ThiagoDamasceno: julho 2016

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Crônica: "Vencer na Vida" - Uma Expressão Abestada

"Vencer na Vida": Uma Expressão Abestada
Por Thiago Damasceno

Talvez na minha 74ª reencarnação eu veja surgir expressão mais abestada do que “Fulano VENCEU NA VIDA!”. Dizer isso implica pensar que a pessoa é “resolvida”, se deu “bem”, tem dinheiro e status social e que pronto: na sua vida tudo é bom e vai continuar indo bem.

            Sabe de nada, inocente!

            Nosso modo de viver capitalista tem essa mania de ficar criando coisas do outro mundo que nada tem a ver com nosso cotidiano e nossa existência como um todo. O que quero dizer é que quem vence na vida é quem é imortal ou viaja no tempo, ou seja, só Connor MacLoad, o Highlander, ou os personagens da trilogia De Volta Para o Futuro.

            Será mesmo que alguém pode se dar por satisfeito tendo uma boa renda, um bom emprego, um bom convívio familiar, social, etc? Claro que não – ou muito difícil isso -, pois além de isso tudo ser praticamente impossível em uma só vida pra uma só pessoa, sempre vai haver uma ponta solta, um problema, uma “angustizinha de nadica de nada” que só várias e várias sessões de terapia talvez possam resolver, e enquanto se resolve uns problemas outros vão surgindo.

            É do ser humano sempre desejar, sempre des-desejar, sempre resolver e sempre complicar. Tudo contraditório e simultâneo. A aventura da existência é essa. Nosso viver é um movimento contínuo de surgimento de problemas e resolução de problemas e, de novo, mais nascimento de questões, e não há crença, etnia ou classe social que evite isso. Como seres que agem e pensam, sempre estaremos envoltos por problemas!


            Portanto, aos imortais cabe a expressão “Vencer na vida!”. Fiquemos aqui com nossa humilde mortalidade perdendo um tanto e ganhando mais um tanto na/da vida. 

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Crônica: Homens Engravatados

Homens Engravatados
Por Thiago Damasceno

Estava eu um dia desses comendo em uma lanchonete no Setor Oeste, ao lado do Tribunal de Justiça do Estado, quando uma turba de homens de terno e gravata adentrou no recinto.

            São figurinhas carimbadas do nobre setor e do poder público na região. Outro carimbo é meu velho senso de revolta ou velho sendo de percepção de contradições.

            Deus que me livre de gravata! Não quero carregar esse fardo: o fardo de se desesperar atrás de respeito alheio, de pompa, de status social, de alguma posse além da posse de paz de espírito.

            Deus que me livre de gravata! Não quero que uma gravata deite por cima de um enorme bucho meu. Não quero que uma gravata combine com sapatos sociais engraxados por alguém que me chame de “patrão”. Deus que me livre de ser patrão!

            Deus que me livre de gravata! Não quero que uma gravata limpe minha reluzente aliança. A aliança ostenta o ouro de um casamento, ouro esse usado por muitas putas.

            Deus que me livre de terno, sapato social e gravata! Prefiro a leveza e odescompromisso dos trajes esportivos, despojados, joviais. Não quero esquentar a cabeça com seriedades bestiais.

            Quanto aos homens engravatados... que suas tolas seriedades os carreguem!