ThiagoDamasceno: 2010

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Poemas

Para Minha Amada II

Não se esquece um grande amor,
mas se supera um grande amor
E um grande amor só é superado
com um amor  maior ainda

Nenhuma resposta que diga o contrário é válida
É preciso um amor maior ainda

Passam-se os anos, as estações, poemas e canções
e um grande amor se assemelha a um porto seguro
que dá conforto ao navio que vem de uma tempestade

Mudam-se as ruas, as casas, rostos, corpos, nomes
e até amores, mas a paixão permanece inalterável
Qualquer tempo e distância são inválidos
É preciso um amor maior ainda

Enquanto esse amor não chega
a paixão se converte em saudade
entre as quatro paredes de um quarto silencioso

Portanto, não se esquece um grande amor,
mas se supera um grande amor
Se supera com um amor maior ainda

Por isso, minha amada,
serei teu eterno apaixonado
até o dia em que um amor maior ainda
me roube de ti

Serei teu eterno apaixonado
até o dia em que um amor maior ainda
me  tire da tua eternidade

Thiago Damasceno 

O Minuto Que Antecede O Primeiro Beijo


Corpos próximos

Próximos como queríamos

Quentes como jamais sonharíamos

Calafrios traçando rotas

Nos nossos mapas corporais



O teu olhar no meu

O desvio do meu olhar ao teu

Como se meu olhar não fosse para ti

Como se o encontro fosse por acaso



Meu riso apressado

Querendo morrer afogado na tua saliva

O mais rápido possível



Minha cabeça gira

Parece buscar um ponto de fuga

Que te leve comigo



Fazes o mesmo

Sendo que um é o reflexo do outro

E cada um é um espelho



Até que a distância mata a timidez

E o que era receio

Vira desejo

Em poucos dias

Será necessidade



Os dentes, as línguas, os líquidos bucais

O ar em plena liberdade

Rosto contra rosto

Suor contra suor

Atrativo imposto



O minuto que antecede o primeiro beijo

Tem ritos e mitos

Que levam à mesma crença


Thiago Damasceno 

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Música

CIDADE MUDA     CIDADEMUDA    SE IDADE MUDA    CIDA DE MUDA    OU SIMPLESMENTE CIDADE MUDA

(Damasceno+Lopes+Meirelles+Noleto+Silva+Etc)

Por Thiago Damasceno

         Para quem me conhece e para quem não me conhece pessoalmente, informo que estou há quase uma semana na minha terra natal: Carolina-MA. Terra de sol, calor (pense no calor!) água, festa, bagunça e (pode crer) de rock and roll.
       Após um ano sem pousar por aqui, percebi algumas mudanças e alguns padrões. No fim das contas, vê-se que as coisas mudaram, mas as mudanças são as mesmas. Juntei-me com alguns novos velhos amigos e criamos um grupo musical: o CIDADE MUDA. Nome padrão, mas como você pode ver acima, bem polissêmico e crítico, devido ao atual contexto social e político da cidade.         
         Estamos procurando por um lugar para tocar, mas sabe como é: fim de ano, muitos eventos, burocracia para conseguir uma licença para música ao vivo até tarde da noite, etc... O engraçado é que para demais eventos banais, corriqueiros e ricos em confusões, consegue-se tudo. Fazer o quê né?! Mas vamos conseguir um local, aguardem... será uma apresentação inédita em Carolina. O repertório inclui Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii, Titãs, Zeca Baleiro, piadas, interpretações de poemas e muito mais!

"Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver." (Bertold Brecht)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Crônica

O Grande Amigo
Por Átila Douglas

              Hoje meu cachorro morreu. Estou triste, sensível. Tão sensível como um iceberg rente ao aquecimento global, sensível como um policial sem colete no Morro do Alemão. Meu cachorro não era só um cachorro, era O Cachorro. Mais que um animal: um amigo, um companheiro fiel, que independente do meu humor, estado civil ou cheiro, lá estava ele, abanando seu rabo pra me receber e me “adorar”.


Um filme que relata essa idéia é “Sempre Ao Seu Lado”, com Richard Gere e Joan Allen, com direção de Lasse Hallström, lançado em 2009. Trata da fidelidade de Hachi, o cachorro de Parker (Richard Gere), que cria um grande laço de lealdade entre ambos, e mesmo após a morte se seu dono, Hachi o espera em seu ponto de chegada: uma estação de trem, durante 10 anos.
Após esse fato surgiu-me a idéia desta crônica, revendo alguns conceitos dos seres humanos ditos racionais.
Atualmente o que anda contando na sociedade é o ter, e não o ser. Pessoas se sentem donas de outras e não medem esforços pra “passar por cima” das outras. Barbaridade é o nome disso meus caros amigos.
Ao acordar, já que agora estou de férias, ligo minha tevê para apreciar os graciosos programas matinais, mas em quase todo instante há um Plantão da Globo nos informando a entrada da polícia em um local, a prisão de um determinado meliante, ou mesmo a apreensão de certa quantia de drogas. Para os mais fanáticos em televisão, um desses plantões seria a morte da incrível Dercy Gonçalves, mas isso não vem ao caso.
Canso-me da tevê e vou ler um jornal. A mesma coisa, só que em letras. Vou acessar a Internet com seus inúmeros sites divertidos, apaziguadores. Porém, ao abrir meus e-mails, adivinhem o que leio?! Quem acertar ganha uma bala.
Isso meus caros, significa que as coisas simples da vida que a vovó dava tanta ênfase foram esquecidas ou perdidas. Os amores sinceros, as amizades verdadeiras estão cada vez menos comuns, e sem falar no tempo, que se transformou em inimigo. O relógio, antes se ser um informador de horas, é também seu patrão.
O lucro (melhor dizer capitalismo) é o objeto mais importante, mais valioso e mais afável do ser humano moderno. Nada é concitado, todos são cavalos com cabresto de todos e o que mais me deixa chateado é que nem sempre percebemos isso.
Certo dia, estava atravessando a Avenida Goiás, no Centro da linda Goiânia, quando quase presenciei um atropelamento de um cachorro. O pobre só não foi esmagado pela máquina porque correu cerca de um metro antes do carro lhe acertar. Vendo isso, percebi o tamanho da preocupação desse animal, quase nula. Resolvi bater um papo com ele.
Ao interceptá-lo, indaguei sobre o ocorrido, e o motivo dele não ter saído antes do quase fato mórbido. Sua resposta foi simples: “não há motivos pra preocupações”. Fiquei pensativo com essa informação e puxei uma conversa com meu novo amigo. Ele me falou de como enxergava o ser humano, de como nossa raça é imoral e suja, sem perceber um lindo pôr-do-sol, uma chuva (quando não é ácida) simples e outras belezas naturais.
Disse mais, que sua raça se ligava entre si, até mesmo por telepatia. Seus amigos eram sujos, fedidos e famintos, mas ele não se importava, pois quando ele mais precisava, lá estavam eles pra lhe socorrer. Ofereceu-me aulas pra aprender a ser mais cachorro do que ser humano, mais simples, menos empedernido e insensato com os outros, para eu dar mais valor ao cachorro que tenho em casa e outras coisas interessantes.
Quando eu ia dizer sim ao seu pedido, um carro me atropelou. Acordei assustado, com meu celular despertando, era hora dos afazeres, hora de viver a realidade rápida e cruel.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Comentando Letras

         Aproveitando o clima musical proveniente da postagem anterior, comentarei duas letras de uma das minhas bandas preferidas: Ira! As letras são das canções Flores Em Você e Dias De Luta, bem conhecidas. Ambas são do segundo álbum do Ira! chamado Vivendo E Não Aprendendo, de 1986. Esse álbum fala basicamente de juventude e amor ao som de ótimos arranjos, melodias belíssimas e letras bem pensadas. Na época de sua gravação os integrantes queriam uma sonoridade semelhante à do grupo inglês The Jam, o que causou tensões com o produtor Liminha. Coloquei o link para download do álbum e das canções no final do texto. Boa leitura! Aguardo comentários, réplicas, tréplicas, etc...

Por Thiago Damasceno
Flores Em Você
(Edgard Scandurra)

De todo o meu passado
Boas e más recordações
Quero viver meu presente
E lembrar tudo depois

Nessa vida passageira
Eu sou eu, você é você
Isso é o que mais me agrada
Isso é o que me faz dizer
Que vejo flores em você

        Flores Em Você tem o arranjo de um quarteto de cordas e um violão tocado por Edgard Scandurra (guitarrista da banda) que acompanha o vocal de Nasi. Nos meus primeiros pensamentos sobre Flores Em Você, pensei que ela se tratasse apenas de uma dócil canção de amor para uma segunda pessoa. Ainda hoje concordo que é para uma segunda pessoa, mas não da forma como antes, pois a expressão “flores em você” leva consigo mais de um sentido.
        A elegia é uma forma de poema que apareceu no Classicismo, escola literária que nasceu na Europa do século XVI. A elegia lamenta a morte de alguém. Vejo Flores em Você quase como uma elegia, só não é uma elegia no sentido mais comum porque não lamenta a morte de alguém, pois o sujeito poético (quem fala na letra) parece se conformar com a morte de um ente querido.
        Tal sujeito faz uma análise da sua existência nos primeiros versos “de todo o meu passado, boas e más recordações”, ele quer se apegar ao breve presente e revivê-lo posteriormente “quero viver meu presente e lembrar tudo depois”. A morte é constatada na parte “nessa vida passageira”. Scandurra também usou essa expressão na canção Vida Passageira, que é claramente uma elegia. O falecimento de um ente querido é observado em “vejo flores em você”, ou seja, o corpo de um indivíduo num caixão, com flores e tudo, mas o sujeito poético parece se sentir bem com essa morte “eu sou eu, você é você, isso é o que mais me agrada...” Uma espécie de “ainda bem que não fui eu”. Esse sentimento de tranqüilidade com a morte de uma pessoa querida só seria possível se a pessoa morta soubesse que iria morrer e quando a morte chegasse, ela estaria satisfeita e em paz com a vida, tranqüilizando a si mesmo e os demais. O falecido não estaria necessariamente feliz, mas saberia que respirou numa vida feita de bons e maus momentos que geraram “boas e más recordações”.        
        Quem morreu (na história da letra) deveria ter idade avançada, pois não acredito que algum jovem morreria satisfeito com a sua existência. Poderia ser um tio, avô ou avó do próprio Scandurra ou do sujeito poético, já que nenhum autor é necessariamente o narrador de seus escritos. Suposições e mais suposições, viagens e mais viagens...
        Eu disse no parágrafo anterior que um jovem não morreria satisfeito com sua existência. Essa idéia nos leva ao próximo comentário, logo abaixo.

Dias De Luta
(Edgard Scandurra)

Só depois de muito tempo fui entender aquele homem
Eu queria ouvir muito, mas ele me disse pouco
Quando se sabe ouvir não precisam muitas palavras
Muito tempo eu levei pra entender que nada sei
Que nada sei...

Só depois de muito tempo comecei a entender
Como será meu futuro como será o seu
Se meu filho nem nasceu, eu ainda sou o filho
Se hoje canto esta canção,o que cantarei depois?
Cantar depois...
O quê?!

Se sou eu ainda jovem, passando por cima de tudo
Se hoje canto esta canção, o que cantarei depois?
Cantar depois...
O quê?!

Só depois de muito tempo comecei a refletir
Nos meu dias de paz, nos meus dias de luta...
Se sou eu ainda jovem, passando por cima de tudo
Se hoje canto esta canção, o que cantarei depois?
Cantar depois...
O quê?!
       
        Corre a lenda entre os fãs do Ira! que Scandurra compôs essa canção para seu pai “se meu filho nem nasceu, eu ainda sou o filho”. Vejo que ela fala sobre a arrogância de grande parte dos jovens que pensa que podem qualquer coisa “se sou eu ainda jovem, passando por cima de tudo”. Todos podem muito, claro, mas nem todos conseguem o que querem. O sujeito da letra demorou muito “pra entender aquele homem” e “só depois de muito tempo comecei a refletir”. Na ânsia juvenil de alguns em viver intensamente cada momento, ou simplesmente “curtir a vida”, não há muito tempo gasto para pensar. Acredito que a letra fala também de quem é imediatista e no fim das coisas, quando tudo acaba, fica sem saber o que fazer. Essa metáfora consta em “se hoje canto esta canção, o que cantarei depois?”.
        O sujeito da letra se encontra inexperiente e cheio de dúvidas e aprendendo, depois de muito tempo, com o que disse “aquele homem”. O indivíduo está então em conflito, conflito que vejo expresso principalmente na introdução instrumental da canção. As palavras da letra falam muito, mas o arranjo não é mudo.
       
Flores Em Você:


Dias de Luta:


Álbum Completo:




Obs: Peguei o link do álbum em http://www.camaleaodownloads.com/

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Música

Bem Que Se Quis
(Pino Daniele/Nelson Motta)

Bem que se quis, depois de tudo ainda ser feliz
Mas já não há caminhos pra voltar
E o quê que a vida fez da nossa vida?
O quê que a gente não faz por amor?

Mas tanto faz, já me esqueci de te esquecer porque
O teu desejo é o meu melhor prazer
E o teu destino é querer sempre mais
A minha estrada corre pro teu mar

Agora vem pra perto vem!
Vem depressa vem sem fim, dentro de mim!
Que eu quero sentir o teu corpo pesando sobre o meu
Vem meu amor vem pra mim!
Me abraça devagar, me beija e me faz esquecer!

        Bem Que Se Quis: música do italiano Pino Daniele com letra do escritor, jornalista e letrista brasileiro Nelson Motta, consagrada na interpretação da cantora brasileira Marisa Monte e conseqüentemente uma canção excelente.
        Nelson Motta é uma testemunha privilegiada dos 40 anos da Música Popular Brasileira, desde a Bossa Nova ao BRock dos anos 80. Quando ele morava na Itália conheceu o compositor Pino Daniele e ouviu sua versão de Bem Que Se Quis, com letra escrita por Daniele em italiano e napolitano. Motta fez uma letra em português baseado na melodia, que é seu estilo de escrever, e Marisa Monte a cantou. A versão com a letra de Motta foi apresentada a Pino Daniele que a adorou, pois de acordo com Motta, ele usou o adjetivo “Deslumbrante!” para se referir à canção, porque mesmo sem entender nenhuma palavra, ele achou mais bonito o som das palavras cantadas por Marisa do que o som das palavras nos idiomas originais.
        Segundo eu, Bem Que Se Quis fala da relação de um casal que em determinado momento não deu certo “Bem que se quis, depois de tudo ainda ser feliz; e o quê que a vida fez da nossa vida?”, mas apesar de nada poder ser como antes “mas já não há caminhos pra voltar”, ainda é possível recomeçar “mas tanto faz, já me esqueci de te esquecer porque o teu desejo é meu melhor prazer” já que o caminho de um leva ao encontro do outro “a minha estrada corre pro teu mar”. Amantes novamente próximos, só resta saciar a sede do amor e abandonar o passado “vem meu amor vem pra mim! Me abraça devagar, me beija e me faz esquecer!”. Também é preciso lembrar que a letra sugere outras interpretações.
       
        Gravei minha versão dessa canção no computador do meu estúdio (meu quarto) com o programa Audacity. Portanto, é uma versão caseira, mas de boa qualidade. Usei o playback disponível no site http://www.mundodosplaybacks.net O link para download está logo abaixo, a canção está no formato mp3 e tem apenas 3.37 MB. Imperdível! E nem é liquidação! Antes que alguém pergunte, para o bem ou para o mal, a voz é minha. Espero que gostem!

Thiago Damasceno


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Crônica

        Eufemismo é uma Figura de Linguagem que permite a suavização de fatos e/ou termos chocantes. Como exemplo, versos famosos de Álvares De Azevedo: “Descansem o meu leito solitário/ Na floresta dos homens esquecida”. Forma clara e direta: “Ponham meu caixão no cemitério quando eu morrer”.
        Leia abaixo a crônica de estréia de Átila Douglas e veja o embaraço que um simples eufemismo pode causar.

Thiago Damasceno

Encontros & Desencontros
Por Átila Douglas
 
          Há pessoas que se divertem sem compromisso, são os participantes da chamada "Geração Tribalista", que nas noites baladeiras cantam "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo." Porém, depois de vários copos de cervejas, vodkas, whisks, acabam em um quarto solitário sem a desejada companhia para aquecer-se no frio da noite.
         Tempos atrás, éramos diferentes, pensávamos em ter uma companhia, e não várias, que na verdade, na hora em que mais se precisa, não podem ajudar. Ou posso estar enganado. Ainda há homens e mulheres que pensam em romantismo, em andar de mãos dadas no parque, ver o pôr-do-sol e o nascer da lua e sob a luz desse luar, desejar-se intensamente, descobrir um ao outro.
         Não entendo essa "geração" que 'pega' todo mundo, que se esbalda em salivas alheias depois de um porre ou outro e está reclamando de que não tem uma companhia para compartilhar segredos, dividir angústias, etc. Encontrei aí uma contradição.
         Andando pelas ruas, numa dessas tardes que a gente não tem nada pra fazer, estava lá eu, pensando neste, digamos, triste caso em que nos encontramos hoje. De repente, encontrei uma amiga, velha amiga, que não via há muito tempo. Vejam só o que ocorreu.
        Depois daquele saudosismo todo, abraços e assassinato da saudade, descobri que ela estava solteira.

-Ah, mas o que houve?! - perguntei surpreendido ela e seu marido (esqueci de mencionar que ela era casada) tinham um amor de dar inveja a qualquer casal. Típico romance do século XIX.

-Meu marido me deixou - respondeu.
        
         Seguindo meu raciocínio no que estava pensando anteriormente, antes de encontrá-la, sugeri o seguinte (eis a melhor parte):

-Pare de se lamentar, seu marido deve ter ido pra essas baladas noturnas, e como todos, beijou todas e achou alguém melhor que você.

         Nesse momento sua cara de espanto e palidez me surpreenderam.

- Vem comigo um dia desses, pra você "se vingar" dele e se divertir.
        
         Tentei alegrá-la com essas palavras, das melhores maneiras, mas algo assustador (pra mim) saiu de sua boca:

-Não. Ele morreu.
        
         Senti-me empedernido, insensato, desumano, sem ter pra onde ir, sem ter o que fazer, sem ter onde me esconder.

domingo, 7 de novembro de 2010

Poemas

"O amor é uma coisa mais profunda que uma transa sensual"
(Belchior)

Para Minha Amada

Não penses que seremos uma só coisa
Meus ossos são meus ossos
Teu sangue é teu sangue
Cada um de nós tem um corpo
Não caia nessa ilusão de que seremos um só
Seremos unidos, claro, mas jamais uma unidade
Não alimente essa idéia de nos transformar
Num ser hermafrodita
Não me resuma a ti
Que eu não ti resumirei a mim

Não quero ser como você
Pois odeio teu jeito de andar
Odeio os livros que lês
Os filmes que vês
E os lugares aonde vais
Não suporto quando acordas irritada
Nem quando estás com sono
Quando a noite se põe a nosso favor

Porém, não se esqueça
Que eu amo te odiar
E me apaixono muito mais quando estás insuportável
Mas não, não alimente essa idéia de nos transformar
Num ser hermafrodita
Seremos unidos, claro, mas jamais uma unidade
Sabe por quê? Pense bem, meu bem:
“Diferença não significa Separação”

Thiago Damasceno

Eu Nem Queria Que Tu Lesses Este Poema

Eu nem queria que tu lesses este poema
Nem tudo que escrevo carrega um aprendizado
Nem tudo que escrevo pode ser aproveitado

Eu nem queria que tu lesses este poema
Ele me deixa nu bem na tua frente
O meu segredo mais guardado se faz presente

Eu nem queria que tu lesses este poema
Com ele posso virar motivo de chacota
Posso ser classificado como poeira debaixo de porta

Eu nem queria que tu lesses este poema
Pareço um idiota procurando um sentido
Ou então uma criança chorando em um castigo

Mas vendo por outro lado
Podes me achar sábio ao ler este poema
Ou simpático, talvez até belo...

Ou podes me achar louco
Antipático, ou muito feio.
Pensando bem...
Eu nem queria que tu lesses este poema

Thiago Damasceno

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Fábulas

         Agradeço aos seguidores do blog e a todos os usuários pela atenção. Com vocês, duas fábulas tiradas da árvore da minha imaginação.

 "A Fábula é uma pequena narrativa que, sob o véu da ficção, guarda uma moralidade".
(La Fontaine, poeta e fabulista francês do século XVII)

O Leão Estressado
Por Thiago Damasceno
        Todos os dias o leão corria atrás do rebanho de búfalos e comia um daqueles grandes animais. Três hienas sempre o observavam a distância e esperavam ele ficar de barriga cheia para irem comer os restos dos búfalos. Às vezes sobrava carne, outras vezes, só ossos, mas elas sempre devoravam as sobras de comida do leão. Acontece que a relação entre o leão e as três hienas não era das mais amigáveis. Mesmo deixando as carcaças dos búfalos, o leão se zangava com as hienas que não tinham coragem de caçar e apenas esperavam ele se satisfazer com sua comida para poderem satisfazer a si mesmas. Quando elas iam sedentas comer o que o leão deixava, ele se retirava irritado:

-Covardes! Nojentas! Só não devoro vocês aqui mesmo porque já estou de barriga cheia! Não lhes suporto mais!
       
        A mais atrevida das hienas retrucava:

-Entenda uma coisa Rei da Selva, os covardes também precisam matar sua fome...
       
        O leão sempre voltava para casa estressado e não tratava bem à leoa, seus filhotes e os vizinhos. Se irritava com eles e estava sempre a reclamar da vida. A leoa já sabia que quando ele retornava do almoço, seria sempre a mesma irritação. Cansada daquilo tudo, ela lhe disse:

-Meu bem, não adianta mais viver assim! Veja como envelhecestes! Estás doente devido àquelas hienas. Sugiro que procure ajuda com a sábia coruja.
       
        Ouvindo sua esposa, o leão foi até a coruja e perguntou como ele poderia sanar sua relação ruim com as hienas, não se perturbar tanto com elas e não jogar essa carga em cima dos outros que não tinham ligação com os acontecimentos. A coruja lhe respondeu:

-Não te irrites tanto com elas, já que elas comem o que tu não queres mais comer.

        E acrescentou:

-Não vale a pena se estressar com seres que passam uma parte do dia com você. Teus dias e tua existência não dependem tanto deles.



A Raposa Que Ouvia Pensamentos
Por Thiago Damasceno
         Era uma vez uma raposa muito esperta e curiosa. Andava sempre lendo livros, que roubava das bibliotecas dos humanos, e também lia as “páginas da natureza”, observando o cotidiano dos outros animais. Rondava um boato pela selva que dizia que ela substituiria a coruja quando esta morresse. A coruja era considerada a mais sábia entre todos os animais. A raposa já tinha então fama de esperta, inteligente e estudiosa, mas sua curiosidade não acabaria por aí. Após alguns dias de reflexão ela empenhou-se na busca do que ela chamava de “a maior das inteligências”. Perguntou a muitos animais: ao leão, ao elefante e à hiena, mas não obteve respostas satisfatórias.  Finalmente ela perguntou à coruja, que com toda sua sabedoria, lhe respondeu:

-A “maior das inteligências” deve ser e deve estar na inteligência reunida de todos os animais.
        
        Não era segredo para ninguém que a coruja ensinava por meio de parábolas, fábulas, poemas, enigmas, etc. A raposa começou a pensar na espécie de “inteligência reunida” e chegou à conclusão de que deveria saber o que se passava na cabeça de todos, ou seja, precisava ouvir os pensamentos dos outros animais, juntá-los, e assim teria a “maior das inteligências”. Ela foi novamente à coruja e perguntou, cheia de confiança na sua esperteza:

-Mestra Coruja, o que eu devo fazer para conseguir ouvir os pensamentos de todos os outros animais?

-Fizeste agora a pergunta de forma mais direta. Como sou conhecedora de muitas coisas, tenho essa resposta na ponta do bico, mas preciso perguntar primeiro se queres mesmo esse dom.

-Sem dúvida, se isso me levar a ter a “maior das inteligências”, por que não?

-É uma escolha difícil de fazer, pense bem.

-Difícil para quem tem preguiça de buscar sempre mais de si mesmo.

-Tudo bem, vejo que você já decidiu. Existe uma fonte sagrada à 2 km da Grande Árvore. Beba sua água numa noite de lua cheia e você terá esse dom.

-Obrigada mestra, muito obrigada mesmo.
        
        A raposa até que foi educada, mesmo sendo arrogante, porém, no seu íntimo, ela sorria, pois iria ouvir e memorizar até os pensamentos da coruja e se tornar então, a mais sábia dos animais.
        Numa noite de lua cheia ela vagou pela selva até encontrar a Fonte Sagrada. Ela bebeu sua água e no mesmo momento milhares de vozes vieram à sua mente. Ela percebeu que estava ouvindo todos, como se estivessem conversando com ela, mas eram pensamentos alheios que invadiam sua cabeça. Ela entrou em desespero, mas viu que precisava se acostumar. Ela precisava controlar aquela chuva de pensamentos, idéias e opiniões. A raposa passou um mês isolada numa gruta numa espécie de treinamento. Após controlar seu poder e aprender a ouvir mentes isoladas e meditar sobre as reflexões dos outros, desde uma formiga a um elefante, ela resolveu sair e experimentar seu poder na prática. Ela queria saber o que os outros pensavam e tirar vantagem de tudo. A curiosa raposa pensava que a dor de receber esse poder era seu preço, mas se ela tivesse a sabedoria da coruja saberia que o preço era outro... e bem mais caro.
         Depois de alguns dias tendo conhecimento das opiniões dos outros animais, a raposa estava frustrada. Ela absorveu muitos fatos que cada animal aprendeu, é claro, mas ela também soube que a maioria deles não a suportava e odiavam sua curiosidade, não pela sua sede de conhecimento, mas pela sua vontade de ser melhor que os outros. Falavam com ela só por falar e com muita falsidade, pois preferiam tê-la como amiga, ainda que na aparência, do que tê-la como inimiga.
        A raposa então viu que a maioria dos animais não eram burros, como antes pensava e também viu que vivia numa selva cheia de mentirosos com suas segundas intenções. Ela nem quis conhecer os pensamentos da coruja, pois estava em tamanho desespero que apenas chorava. Alguns animais vinham ajudá-la, como pose, mas ela sabia dos seus pensamentos mais sinceros:

-Tomara que dessa ela não passe!

-Nem sua esperteza poderá lhe salvar!

-Sem essa rabugenta metida à besta, viveremos mais tranqüilos!
        
        Ela não suportou essas afrontas e se jogou do mais alto rochedo. Quem presenciou sua queda foram apenas os pensamento alheios que nem sabiam por quem eram ouvidos. No fim, a coruja estava certa em saber o local exato da fonte e não bebê-la, pois a curiosidade mataria o gato, como diz um velho ditado, mas nesse caso, matou a raposa.

Se desejas saber o que os outros pensam, certifica-te primeiro se estás preparado para ouvir, suportar e conviver com as opiniões alheias.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Portuguesando: "De a pé" ou "A Pé"? "Esperiência" ou "Experiência"?

         Hoje é a estréia do novo design do blog, desenvolvido pelo inabalável e primeiro colaborador deste site, Jarlony da Silva Telles. Para não deixar o design sozinho e triste, resolvi estrear também a seção Portuguesando.  Nela mostrarei temas da nossa fala e escrita e erros da nossa língua portuguesa que ferem os princípios da Gramática. Todos devem estar cientes da velha rixa entre os tradicionalistas e os liberais, os que defendem a Gramática e os que tentam ignorá-la, respectivamente. Não perco o sono com isso, o que importa é a comunicação, mas também não faço tempestade em vaso sanitário (pense no estrago) para estudar um pouco as regras gramaticais e ver como são consideradas, oficialmente, as formas cultas de falar e escrever. Vamos lá!

De a pé, De pé, À pé ou A pé?




        Uma dúvida pedestre, transeunte... Se eu te contar que fui a algum lugar, eu fui de a pé, de pé, à pé ou a pé? A Gramática diz que fui a pé, pois não existe preposição antes da palavra pé (só esqueci o livro em que li essa pequena regra, mas ela não saiu da minha cabeça) muito menos crase antes de palavra masculina. Então, fui a tal lugar a pé.
        Não é novidade que cada estado e região têm seus modos de falar, gírias, etc. O engraçado é que também têm suas agressões contra a chamada norma culta. Quando eu morava no Maranhão, e quando se vai para lá também, ouvi-se muito fui de pé. Aqui no Goiás, ouvi-se mais fui de a pé. Dialogando nos dois estados constatei isso.

Esperiência ou Experiência?

OPORTUNIDADE DE TRABALHO
PARA MOÇAS ACIMA DE 20 ANOS,SENHORAS E CASAIS
Obs: NÃO PRECISA TER ESPERIÊNCIA
PREENCHA ESTE MINI CURRICULO E COMPAREÇA

Nesta Segunda feira das 9:00 as 11:30 horas
Av. Anhanguera c/ Av. Araguaia, Ed. Cidade de Goiás
sobre loja (celline jóias) sala 03
Centro de Goiania


        A foto acima é um anúncio de emprego que estava fixado na parte interna de um orelhão. Veja o Obs: Não Precisa Ter Esperiência. Caso alguma pessoa apareça com “esperiência”, eu gostaria de conhecê-la, pois ela deve fazer parte de uma cultura bem exótica. Seria melhor “experiência”, com x. Também falta acento agudo em “curriculo” e acento circunflexo em “Goiania”. A crase na indicação do número de horas também não marcou presença em “das 9: 00 as 11: 30 horas”, que deveria ser “das 9: 00 às 11: 30 horas. Outro fator engraçado é a “Segunda feira” sem hífen, o que não indica um dia, mas sim uma segunda feira, um segundo local de comércio, com uma confusão de horas. Uma interpretação ao pé da letra seria mais ou menos assim: Nesta 2ª Feira das 9: 00 as...
       
Até o próximo Portuguesando!

Thiago Damasceno

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Crônica (Escrita no dia 12/10/10)


Domingo Globalizado

Por Thiago Damasceno

         A globalização está na moda. Como o próprio nome diz, ela abarca considerável parte do globo terrestre. Eu pensava que o domingo era um dia santo, mas após refletir um pouco, vi que é um dia bem capitalista. Você verá isso, caro leitor, nas linhas seguintes. A globalização pode ser definida como um processo de integração entre economias e sociedades de vários países, principalmente nos campos de produção de mercadorias e serviços e informação. Ela também pode ser estudada como conseqüência de uma bruta expansão do capitalismo no mundo a partir da década de 1980, que assistiu a uma crescente falência do socialismo, culminada com o fim da URSS em 1991. Deixando de lado alguns tópicos de Geografia e História, partirei para o objetivo principal do presente texto.
         Um dia desses, num desses domingos propositais, eu decidi ir a uma feira árabe em um shopping center daqui de Goiânia. Vi a propaganda num outdoor e fiquei mais empolgado que menino vendo um circo chegar à sua cidade, pois sou apaixonado por cultura árabe. A entrada era gratuita, melhor ainda. Como a globalização realiza a integração, ou várias, chamei um velho amigo para presenciar comigo o bendito evento. Visitamos a feira, mas eu não gostei tanto assim. Pensei que haveria mais coisas para se ver, mas tudo bem, nem só de feiras árabes vivem os shoppings centers.
         No caminho para o shopping vimos em outro outdoor outro anúncio: duas pizzas grandes por R$ 19.90! Só no... Não vou citar o nome do restaurante por motivos éticos (não vou receber nada em troca da propaganda). Como o restaurante transnacional tinha um estabelecimento no shopping e as pizzas tinham um preço acessível naquele momento, optamos por devorar as duas lá mesmo. Comemos, comemos e comemos e após abrir um pouco o zíper da calça para deixar a barriga crescente em plena liberdade, fiquei pensando naquilo tudo. Vi como é possível ver a tal globalização cara a cara nos shoppings ou em qualquer zona de comércio. É fácil observá-la. Lojas oriundas de vários países, produtos importados, exportados, caseiros, artesanais, manufaturados, industrializados, novos com caras de velhos, velhos com caras de novos, cursos de inglês, espanhol, língua mortas, línguas do outro mundo, revistas sobre vários assuntos, livros disso e daquilo, etc, etc e bota etc nisso. A Internet é outro meio explícito do fenômeno. Um japonês pode acessar este blog e se não souber português, pode traduzir on-line e ler tudo. Gente que eu nunca vi está me lendo neste momento e amanhã, posso assistir As Panteras 2: um filme norte-americano com um ator brasileiro. Esses são alguns exemplos do nosso mundo globalizado, mais relacionado. Estamos mais perto de cada canto do mundo (via pau-de-arara, avião ou You Tube), mas não se engane, ainda há muita diferença entre os países e seus cidadãos, por mais que haja integração. Integração não significa união.
         Pois bem, so fine, aquele foi meu Domingo Globalizado: fui a um shopping center brasileiro para visitar uma feira árabe e terminei saboreando comida italiana em um restaurante americanizado... Preciso dizer mais? Claro que sim! Como eu poderia esquecer...

Até a próxima! Hasta La vista! Goodbye! Sayonará!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Poema

O Ciúme

O ciúme deitou-se comigo ontem à noite
Rolamos com selvageria na cama
Ele me despiu, me dominou
Seu prazer tem um certo ar de maldição

O ciúme fez de mim seu mais humilde servo
Eu lhe respeito, lhe obedeço, lhe beijo suavemente
Me deixo envolver no seu abraço
Dele sou mais um escravo

O ciúme trai, separa e destrói
E eu acredito no ciúme

O ciúme fere, mata e convence
E nós acreditamos no ciúme

Thiago Damasceno

domingo, 26 de setembro de 2010

Crônica (Escrita no dia 19/09/10)

        
Eventos Piadísticos do Capitalismo II
Cinema

Por Thiago Damasceno

         Agradeço aos camaradas Lucas Sá e Átila Douglas pela participação na discussão de Eventos Piadísticos e aos meus pacientes leitores por toda atenção e tempo gastos nestes escritos.
         O número de Eventos Piadísticos do Capitalismo é tão grande que esta crônica dissertará apenas sobre os Eventos ocorridos nos cinemas. Quem não gosta de um bom e velho cineminha? Sozinho ou acompanhado? Acompanhado é melhor, principalmente se, como um casal, se pensa em fazer mais coisas do que assistir a um simples filme. No escurinho do cinema, muitas coisas ficam claras... Muito se escuta e pouco se vê. Conversas no ouvido, abraços, trocas de carícias, beijos e por aí vai... Como já disse anteriormente, se escuta, mas não se vê. Escuta-se o deslize molhado de bocas, estalos de línguas, risos abafados, suspiros (prolongados ou não), palavras de afeto semi-inaudíveis e alguns dizem que até gemidos prazerosos... Quem saberá o que rola entre um casal na frente das telas? Servindo como um local de flerte e “pegação”, o cinema seria, nas palavras de Átila Douglas, um “motel compartilhado”, principalmente os cinemas adultos.  Embora isso não ocorra sempre, é um fato.
          Mas nem só de namoro e sexo vive o Cinema. Tal ambiente também é propício para um encontro entre amigos. Me disseram certa vez, que um determinado número de amigos resolveu assistir a uma obra da Sétima Arte. Um deles tinha 12 anos e o filme escolhido tinha classificação etária para espectadores com no mínimo, 16 anos. O garoto até tentou passar para a sala, mas foi impedido por um funcionário. Um garoto mais velho, uma espécie de líder do grupo, foi conversar com o gerente. Não conseguiu nada. Não conseguiu até ameaçar devolver o dinheiro dos ingressos. Depois dessa ameaça, liberaram a passagem para o garoto de 12 anos.
         Para fechar esta crônica cinematográfica com ao menos um Oscar, escreverei sobre a lei que proíbe entrar nas salas dos cinemas com lanches. Sempre há as plaquinhas: “Proibido entrar com comida e bebida”. A piada disso é que você pode entrar com mochila e ninguém inspeciona a mochila. Eu mesmo já fiz isso com um bando de amigos. Colocamos uma coca-cola de 2 litros e um pacote do clássico Milhopan numa mochila. Não fomos barrados, nem investigados e aproveitamos o banquete assistindo Velozes & Furiosos. É a lei sem fiscalização, coisa para inglês ver.
         Como o capitalismo se reproduz mais do que rato de porão e as piadas, mais do que episódios de Malhação, aguarde mais crônicas da série Eventos Piadísticos do Capitalismo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Crônica (Escrita no dia 10/08/09)

Eventos Piadísticos Do Capitalismo

Por Thiago Damasceno

    Além de exploração, altos lucros, desigual distribuição de renda, propagandas e modos de ser, o capitalismo também exerce influência no que eu chamo de Eventos Piadísticos. Acontecimentos cotidianos que mais parecem piada do que coisas que deveriam ser levadas a sério (não que as piadas não devam ser levadas a sério). Escreverei sobre três desses eventos que percebi até o momento atual da minha existência.

    Na tarde do dia 09, fui comprar um tênis para mim. Preferi o modelo Rainha da segunda loja pesquisada, tanto pelo tênis, quanto pelo preço. Eu pedi à vendedora um tênis para corrida e esse encaixou-se perfeitamente nos meus interesses. Um tênis básico para se correr em alguns dias da semana, para eu não ficar sedentário. A vendedora que me atendeu tinha sumido e eu experimentei o dito cujo. Saí andando pela loja com ele. Andei, andei e andei e um vendedor me disse que não era permitido andar com o tênis. Deve ser porque algumas passadas na cerâmica deterioram a sola. Ele disse que eu deveria ficar apenas em cima do tapete. A loja devia ter 300 metros quadrados de área e o tapete tinha 1 metro de perímetro povoado pelos pés dos possíveis futuros compradores, que também experimentavam seus possíveis futuros tênis. Ou seja, nos tapetes das lojas de tênis nunca há espaço para deslocamento. Quer dizer que, para experimentar um tênis para corrida, eu preciso ficar parado com ele? Um tênis para corrida é mais uso que estética. Roupas é que são mais estética que uso. Roupa sim, se experimenta parado. Tênis, não.

    O segundo evento dá mais indigestão do que riso. Sabe os restaurantes self-service por quilo? Pois é, colocamos comida no prato, pesamos e recebemos uma comanda com o valor do alimento. O engraçado está na observação em letras minúsculas no final do cupom. Aquela que se lê com uma lupa ou com um microscópio. O aviso é basicamente esse: Em caso de perda deste, o usuário deverá pagar o valor de... Esse valor é x. Depende do restaurante. Acontece que sempre é muito alto para uma refeição, ou duas, ou até mais. E por pessoa. A maioria dos restaurantes cobram 50 ou 80 reais. Agora sem brincadeira, já vi uns restaurantes que cobram 200! Tudo para compensar o valor que deveria estar na sua comanda perdida. E comanda individual! Mas veja bem, será que um ser humano em perfeito estado de saúde é capaz de comer 50 reais de comida no quilo? Eu, que sou conhecido como “barriga sem fundo” não como nem metade. Talvez um pouco mais... E 80? Alguém poderia comer 200?

    O último evento e não menos comum apontado por mim acontece no famoso SAC. Quando queremos cadastrar nossos celulares em promoções ou corrigir certos equívocos, ligamos para o Serviço de Atendimento ao Consumidor das operadoras e esperamos, esperamos... Mas, para não dizer que a espera é em vão, eles sempre colocam umas “musiquinhas”. Aquelas coisinhas horríveis. Será que aquilo é passatempo para alguém? Algumas são músicas do Beethoven ou do Mozart transformadas em bips digitalizados, outras são harmonias desconhecidas, no fim, são apenas guinchos eletrônicos, pior que o barulho dos já ultrapassados mini-games. Será que alguém gosta de escutar aquilo? Aqueles sons ridículos se propagam no ar enquanto o consumidor fica com cara de sono ou raiva, nos piores casos.

    Por enquanto, achei esses três Eventos Piadísticos do Capitalismo, quem encontrar mais, por favor, me avise, assim, quem sabe, poderemos produzir um texto mais gostoso, e se você perder a comanda, eu não vou cobrar 1 milhão de reais.