ThiagoDamasceno: Crônicas das Férias: A Gênese de Julho

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Crônicas das Férias: A Gênese de Julho


A Gênese de Julho


Por Thiago Damasceno
           
             Julho chegou com tudo e eu estava em Goiânia com o desejo de ficar estudando, lendo e escrevendo. Confesso que estava acomodado com o conforto solitário de um apartamento. Estava com dúvidas sobre ir pra minha cidade natal, Carolina-MA, e parte de mim não queria mesmo viajar, mas ainda bem que outras forças me moveram até o calor maranhense e eu teria me arrependido salgadamente de tivesse passado o melhor mês das férias longe do Maranhão.
           
         Talvez eu estivesse desanimado pra viajar porque se viajasse, não haveria tempo de gravar mais um álbum do Viajante Clandestino, mas apenas algumas músicas e olhe lá! Heitor também queria passar uns dias em Brasília e eu não sabia o que meus outros amigos músicos estavam aprontando em Carolina. Além disso, não há mais praia em Carolina e um dos balneários do município, a Pedra Caída, tornou-se muito cara, praticamente elitizada. Porém, toda uma galera estaria lá também pra passar as férias em dias ensolarados. Havia um mundo de possibilidades e uma onda de euforia no ar.

            Com tudo isso e um pouco mais na cabeça, cheguei em Carolina na segunda semana de julho, na terça, dia 10, por volta das 22 horas.  Vim em um polêmico e demorado ônibus da Transbrasiliana e pretendo nunca mais viajar nessa empresa, pois a viagem durou quase 22 horas. O ônibus pingou mais que o material aquecido do vulcão Vesúvio quando este destruiu Pompéia, antiga cidade romana. Coisa de louco! O engraçado é que a viagem demorou mais no trajeto mais próximo à Carolina, de Araguaína-TO para Filadélfia-TO. Quando o ônibus cruzou a divisa entre Maranhão e Tocantins fui invadido por um tremendo alívio. O escuro não permitiu que eu visse com mais detalhes o rio Tocantins e a beira-rio da cidade, entretanto havia a velha calmaria no ar, típica de cidades pequenas.
             
       Cheguei na casa da minha avó e tudo estava no mesmo lugar, incluindo minha saboneteira e shampoo no banheiro, que deixaram apenas a poeira ao redor de seus lugares limpos por estarem ocupados pelos recipientes dos produtos. Logo saí pra rever os amigos e a noite terminou numa “chilitada” às duas da manhã na praça da prefeitura. Uma chilitada consiste em comer chilito, isso mesmo, chilito. Chilito com refrigerante em horários e locais não usuais. Uma prova inquestionável da falta do que fazer, algo que eu procurava há algum tempo: fazer pouca coisa ou coisas aparentemente insignificantes. 








      
      No meio dessa aventura encontramos um bando etílico, ou seja, um grupo de adolescentes e jovens que estava bebendo, alguns já rolando pelo chão. Um grupo normal nesses tempos e também normal desde sempre, só não é tão normal um grupo se embrenhar numa praça pra comer chilito de madrugada. Essa atitude é, de certo modo, rebelde, comparada à atitude dos jovens de beber álcool. Todo mundo faz isso, é fácil fazer, é uma atividade cheia de status. O jovem que bebe é visto por outros jovens como alguém legal, de boa, descolado. Enfim, beber é cheio de descolice. Porém, dias depois ficamos também “ortodoxos”, pois também tivemos nossas aventuras etílicas. Vou narrá-las nas próximas crônicas.

Voltando ao encontro com o bando etílico...

Conversamos, comemos, bebemos, atentamos os bêbados, uma mãe zangada apareceu, etc. Sabe a tensão que dá né? Madrugada, jovens, álcool, mães... Mas no fim da madrugada rimos muito de tudo. Nessa minha primeira caminhada noturna pela cidade, vi os lugares frequentados pela galera, os casais, os vícios, as manias, as virtudes, os pecados, os comportamentos e as personalidades que atuavam no palco das férias. Amizades, música, sexo, álcool, aventuras, drogas, romances, ideias, sonhos e frustrações estavam jogados no espaço-tempo sem roteiros.

Julho se mostrava como um trem que se movimentava de forma tão intensa que poderia chegar ao seu destino com tanta força que arremessaria todos os passageiros para fora... Ou poderia simplesmente descarrilhar.



Semana que vem, o segundo texto da trilogia: "A Explosão de Julho".

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