ThiagoDamasceno: Crônica: Carolina

domingo, 18 de dezembro de 2011

Crônica: Carolina

Carolina

        Há dias tenho sonhado com Carolina. Há dias tenho sentido saudade. Não só dela, mas também de todas as pessoas que ficavam à nossa volta. Ultimamente, andar sem sua companhia tem me doído os pés. Cada detalhe dela permanece vivo na minha memória. Às vezes tenho lembranças ruins, às vezes boas, às vezes tediosas, às vezes espetaculares e muitas vezes engraçadas. Fato é que com ela, já sofri de insônia e já passei noites bem dormidas. Nosso relacionamento é uma espécie de amor-ódio.

        Em um certo momento do meu passado, foi chegado o dia de ir embora. Velhas coisas novas me esperavam, mas como esquecer aquela que por tanto tempo me viu crescer? Carolina me viu cair e chorar quando criança, me viu assistir a invasão japonesa dos animes, me viu ler de HQ´s da Turma da Mônica aos romances clássicos. Carolina foi meu primeiro beijo, meu primeiro amor, minha primeira transa, meu primeiro “fora”, meu primeiro divórcio. Carolina leu meu primeiro poema, minha primeira letra e ouviu minha primeira canção. Carolina também me ensinou a falar sobre a existência alheia, a falar sobre a minha existência, a pensar no que é pequeno e no que é grande, a pensar no que é irrelevante e no que é de suma importância e principalmente me ensinou a pensar como se o pensamento não existisse: pensar por pensar. Por enquanto ficarei longe, indo vê-la de tempos em tempos, revivendo assim, as aventuras e desventuras do meu passado e presente.

        Entretanto, como um viajante mal-criado, como um rebelde ortodoxo teimoso, pretendo morrer onde nasci, pra fechar todo um ciclo que se iniciou em um certo mês de setembro. Pretendo repousar nos braços de Carolina quando estiver velho, assim como sentei no seu colo quando era menino.

        Carolina tem seus problemas. E quem não tem? Carolina tem suas qualidades. E quem não tem? Peço perdão aos viajantes, aos “pés na estrada”, aos “desenvolvidos”, aos “realistas”, aos filhos mal-criados, aos “progressistas” e aos que pensam que sonham em ir longe demais, pois meu futuro será regresso. Já aprendi que não há lugar como o lar em que se nasce.


Por Thiago Damasceno à sua cidade natal, uma cidadezinha qualquer com casas e mulheres entre mangueiras.
       




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