ThiagoDamasceno: Arte: Teatro

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Arte: Teatro

Coisas Que Aprendi Com O Teatro

Por Thiago Damasceno

          Este texto é um breve comentário sobre alguns aprendizados que adquiri durante duas oficinas de Teatro realizadas no segundo semestre de 2009 com os professores João Carlos de Oliveira e Carmen Machado e no primeiro semestre de 2010 com Guido Campos Correa, ambas no SESC de Anápolis-GO. Não discutirei conceitos, técnicas ou obras. Talvez eu esclareça algumas coisas a uns, inspire outros e ajude outros a pensar sobre o Teatro ou Arte em geral. Vale ressaltar isso, que ao se falar sobre uma categoria da Arte, também se fala um pouco de Arte no geral.
         
Em setembro do ano passado foi feita uma propaganda na faculdade onde estudo (e em muitas outras) sobre uma oficina de Teatro que abriria naquele mês, nas dependências do SESC. Desde a adolescência eu tenho inclinação para Arte. Ao ver a proposta de Teatro, pensei: “Vou experimentar, por que não?” Entra aí um ponto fundamental no mundo artístico, principalmente na contemporaneidade: experimentação. Fundamental não apenas para o Teatro, mas para a existência. Experimente, invente, faça, brinque. Não é proibido. Gostou? Ótimo. Continue. Não gostou? Tente outra coisa. Para que um personagem saia devidamente representado é preciso que o ator se doe, se aventure no seu papel. É por isso que todos podem ser atores, mas é preciso estudar, se esforçar, dedicar seu tempo, sua mente, seu corpo e sua voz à interpretação.


Quem assiste a uma peça e acha tudo muito lindo e perfeito, pensa que é sempre assim, mas o processo não é exatamente desse modo. Criar, dirigir, encenar, enfim, trabalhar uma e em uma peça dá muito trabalho, além de ocupar tempo (de uma forma excelente, claro). A Arte gera um cansaço físico e emocional, porém, o esforço vale a pena. Nada melhor do que ver uma plateia aplaudindo uma peça que você participou. Considero que a maior recompensa de um artista é ter sua obra vista, ouvida, lida, comentada e aplaudida.

            Segundo Marlon Brando, a “profissão” mais antiga do mundo é a representação, um conceito essencial para a Arte, que tem muito da noção de “recriar o real”. E sempre é bom lembrar que esse conceito de “realidade” é questionável. Brando também fala que a representação não ocorre apenas nos palcos, mas no dia a dia. Um político representa para ganhar votos, uma criança faz beicinho aos pais quando quer alguma coisa e muitos outros exemplos podem ser percebidos. Ele até se pergunta se há muita diferenciação, no campo da representação, entre os atores profissionais e os “atores do cotidiano”.
      

Além de fornecer uma base para pensar a Arte, o Teatro ensina a se ter mais consciência de si mesmo e expressão, tanto vocal quanto corporal. A tradição religiosa judaicocristã ocidental condena o uso do corpo. Alguns setores religiosos e conservadores da sociedade chegam até a censurar a dança e ver com maus olhos qualquer coisa que tenha relação com um corpo que não esteja “devidamente” vestido. Considero tais medidas um exagero e uma censura desnecessária. O corpo fala, se expressa, envia mensagens. Negar isso ou ao menos tentar fugir desse fato é horrível. Conhecendo a potencialidade corporal e trabalhando seu corpo, uma pessoa se sente mais integrada consigo mesma. Não é à toa que ioga significa “união” e essa prática oriental milenar pode ser entendido como um sistema de meditação feito através do corpo, auxiliando muito nas artes cênicas. O corpo é muito importante para o Teatro, pois é movimento e, com o perdão do clichê, movimento é vida.  Cecília Meireles canta em Canção Excêntrica: Ando à procura de espaço / para o desenho da vida / Em números me embaraço / e perco sempre a medida”.



Esse exagero tem a ver com o que a plateia verá. Imaginemos uma cena em que uma namorada ciumenta dá um tapa no seu namorado. Se essa cena for vista fora dos palcos, ela será interessante, porque os seres humanos adoram isso. Contudo, se essa cena for feita no palco, será preferível que seja exagerada, caso a peça seja de comédia, ou então mais trágica, caso seja uma tragédia ou drama. O que quero dizer é que entendo que o Teatro precisa ter um certo grau de anormalidade, de estranheza. Não faz sentido você sair de casa para ver algumas pessoas em cima de um palco fazendo coisas normais. Nossas emoções são muito reprimidas pelos nossos costumes e pela cultura em geral e os exageros das artes ajudam a liberar muitas emoções, tanto para quem faz quanto para quem assiste ou ouve. Exemplos disso são nossas lágrimas com filmes, músicas ou livros, ou estrondosas gargalhadas ao apreciar uma obra cômica. Talvez por isso seja tão agradável ver filmes, peças, quadros e ler livros, pois eles ajudam a libertar emoções que estavam presas no seu próprio portador.

            Como disse, este é um texto breve sobre o tema. Quem passou pela mesma experiência ou algo parecido, deve concordar comigo na totalidade ou em partes. Quem ainda não passou pelo Teatro, não basta apenas ler sobre, deve-se fazer. Também aprendi, logicamente, a me relacionar melhor com as pessoas e a consequência disso é uma porção de amizades que fiz.

Desejo boa sorte aos aventureiros da Arte com a divertida e velha saudação teatral: Muita merda pra você!





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