ThiagoDamasceno: abril 2014

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Crônica: Goiânia, Sua Fedida!

Goiânia, Sua Fedida!
Por Thiago Damasceno


Hoje acordei com uma lembrança: centenas de garis correndo e pulando e dançando e cantando de um lado pro outro recolhendo o lixo acumulado nas calçadas da minha rua. Era um verdadeiro musical, e olha que nem gosto de musicais. É alegria demais pro cotidiano porra louca. Mas voltando à lembrança... Levantei da cama e abri a janela do quarto e... Me deparei com os mesmos sacos de lixo. Foi tudo um sonho. Nada mais do que um sonho. E pra piorar, o lixo não está apenas na minha rua. Na verdade, AINDA há pouco lixo na minha rua.

            Se você que está lendo isto agora reside na capital do coração do Brasil, você sabe do que estou falando. Se não entendeu nada, digo logo que há dias o sistema goianiense de coleta de lixo está em crise. Sendo assim, montes e montes de lixos de todas as raças, gêneros, credos e espécies estão se amontoando pelas calçadas de vários – senão todos – os setores da cidade. Em algumas áreas o fedor é tão insuportável que gera ânsia de vômito; em outras, os moradores precisam queimar o lixo para afastar ratos, insetos e outras criaturas das profundezas das sombras; e em outras, colocam os sacos nos canteiros centrais da rua como forma de afastar o mau cheiro e como forma de protesto.  

            A história é longa, o discurso é enrolado: diz-se que o município está devendo uns poucos bilhões pra empresa responsável pelos caminhões de coleta, que alguns caminhões estão sendo restaurados e que a culpa de tudo é de uma grande horda de cidadãos inadimplentes. E no meio dessa bagaceira, o Ministério Público deu um prazo de dez dias pra que as autoridades “competentes” resolvam o problema.

            E o engraçado de tudo era que tempos atrás se defendia que Goiânia deveria sediar jogos da Copa... Os sacos de lixo devem estar torcendo pro Brasil também.

            Outra coisa engraçada é que, segundo imagens da TV Anhanguera, a rua do prefeito está sem lixo amontoado. Assim, o cidadão comum que trabalha pra pagar seus impostos, cuja parte vai pro salário dos administradores , pode ficar satisfeito.

            Isso tudo mostra um problema crônico da nossa cultura e da nossa forma de lidar com a política: falta de administração e planejamento. Sem mencionar a falta de vergonha na cara. Um serviço básico desses entra em crise numa capital do porte da jovem Goiânia, a mesma capital que os políticos irão vangloriar nas campanhas. Olhos atentos, meu povo e minha pova!


            Pra variar, um simples cidadão como eu – e como muitos – só quer (emos) uma coisa bem simples e que até certo tempo era corriqueira: que aquele sonho que falei no primeiro parágrafo vire realidade. 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Crônica: Dia Mundial do Livro

Livros, Books, Libros, Libri, Bücher, Livres, Biblía, Etc...

Por Thiago Damasceno
    
       
Hoje, 23 de abril, é o Dia Mundial do Livro, então resolvi escrever sobre minhas experiências com essa grande invenção da humanidade cada vez mais desumanizada, cruel e pós-moderna.

            Quando eu era do tamanho de um cachorro de médio porte, uma tia me deu uma coleção ilustrada dos contos de fadas clássicos. Eram doze livros. Meu preferido era O Gato de Botas. Lembro bem que nem sabia ler e escrever direito, estava no saudoso Jardim de Infância. Mesmo assim, lia o que dava do texto escrito, e acabava lendo mais as imagens do que as frases, e escrevia tudo, ou melhor, copiava as frases mesmo sem saber escrever algo coerente com mais de três palavras. Tempos mitológicos aqueles...

            Depois, quando eu pesava tanto quanto um filhote de Rotweiller, meu pai me deu a assinatura das HQ´s da Turma da Mônica. O tempo passou e as HQ´s amadureceram. Passei a ler a turma da DC e da Marvel Comics, ambas publicadas pela editora Abril. Preferia a galera da Marvel. Hoje, prefiro DC. Enfim, passei a infância com três assinaturas de HQ´s. Tempos de ostentação aqueles...

            Quando adolescente, descobri primeiro os autores clássicos do que as meninas. Lembro perfeitamente do ensolarado fim de tarde maranhense quando encontrei pela primeira vez a Biblioteca Comunitária Antônio Moreira de Paula, perto do colégio onde estudava. Foi amor à primeira leitura. E o melhor: o aluguel de livros era apenas R$ 2,00 a semana. Tempos de puberdade literária aqueles...

            Uma amiga mais velha tinha uma conta na biblioteca e peguei Drácula no nome dela. Bastaram poucos dias pra eu me autoavaliar profundamente tentando descobrir se eu era um vampiro ou não. Acho que não sou. Depois, conheci as aventuras de Sherlock Holmes, começando por O Cão dos Baskervilles, e em seguida descambei pra ficção científica de Arthur C. Clarke e suas odisseias espaciais. No começo, não curtia Harry Potter, mas depois cedi. E depois descobri um dos tesouros de nossa torpe raça permeada por vícios e hábitos medonhos: O Senhor dos Anéis. Tempos preciosos aqueles...

            Hoje em dia, no andar ansioso da juventude, leio mais obras do gênero fantástico, realismo mágico, terror e horror, e começo a escrever coisas nesse rumo (a postagem anterior é uma dessas coisas). Tempos maravilhosos estes. Alguns autores, nacionais e internacionais, estão entre os preferidos, mas aproveito pra destacar o Gabriel Gárcia Márquez e seu Cem Anos de Solidão. Podem até dizer que eu não li o livro todo – eu li – pois destaco a sua primeira frase: belíssima, saudosista, simples, mitológica e sei lá mais o quê:
MUITOS anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.

            Leiam até pensarem que este mundo se trata de ficção.

Gabriel Gárcia Márquez (1927-2014)



quarta-feira, 2 de abril de 2014

Psiquiatria: Comentando a Obra “Mentes Perigosas" de Ana Beatriz Barbosa Silva

Vizinhança Perigosa
Por Thiago Damasceno


“Meu caro Will, você já deve estar curado. Pelo menos do lado de fora. Espero que não esteja muito feio. Que coleção de cicatrizes você tem! Nunca esqueça quem lhe deu as melhores. E seja grato. Nossas cicatrizes têm o poder de lembrar que o passado foi real. Vivemos numa época primitiva, não, Will? Nem selvagens, nem sábios. O meio termo é sua maldição. Uma sociedade racional me mataria ou me utilizaria de alguma forma. Você sonha muito Will? Penso sempre em você.
Seu velho amigo, Hannibal Lecter”.
(Hannibal Lecter no filme “Dragão Vermelho”)

A leitura da semana foi tão sombria quanto o famoso personagem psicopata citado acima. Li Mentes Perigosas: O Psicopata Mora ao Lado, de Ana Beatriz Barbosa Silva. Ana Beatriz é médica graduada pela UERJ, psiquiatra pós-graduada pela UFRJ e escritora com uma bem sucedida carreira voltada à sua área de formação. Seu público-alvo é o público em geral, principalmente os não-acadêmicos em psicologia e psiquiatria.


            Mentes Perigosas trata sobre a psicopatia e os psicopatas com uma linguagem clara e emotiva, com leitura agradável (em termos de prosa e discurso, não em termos de tema). A obra também não deixa de mencionar o embasamento científico que os temas pedem e esse embasamento não compromete o entendimento do texto pelo público leigo. Pelo contrário. A base científico-psicológica do livro enriquece nossos conhecimentos acerca desses assuntos tão polêmicos e complexos. 


             Logo na Introdução a autora cita a fábula do escorpião e do sapo, na qual o escorpião mata o sapo mesmo após este ter lhe levado nas costas durante uma travessia em um rio. Pouco antes de morrer, o sapo pergunta ao escorpião o motivo daquele ataque. O escorpião apenas responde “Porque essa é a minha natureza”. A partir desse ponto de vista Ana Beatriz incia sua abordagem.

            Os termos psicopatia e psicopata vêm do grego psyche (mente) e pathos (doença), mas a autora já nos informa que os psicopatas não se encaixam no diagnóstico tradicional das doenças mentais. Os doentes mentais sofrem de delírios ou alucinações (esquizofrenia) ou têm grandes sofrimentos mentais (pânico, depressão, etc). Os psicopatas não são portadores desses males. Além disso, um psicopata sabe que é diferente das demais pessoas, sabe que é um psicopata. Ele tem noção disso. Então, o que é um psicopata?

Ana Beatriz aborda a psicopatia como um transtorno de personalidade na qual seu portador, o psicopata, possui maior atividade na parte racional cerebral, e não na emocional. As interconexões entre as funções racionais e emocionais dos psicopatas também são deficientes. Logo, o psicopata é mais razão do que emoção e não compartilha de certas características emocionais que são comuns aos seres humanos normais, como empatia, sentimento de culpa e profundidade sentimental. Os psicopatas não possuem consciência, que está diretamente relacionada à conexão entre as coisas e as pessoas, às capacidades de amar e de se colocar no lugar de outro. 

          Como se não bastassem serem desprovidos dessas qualidades, os psicopatas ainda apresentam algumas características que permitem que nós os identifiquemos. São elas: conhecimento sobre vários temas, embora de forma superficial; grande capacidade de eloquência; egocentrismo e megalomania; comportamento impulsivo e necessidade constante de excitação – o que explica o caráter socialmente transgressor de muitos psicopatas. Com tais caracteres, os psicopatas burlam as leis e visam dominar as pessoas – mentalmente e corporalmente – com o intuito de terem prazer e/ou poder. Eles não se importam com os sentimentos e as vidas alheias, mas suas ações vão de leves e moderadas a extremas. Os mais “brandos” aplicam golpes financeiros, e os mais perigosos, homocídios sistematicamente planejados e com grande requinte de crueldade.

         Mencionei algumas características que o livro aborda com o objetivo de favorecer a identificação e a proteção contra essas criaturas. A autora cita vários casos – principalmente nacionais - e, embora mencione sempre características comuns aos indivíduos com esse perfil, ressalta que a psicopatia tem suas variantes, pois 4% da população mundial, entre homens e mulheres, apresentam o transtorno. 

       Além dessas considerações, destaco outra grande contribuição da obra, que é a desconstrução de certo estereótipos e sensos comuns que existem relacionados aos psicopatas e à psicopatia, que são:

1 – Psicopatas não têm aparência malvada e “suja” ou são o oposto, belos e charmosos. A realidade é mais complicada. Eles são indivíduos de qualquer idade – até crianças – e que estão em diferentes camadas sociais. Podem ser professores, médicos, grandes empresários, etc.
2 – Uma minoria dos psicopatas é homicidade e extremamente violenta. E boa parte passa a vida toda simulando uma vida normal, sendo “cidadãos de bem”.
3 – As causas da psicopatia não são apenas genéticas ou apenas culturais, mas oriundas do intercâmbio de ambas, mostrando a complexidade do fenômeno.

          Mentes Perigosas também aborda as temáticas da psicopatia infantil, maioridade penal e a polêmica discussão sobre o senso moral humano e animal. Para a autora, um indivíduo que tenha predisposição genética à psicopatia e que seja criado em um ambiente cultural que estimule seu transtorno inato será um psicopata perigoso cuja reeducação ou readaptação à vida social são impossíveis.

            A obra fala de um tema complicado e, muitas vezes, difícil de digerir. Não é fácil afirmar e acreditarmos que existe uma maldade inata e indivíduos que estão à solta por aí, sendo humanos na aparência, mas em termos mentais, praticamente não-humanos. Recomendo a todos a leitura da obra na íntegra. Continuarei minhas leituras sobre a temática e posteriormente postarei aqui as visões de outros estudiosos sobre esse sombrio assunto. 




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