ThiagoDamasceno: fevereiro 2012

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Música: "Só Pro Meu Prazer", Leoni

Só Pro Meu Prazer
(Leoni)

Não fala nada, deixa tudo assim por mim
Eu não me importo se nós não somos bem assim
É tudo real nas minhas mentiras
E assim não faz mal, e assim não me faz mal não!

Não venha agora com essas insinuações
Dos seus defeitos ou de algum medo normal
Será que você não é nada que eu penso?!
Também se não for, não me faz mal, não me faz mal não!

Noite e dia se completam no nosso amor e ódio eterno
Eu te imagino, eu te conserto, eu faço a cena que eu quiser
Tiro a roupa pra você, minha maior ficção de amor
E eu te recriei, só pro meu prazer...
       
                Em 1986, Leoni deixou o Kid Abelha e fundou um novo grupo musical, os Heróis da Resistência, que lançou seu primeiro álbum naquele mesmo ano pela gravadora WEA. O baixista, letrista, cantor e compositor, enfim, um “artesão pop como poucos”, como diria o jornalista Arthur Dapieve, continuou a mostrar sua competência artística no novo grupo, participando da composição de excelentes canções como “Esse outro mundo”, “Dublê de corpo”, “Silêncio”, “O fim da estrada”, “Diga não”, etc. Inclui-se nesse rol a famosa e citada no presente texto, “Só Pro Meu Prazer”, regravada por muitos artistas e bandas. 

                Interpreto-a como uma canção que fala sobre o “amor e ódio eterno de um casal. A relação se destrói, mas como os amantes se amam, essa mesma relação se reconstrói: “e eu te recriei só pro meu prazer”. Essa recriação é dotada de imaginação, dotada de arte, como em um filme: “eu te imagino, eu te conserto, eu faço a cena que eu quiser”. Assim, as fantasias do casal se realizam: “tiro a roupa pra você, minha maior ficção de amor”. Essas recriações podem ser mentiras, porque serão destruídas novamente, mas mesmo assim “é tudo real nas minhas mentiras”. Eles sabem que a destruição é mentira, é falsa porque será recriada posteriormente. Esse trecho é tão lírico e polissêmico que eu dispenso meus demais comentários, que correm o risco de serem paupérrimos perante tal letra.
       
                Apesar dos desentendimentos, os amantes sempre voltam, não importa como, já que “eu não me importo se nós não somos bem assim” e “será que você não é nada que eu penso? Também se não for, não me faz mal, não me faz mal não!” Ou seja, se não houver volta, haverá um mal maior que a futura destruição da relação, que novamente será reconstruída, um ciclo, tudo isso “só pro meu prazer”, ciclo que também levará prazer à (ao) parceira(o).
       
          Gravei Só Pro Meu Prazer (http://www.4shared.com/mp3/IRe08l73/02_-_S_Pro_Meu_Prazer.html) com o playback do http://www.mundodosplaybacks.net Boa audição!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Arte: Arte & Emoção


Arte & Emoção

Por Thiago Damasceno

        Uma conversa de salão de beleza me inspirou a escrever este texto. Depois juntei essa conversa com as reflexões que faço sobre Arte.

        Era uma segunda-feira à tarde quando resolvi ir ao salão. Meu cabeleireiro estava trabalhando bem, como sempre, mas diferentemente dos outros dias, naquela segunda-feira ele estava ouvindo música pelo seu MP4. Nosso silêncio foi quebrado quando ele comentou:

- Rapaz, música é bom demais, né?

        Na condição de artista amador em algumas áreas, eu disse, com muito entusiasmo:

-É.
 
        Falei e estranhei. Estranhei tanto ele quanto eu. Depois lembrei que também tinha esses “lampejos de pensamentos”. Ele ainda mencionou que achava difícil alguém não gostar de música, e eu concordei, afinal, uma das coisas que aprendi desde que saí do ventre da minha mãe é que sempre há música pelo ar (principalmente percussiva ) e fãs pra qualquer estilo musical.

        Aquele homem continuou dizendo que qualquer tipo de música deixava-o alegre, até as mais tristes e filosóficas e as que nos fazia chorar. Interessante aquele ponto de vista. Discordei em parte, mas respeitei sua opinião e terminei minha fala no diálogo mencionando que as pessoas buscam emoções ao ouvir músicas.

Vivemos atarefados. Nos tornamos escravos de nossas obrigações. Esse fenômeno vem se acelerando nas nossas sociedades ditas cada vez mais “desenvolvidas” e cheias de possibilidades. Assim, acredito que esse nosso estilo de vida agitado, intensificado desde o século XIX, vem bloqueando algumas emoções, pois não nos relacionamos (às vezes) com a natureza e com as pessoas como antes. Quero dizer que muitas vezes somos artificiais, somos robôs no sistema criado por nós mesmos. Mas aí, a Arte vem e nos dá mais emoções, mais vida e sentimentos que esse mundo turbulento oferece.

Um dia desses li o texto do encarte da coletânea “Por Enquanto” da Legião Urbana e concordei com ele ao defender que a sociedade precisa de ilusões, como os ídolos musicais rebeldes que no fundo, não são tão rebeldes assim. A Arte, por ser criação e uma mentira que diz uma ou mais verdades, nos proporciona muitas ilusões, nos dá pontos de fuga dessa realidade turbulenta. Não é à toa que os filósofos alemães Schopenhauer e Nietzsche prestigiavam a Arte, às vezes com exagero, assim como mergulhavam, também de vez em quando, num “mar de desespero” angustiante.
    
        Em certas vezes é preciso viajar por outros lugares, ver com outros olhos, ouvir com outros ouvidos e sentir o bater do seu, ou de outro coração. A Arte ajuda nessa empreitada e as músicas nos dão os ritmos.

“Sem a música, a vida seria um erro”.
(Nietzsche)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Ouça A Canção “Como Diziam Nossos Pais”

Como Diziam Nossos Pais
Por Thiago Damasceno



Segundo lançamento de “Cantos Urbanos” do Viajante Clandestino. Excelente canção pra se ouvir a dois. Foi composta pelo meu parceiro Heitor Gomes Lopes, tendo em mente sua namorada, Sara Melo. Para o clipe, pensamos em algo mais caseiro e aconchegante que Andarilho Noturno (http://www.youtube.com/watch?v=lwCoISl5cbE). Conseguimos isso com o auxílio de um jogo de luzes azul e vermelha, além dos enquadramentos das câmeras.

Como Diziam Nossos Pais tem o poder de atrair alguém ou essa necessidade de ter alguém ou a lembrança de um amor perdido. Começa mostrando a timidez característica do início de alguns relacionamentos “É uma boa desculpa pra gente se ver” que não precisa, mas inventa motivos pra ter momentos com o ser amado. Passado o receio, os amantes percebem coisas lindas e simples, tal como seus pais devem ter dito em algum dia “Pra entender as coisas mais bonitas que diziam nossos pais”. Mas mais que isso, essa música ainda fala sobre o amadurecimento de um relacionamento “Pra lembrar que fomos sempre com calma, pra aproveitar cada sensação” adquirida após certo tempo de diálogo, convívio e paciência entre o casal. Nessa obra, Heitor também captou um fenômeno belo e único que consiste em perceber que uma determinada pessoa marca e muda o seu cotidiano pra melhor “Você é a melhor parte dos meus dias... A palavra mais bonita pra escrever numa canção” e extravasa seus sentimentos no último verso: “Você merecia que eu cantasse melhor, mas é de coração”.

Entretanto, o humor também permeia a história de Como Diziam Nossos Pais, aliás, o humor sempre marcou presença em nossas tramas musicais, desde os tempos da antiga banda Blackout. Como assim? Bem, o título original dessa canção era O Que Diziam Nossos Pais. Como bons ouvintes de Belchior que somos, começamos a fazer brincadeiras dizendo que O Que Diziam Nossos Pais era uma cópia de Como Nossos Pais, de Belchior. Sim, nós fazemos graça com nossas próprias músicas, de maneira saudável, claro! Comparando as duas canções, em certo momento passamos a chamar a obra de Heitor de “Como Diziam Nossos Pais” e terminamos registrando-a na Fundação Biblioteca Nacional com esse nome mesmo. Heitor coloca a culpa da confusão em mim, mas eu revido dizendo que o tempo todo ele estava por perto e não corrigiu o documento que continha todas as letras de nossas canções e que está hoje nos arquivos da Biblioteca Nacional.

Muita Paz & Amor e até a próxima!

Sempre há música no ar...

            Como Diziam Nossos Pais
(Viajante Clandestino)

Na quinta-feira sem perceber, esqueci minhas chaves com você
É uma boa desculpa pra gente se ver
Pra aproveitar e conversar sobre qualquer coisa
Ouvir tua voz, sentir teu cheiro
Depois o assunto vai acabar e o silêncio vai nos convidar
Pra chegar mais perto, dar um abraço e um beijo

É quando a vida nos dá um sentido a mais
Pra entender as coisas mais bonitas que diziam nossos pais
É quando a vida nos dá um sentido a mais
Pra entender as coisas mais bonitas que diziam nossos pais

Já faz um tempo e eu não preciso mais de desculpas pra te ver
Temos mil planos pra compartilhar e reescrever
Pra lembrar que fomos sempre com calma
Pra aproveitar cada sensação
Pra lembrar que você é a melhor parte dos meus dias
Pra lembrar que você é a palavra mais bonita
Pra escrever numa canção
Desculpe minha voz cansada e o meu desafinado violão
Você merecia que eu cantasse melhor, mas é de coração