ThiagoDamasceno: setembro 2012

domingo, 30 de setembro de 2012

Crônica: Compra e Venda de Voto: Fenômeno Cômico e Sem Sentido


Compra e Venda de Voto: Fenômeno Cômico e Sem Sentido

Por Thiago Damasceno

        
Como em todo tempo de eleição, o tema “comércio de votos” é comentado da cidade mais interiorana à camada mais longínqua da atmosfera, a Exosfera. Muitos falam que é crime, mas falarei disso de outro modo. O que eles também chamam de crime eu chamo de palhaçada e coisa sem sentido. Amigo leitor, por favor, acompanhe meu raciocínio.
        
O comércio de votos consiste no fato de um candidato oferecer um bem ou serviço material a um eleitor para que o eleitor vote nele. O eleitor vende seu voto e o candidato, ou algum partidário do candidato, paga por esse voto. Mas qual a garantia dessa transação?!

Nenhuma, como bem sabemos...

Ninguém vê pra quem os eleitores votam. As urnas eletrônicas ficam numa posição que deixam o usuário de costas pra uma parede sem portas ou janelas. Além disso, os eleitores recebem um comprovante de votação, não de voto. No comércio eleitoral, eu não sei quem é mais burro, se o candidato, que dá alguma coisa ao eleitor, confiando demais no eleitor com seu voto que fica em segredo, ou se o eleitor, que mesmo sabendo que apenas ele saberá o seu voto, pensa em votar ou vota no candidato por uma questão de “honestidade” ou “ética da corrupção” ao que parece.

Claro que há muitos eleitores espertos que “vendem” seu voto, mas terminam votando em quem quiser, mas falo dos que cumprem a aliança com o candidato e votam no candidato que “comprou” seu voto, mesmo que o candidato não possa ter certeza do voto. Afinal, se ele perder ou ganhar, como ele vai fazer um balanço mais específico e profundo além de saber o número de votos que ele recebeu por seção?

O engraçado nisso tudo é justamente isso: nesse campo de incertezas e desconfianças cria-se um certo pacto de fidelidade onde ambos, candidato e eleitor, acabam “confiando” um no outro. Confiam num voto invisível. Tudo no campo do “ninguém viu”, “ninguém pode provar”, mas se faz um trato. É uma situação absurda e um tanto surreal. Um enredo digno de um conto fantástico.

          Indago novamente: quem é mais burro no comércio de votos, o candidato ou o eleitor? Ou a relação se baseia na confiança mesmo ou na confiança às aparências. Nessas horas o ser humano consegue tais proezas, tais absurdos.  Francamente, é triste... Como pensaria Albert Camus: “É um absurdo!”.  

domingo, 23 de setembro de 2012

Besteirol: Espelho, Espelho Meu

Espelho, Espelho Meu... Parte 02

Por Thiago Damasceno

            Dando continuidade ao “ócio produtivo” via Photoshop, mais algumas comparações visuais. Nas comparações 4 (Hulk e Blanka) e 6 (Ana Maria Braga e Pe Lanza), os donos das ideias são, respectivamente, meu camarada Pedro Rosa e o site Kibeloco. As demais comparações são minhas.


Papai Smurf: Idoso-propaganda do PT!


Parece que Stan Lee e James Cameron andaram trocando umas ideias... Tomando um chazinho sustentável juntos...


Personagens que exemplificam o clássico arquétipo do Velho Mestre ou Velho Sábio, presente em vários mitos do mundo e adaptado à Literatura e ao Cinema.


 Dupla pra vilão nenhum botar defeito!



Vale ressaltar que Francis Ford Coppola está jovem nessa foto. E lembrando que Renato Russo sempre cantava “Vamos fazer um filme...”


E pra acabar com a farinha de puba do Maranhão e com os pequis de Goiás...




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domingo, 16 de setembro de 2012

Crônica: Velha Roupa Colorida

Velha Roupa Colorida
Por Thiago Damasceno

           
Era manhã de quarta-feira quando saí pela cidade pra comprar umas roupas. Roupas banais pro dia a dia. De volta a casa, aproveitei pra separar as roupas que ainda iria usar das roupas velhas que eu poderia vender prum brechó. Enfim, organizei o guardarroupa e percebi que cada roupa conta uma história.

Uma blusa do Pink Floyd que há tempos não usava só me lembrou as férias de julho de 2009 em Carolina, especificadamente num dia em que saí de bicicleta com os amigos rumo à região conhecida como Bom Jardim, principalmente prum lugar chamado Paredão pra banhar no rio. Isso não aconteceu mais.

Uma bermuda muito grande que ganhei de presente de aniversário e que nunca usei ainda se mantém nova. Ela não faz meu estilo. Nunca mais recebi outra igual. Uma blusa entre as preferidas, dada por uma ente querida há tempos distante, ainda marca presença no guardarroupa. Nunca mais apareceu alguém semelhante.

Esses objetos ativaram minha memória.

Um pensamento oriental diz que é sempre bom renovarmos as energias da casa tirando objetos velhos. Se eu acreditasse nisso diria que estava tirando a “energia suja” do quarto jogando fora umas roupas velhas e que algumas roupas velhas ainda foram deixadas no quarto com suas energias negativas talvez por mero apego humano de não querer jogar fora as histórias que elas contam.

Ainda velha, mas que eu sempre uso, minha blusa hippie, toda colorida, semelhante a que o grande cantor Joe Cocker usou no Festival de Woodstock, em 1969.


Como graduando em História, iniciei meu estágio este ano. Estou na fase de “regência”, onde ministro aulas, no meu caso, pro nono ano de uma escola estadual. Trabalho os temas da Guerra Fria com música e um dos temas que trabalharei será o movimento hippie. Li sobre a juventude da época, indústria cultural, música e outros temas. Quando vejo minha velha blusa lembro de Woodstock (marco do movimento hippie, da música jovem e da absorção do hippismo pelo capitalismo) e também do triste fato de que todo aquele sonho, aquele euforia e desejo de mudança de uma geração foram assimilados pelo capitalismo, sendo vendidos. Blusas hippies são a prova disso. O “poder das flores”, o “Verão do Amor”, a “Paz & O Amor”, “A imaginação ao Poder” são temas, slogans e ideias que viraram mercadoria. Lembro de John Lennon dizendo: “O sonho acabou”.

O sonho acabou e estamos agora acordados, mastigando assuntos que começaram a entrar nos debates públicos nas décadas de 1960, 1970: pacifismo, aborto, feminismo, drogas, meio ambiente, misticismo, etc, etc, etc. Será que nossa geração tem o mesmo desejo de mudança, o mesmo desejo de renovação, de reorganizar seu guardarroupa quanto as gerações anteriores?

“Você não sente nem vê, mas eu não posso deixar de dizer meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
E o que há algum tempo era jovem novo, hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer!”

(Belchior, Velha Roupa Colorida)



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sábado, 8 de setembro de 2012

Conto: Aline


Aline
Era uma noite de sábado, ele estava preparando-se para sair, banho reforçado, sabonete, xampu, música, creme dental, enxaguante bucal. Já no quarto, a melhor calça, a camisa, o perfume eram escolhidos a dedo. No espelho, preparação era feita minuciosamente, uma boate o esperava. Desceu, decidiu ir a pé, era perto, estava cedo, no céu as estrelas ajudavam a clarear o caminho, já que os postes estavam a maioria com defeito, no chão o pavimento precisava ser trocado, por algum motivo as árvores pareciam tristes, as latas de lixo transbordavam e em alguns pontos o odor era insuportável, havia muitas pessoas nas calçadas, pareciam expectadores de quem passava pela rua, em sua cabeça uma música não saía e os carros passavam rápido, parece que todo mundo estava indo à festa. “Será realmente boa”, pensou.
         
        Alguns quarteirões abaixo da rua de sua casa o estacionamento lotado denunciava a boate, luzes ofuscantes, barulho, pessoas escandalosas, risos frouxos enchiam as calçadas por onde se passava, ele parou porque estava começando a suar, queria causar boa impressão, passou pela portaria, pagou seu ingresso, estava só. Já do lado de dentro flashes flutuantes, ensurdecedor era aquele lugar, tão ensurdecedor quanto acolhedor, ele se sentia em casa. Já com um copo de bebida na mão começou a dançar timidamente, como quem não queria chamar atenção para si, mas na verdade seus olhos estavam passeando sobre o local, observava as roupas, as esquisitices de alguns, como se escaneasse cada pessoa, estava à procura de alguém que lhe fosse interessante, queria encontrar amigos para beber, enfim conversar.
    
         No meio da multidão, então, a música alta lhe fazia quase que entrar em um transe, era realmente ensurdecedor, de repente um empurrão e um pedido de desculpas, era um anjo, um sorriso, foi o que ele viu primeiro, o mundo girou e tudo silenciou, ele pôde ouvir cada fonema do seu pedido de desculpas. Era o som mais lindo, mais macio, a voz mais adocicada que ele já ouvira, cada dente milimetricamente alinhado, brancos, em um deles havia um piercing, no canino esquerdo pra ser mais exato. Em volta dos dentes moravam dois lábios rosados, os mais lindos que ele já tinha visto, em volta corria uma linha sutilmente acentuada, parecia desenhado a mão, cada centímetro era exatamente perfeito e um brilho que não se via em canto algum. Na subida do olhar, o rosto todo, o conjunto, uma pintura.
           
      Era amor, em três segundo do esbarrão até aqui já era possível perceber, aqueles cabelos, pareciam castanhos, os flashes não o deixava ter certeza, no quarto segundo olho no olho, e a certeza de que era amor sim, ele sabia, pois sua íris dançava uma valsa circulando por ao redor de todo o rosto dela, foram os seus cincos segundos mais lindos e proveitosos, ele estava realmente feliz e um sorriso brotou quase que involuntariamente de seus lábios. Ela retribui com a mesma moeda, naquele instante o coração dele sapateava dentro de si, ele entendeu que era ela.
         
-Oi, disse ele, novamente com a mesma moeda veio a resposta.
        
 -Você aceita?  Mostrou o copo com um leve sorriso de canto de boca.
       
  -Sim, disse ela.
         
         Aquelas palavras fizeram o mundo dele girar, ele de alguma forma mística sabia que ela sentia o mesmo, ele sabia olhando no ventre daqueles olhos que pareciam negros, ele tinha certeza pelo tom de voz que saia da boca dela. Ele estava realmente feliz, mesmo com apenas segundos com ela. Sem mais delongas a chamou pra ir para o lado do salão onde o fluxo de pessoas transitando era menor, e para sua mais infinita alegria aquele ser tão perfeito e admirável aceitou.
         
       Dois minutos de conversa, nomes trocados, hobbies, música, enfim, se conheceram, riram, se olharam, e do nada o primeiro beijo aconteceu, seus lábios se aproximavam um do outro e ao se tocarem uma cena passou na mente dele, todas as vezes que ele tinha desejado ser feliz, naquele momento ele descobriu porque nada em sua vida tinha dado certo até aquele dia, todas as decepções, todos as noites em claro sonhando com a paz dentro de si, todo o desejo de ser compreendido... Ele soube o porquê ele era infeliz até aquele instante, e simplesmente era porque ela não estava lá, mas agora estava, o seu mundo estava completo. Enquanto isso o seu mundo girava, tudo ficava leve, ainda bem, pensou ele, já que suas pernas estavam bambas, as mãos escorriam pela nuca dela, passando lentamente e sentindo a textura daqueles cabelos, era de fato a melhor sensação de sua vida, era de fato o início de sua vida de verdade, era de fato amor.
          
          Cada beijo tinha um gosto diferente, uma sensação distinta, às vezes ele sentia vontade de correr, outras vezes desejava somente ficar ali, mas uma coisa era certa em todas as vezes, era como se ele desejasse ir para dentro dela, sentir o seus batimentos, morar no interior do ser que lhe trazia mais felicidade no mundo. Ele não conseguia se perdoar por não ter a conhecido antes, por não ter sido feliz antes. Como ele conseguiu viver seus vinte dois anos sem ela, ele não sabia, mas ele se perguntava isto o tempo inteiro. De repente ele a abraçou forte, olhou naqueles olhos, e distorcendo um velho ditadinho clichê disse:
        
-Eu era infeliz e não sabia.
         
      Com um sorriso de orelha a orelha, ele pôde ver que ela sentia o mesmo, que era recíproco o sentimento de paz e felicidade, foram os vinte minutos mais felizes de sua vida. Ele sabia que ainda sonharia muitas noites com aquele sorriso, e que sem sombra de dúvida, o teria para si por longos anos.
         
         Então, do nada, ele virou sua cabeça para o lado e surpreendeu-se com um pedacinho do paraíso na terra, foi Deus que fez com que ele olhasse para sua esquerda, uma menina loira estava do outro lado do salão, aquela sim ele sabia que iria ser a mãe de seus filhos, a loira era linda, cada curva de seu corpo era surpreendentemente aquilo que ele sempre apreciou, era tudo aquilo que ele desesperadamente precisava naquele exato momento. Olhou no olho da garota que estava com ele e disse que tinha que ir ao banheiro, e foi atrás do seu sonho, da sua metade. O nome daquela loira era Aline, mas disto ele só ficou sabendo cinco minutos depois.



Silnei Nunes
Carolina-MA, 21 de abril de 2012