ThiagoDamasceno: Crônica: Dizem Que Sou Louco

terça-feira, 1 de maio de 2012

Crônica: Dizem Que Sou Louco

Viajante Clandestino - "Cantos Urbanos" 

Produção musical independente e gratuita! 

"Não vou aguentar ficar sozinho não
Se você passar, por favor
Me leve pra onde você for
Eu preciso mesmo é viajar".
(Andarilho Noturno)


Dizem Que Sou Louco

Por Thiago Damasceno

Goiânia, 27/04/12

          ADVERTÊNCIA: Os fatos narrados a seguir aconteceram ao amanhecer. O assunto é complexo, mas aviso logo que tudo foi levado na brincadeira, na esportiva e não desconsidero os cursos universitários diferentes do meu, pelo contrário. Esta breve advertência tem como objetivo impedir interpretações equivocadas. Este texto é uma crônica bem humorada.

           
Acordei cansado e arrependido por ter acordado. Tem sido assim há três anos, desde que faço História na UEG, em Anápolis. Acordo cedo pra pegar o ônibus, assim como muitos outros estudantes de Goiânia. Levantei da cama, me vesti, escovei os dentes, peguei a mochila e zarpei pro ponto de ônibus. Fui ouvindo música pra esquentar o corpo.

O meu ponto fica numa esquina. Sempre fico sentado em um batente da calçada esperando o ônibus. Em 99% das vezes, devido ao sinaleiro, o ônibus para na rua que fica ao meu lado direito (e não à minha frente) e assim preciso andar um pouquinho pra pegá-lo. Hoje, prevendo que ele pararia além da minha posição, já fui andando pra posição que ele costuma parar, ou seja, um pouquinho longe de onde sento, mas o sinal ficou vermelho e o ônibus parou bem perto de onde eu estava sentado, assim, voltei alguns metros pra pegá-lo (perceba aí uma pequena Lei de Murphy). Deu pra entender?! Não dei mais detalhes sobre essa localização (nome de ruas, etc) porque não sei se algum sociopata/sequestrador lerá isto. Deu pra entender?!

Quando entrei no ônibus, o motorista fez graça comigo, perguntando:

- Sim, Thiago, pronde cê ia?

            Respondi zombando de mim mesmo:

- Eu já tava indo era a pé mesmo...

            O motorista riu junto com três moças que estavam perto. Duas eu conhecia, eram do ônibus mesmo. Uma era estudante de Letras e a outra, de Pedagogia. Ambas da UEG também. A terceira garota eu não conhecia, mas já lhe tinha visto antes. Deveria ser de outro campus que fica na rota do ônibus.  

            A garota desconhecida perguntou minha origem. Responderam que eu fazia História. A moça desconhecida riu e falou algo que eu ouço desde o primeiro dia na faculdade:

- Historiador é tudo doido!

            A cidadã berrou isso gratuitamente, logo pela manhã, assim, quase sem mais nem menos, mas eu ri, afinal de contas, já estou acostumado com o velho e equivocado estereótipo do historiador, o sujeito que consegue ser, simultaneamente: maconheiro e/ou viciado em drogas mais pesadas, homoafetivo, ateu, revolucionário, sempre sexualmente ativo, arrogante e claro, louco. Eu ri, afinal de contas, fazer o quê? Criar uma bomba atômica e acabar com as estirpes acadêmicas contrárias ou com quem defende essa visão? Não, melhor não... Depois sempre fica muita radiação espalhada pelo planeta... Após pensar nessa possibilidade, sentei perto das garotas.

            Minutos depois, as moças começaram a conversar. Então descobri que a moça desconhecida fazia Biologia. Conversa vai, conversa vem e descobrimos que a moça de Biologia irá pra outro estado realizar um trabalho emocionante que consistirá, basicamente, em estudar cupins madrugada adentro.

            Como de bobo só tenho o nome do meu cachorro, aproveitei a oportunidade pra soltar aqueles trocadilhos...

- Uuu... Vai pesquisar as baladas dos cupins...

- Uuu... Vai fazer mapas dos cupinzeiros...

- Uuu... Vai fazer autópsia nos cupins...

            Despejei tais frases com um movimento de braços e com flexões na voz que só quem já me ouviu caçoar de alguém reconheceria, mas todas riram. O papo foi divertido e incrível pra ser de tal modo logo nos primeiros passos da manhã, pena que durou pouco, porque nossa intrépida caçadora de cupins teve que descer antes da saída de Goiânia pra pegar outro ônibus (Vai que ela chegaria atrasada pra Festa de Ação de Graças em algum cupinzeiro...).

            Após sua saída, pus-me a refletir e desabafei pra moça de Letras:

- A menina vai ficar acordada de madrugada, no meio do mato, estudando cupim e depois eu é que sou o doido...

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