, technobrega ou sei lá o quê mais. Fui para outra mesa chamando os caras. Só Ítalo me acompanhou. Na mesa que sentamos havia uma moto perto com o mesmo tipo de som. Resolvi voltar e quando me levantei, encontrei um celular no chão. Eu e Ítalo mexemos nele, mas não desvendamos seus mistérios. Nem conseguimos desbloquear seu teclado. Era um celular caprichado... Ou então nossas mentes estavam abaladas pela escuridão da noite. Voltamos para a mesa onde a maioria da galera estava e Gabriel conseguiu desbloquear o teclado do celular. Alguém ligou e eu atendi. O celular era de uma tal Sabrina. Seu amigo veio busca-lo minutos depois. O engraçado é que quando Ítalo voltou comigo para a mesa da galera, ele esqueceu sua câmera digital na mesa em que nós dois sentamos, aquela em que achei o celular. Minutos depois Zezinho encontrou sua câmera na mesa e devolveu a ele. Coincidências do Destino?
        
         Procurando rotas que nossos pés pudessem beijar, fomos para a Praça da Prefeitura, como na vez anterior. Tínhamos lá a solidão como companhia. Orlean´s que estava calado e sisudo, segundo ele, “entrando em sintonia com o universo”, começou a gritar. Dudu o acompanhou. Dei alguns gritos também. Isso tudo virou uma espécie de “Competição de Gritos” às duas da madrugada numa praça pública. Eu fiquei em 3º lugar, Dudu em 2º e Orlean´s em 1º.  Me interessam os loucos, me interessam os loucos...
        
         A maioria da galera foi para casa instantes depois. Fiquei sentado num banco com Ítalo e Luciano. Ouvimos um carro próximo que estava tocando Scorpions. O carro estava estacionado no Hot Center, um bar lá perto. Ítalo resolveu checar o movimento. Fui embora com Luciano. Antes de nos separamos, vimos um inseto esquisito junto a um saco de lixo num poste. Segue abaixo a sua foto:




         Não me arrependo do que fizemos musicalmente, mas eu não faria de novo. Sei que é clichê, mas aprendi com os erros, até fiz uma lista desse aprendizado:

01 – Nunca toque sem retorno de som.

02 – Se você não sabe equalizar o som numa mesa de som, procure alguém que saiba.

03 – Não faça versões acústicas de canções “pauleiras” como Bichos Escrotos (a não ser que você tenha um bom número de instrumentos).

04 – Toque músicas de acordo com o ambiente no qual serão tocadas.

05 – Como artista, exiba o seu estilo e até se imponha, mas lembre- se que o público não é obrigado a engolir qualquer coisa.

06 – Gritar numa praça pública às duas da manhã não dá cadeia (pelo menos em Carolina-MA).

07 – Bons ou ruins, todos os fatos vividos são histórias para contar.

08 – Leve contigo os estragos da noite e tente aprender pelo menos 7 coisas deles.
        
         O próximo diário da Cidade Muda será em Julho, quando todos os seus membros voltarem para sua cidade natal e resolverem tocar de novo, mas dessa vez, com mais instrumentos. Ouvi dizer que alguém tocará gaita, outro tocará percussão e outro tocará flauta doce. Vai se saber né? Só Julho dirá, só Julho dirá...  
        
         A Cidade Muda agradece a todos que foram ver seus shows, entraram na comunidade e fizeram pedidos (serão todos atendidos em Julho) e que leram os diários. Um abraço musical e até a próxima. Quem sabe nossos caminhos se cruzam nas curvas dessa Infinita Highway...