ThiagoDamasceno: Crônica: Uma Carta

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Crônica: Uma Carta



Uma Carta


Por Joana Lopes


Sexta-feira, 13/01/12
             


             Abri os olhos e deixei o calor de uma madrugada mal dormida correr pelo meu rosto. O cansaço deslizava da minha cabeça para minhas pernas e se estatelava na maciez da cama. Pelos cantos dos olhos percebi a claridade que invadia o quarto, tentando atravessar as janelas. Eu sabia que seria mais um dia com céu azul, muito sol e o vento se desviando de nuvens acumuladas aqui e ali. Seria um dia bonito totalmente diferente da noite anterior, quando aquele amor que alimentei por alguns meses pediu que eu apenas deixasse as coisas como estavam, sem sequer tentar me ouvir mais.
             
            Gradativamente criei uma afeição maior que a amizade por alguém. Eu precisava lhe falar e ele poderia sentir o mesmo por mim, ou não. Se não sentisse o mesmo, diria “não” e no pior dos casos, poderia se afastar, como fazem muitas pessoas quando somos sinceros e autênticos com elas. E ainda é uma máxima de muitos dizer: “Seja você mesmo!” Você pode ser assim (se conseguir) e se souber conviver com o afastamento de algumas pessoas. Não é tão fácil assim ser espontâneo e ser aceito desse modo.
             
            Levantei tonta da cama, querendo que a noite anterior não tivesse existido. Olhei para minha amiga que dormia na cama ao lado, talvez com os ouvidos doloridos de tanto ouvir meus desabafos por toda a noite. Andei pela casa rumo ao banheiro e um monte de papel que estava em cima da mesa da sala chamou minha atenção. Havia um envelope verde cheio de selos. Não resisti à tentação e olhei seus dados. Quem havia mandado o documento, do Rio de Janeiro, era o namorado da irmã de minha amiga. A irmã voltou para o Rio há dois dias. Parece que hoje ou quem sabe amanhã, os dois amantes matarão suas saudades.
             
          Pensei naquele envelope. As esperanças que eu tinha sobre relacionamentos amorosos haviam morrido na noite anterior, mas aquela carta mostrava que essas coisas estavam vivas em outros lugares e até à moda antiga, no caso, uma carta.
             
          Menos mal.

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