ThiagoDamasceno: Música: Rock in Rio

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Música: Rock in Rio



Rock In Rio: Cada Centavo Por Si E O Rock Sob Todos

Por Thiago Damasceno

“Nessa terra de gigantes, que trocam vidas por diamantes,
a juventude é uma banda numa propaganda de refrigerantes”.
(Humberto Gessinger)

Se Ben 10 continuar fazendo sucesso,
suas canções podem marcar presença
nos próximos Rock in Rio.
(Do autor deste texto)

Um texto que fala sobre o Rock in Rio é tão complicado e profundo quanto uma canção de rock progressivo. Porém, vamos pegar a estrada como um garoto aprendendo a tocar guitarra: lentamente, mas com a pressa de se tornar um rock star. 




Pra começo de conversa, é fundamental conhecer os fatos básicos. O Rock in Rio é um festival de música criado pelo empresário brasileiro Roberto Medina. Sua primeira edição foi na nossa casa verde-amarela em 1985 e desde 2004 alcançou espaço internacional com edições em Lisboa e Madrid, e cada vez com mais espaço para outros estilos musicais.

No livro “Vendedor de Sonhos”, Medina descreve seu trabalho pra trazer o festival pra cá. O mérito de seus esforços deve ser lembrado, porém, não podemos esquecer (ou realmente, imaginar) o lucro recebido pelos empresários envolvidos no projeto. Mas o fato é que o festival de 1985 inseriu o Brasil, definitivamente, no circuito da música internacional. Até aquele ano, não era muito comum que artistas internacionais nos visitassem. Curiosamente, saindo de uma ditadura, os brasileiros mostraram que curtiam um bom rock and roll e que consumiam (e ainda consomem) os produtos da indústria musical nacional e internacional.

Deixando um pouco de lado as questões econômicas...

O Rock in Rio de 1985 foi um marco pros artistas nacionais e estrangeiros, entre os quais o então melancólico James Taylor. Dependente químico e divorciado da cantora Carly Simon, Taylor pensava em abandonar sua carreira musical após o festival, mas mudou de idéia ao sentir sua recepção no evento. A execução de “You Have Got A Friend” foi comovente. Vale a pena procurá-la no YouTube. A banda Queen também adorou o festival e Freddie Mercury considerava a execução de “Love Of My Life” em terras brasileiras como a melhor da carreira do grupo. 


Parte do público estava vaiando e agredindo algumas bandas brasileiras (como aconteceu com Kid Abelha), mas Barão Vermelho agradou a plateia e Herbert Vianna, com palavras inesquecíveis, criticou a atitude dos bárbaros: “Alô! Boa tarde pra vocês! Eu queria falar uma coisinha antes. É que ontem eu tava assistindo os shows e fiquei chateado com o que alguma parte da plateia fez com o Eduardo Dusek e com o Kid Abelha. Acho o seguinte: Vem na hora que vai tocar o seu grupo, cara, e em vez de vir jogar pedra, fica em casa aprendendo a tocar guitarra, quem sabe no próximo você tá aqui no palco”. Um tapa na cara de quem tinha ressentimentos por não ter feito uma banda de rock naquela década. 
 Vale lembrar também que no dia 14 de janeiro, Cazuza cantou “Pro Dia Nascer Feliz”. E ao final da canção, disse: “Valeu! Que o dia nasça feliz amanhã, com uma rapaziada esperta”. No dia 15 foi feita a eleição indireta pra presidente da república no Colégio Eleitoral em Brasília. Um civil chegaria ao poder após anos de ditadura: era Tancredo Neves. A execução de “Pro Dia Nascer Feliz”, naquele momento, pode ser considerada hoje como sonhadora e utópica, mas no calor daquele dia foi emocionante, com certeza.



Histórias, estórias e anedotas não faltam em festivais de música. Woodstock que o diga. Já lemos um pouco sobre a primeira edição do Rock in Rio. Vamos agora pra quarta, com realização oficializada nos dias 23, 24, 25, 29 e 30 de setembro e 01 e 02 de outubro de 2011 na famosa cidade do Rio de Janeiro.

A maioria das pessoas questiona o sentido de algumas bandas e artistas no festival. Neste ano, por exemplo, o festival conta com entidades como Claudia Leitte, Rihanna, Katty Perry, Shakira e outras que, como as entidades citadas, não se enquadram muito bem no conceito de rock. Não quero entrar na longa discussão que é definir rock, mas se percebe muito bem qual artista ou banda pertence a esse estilo. Quero lembrar que “corpos estranhos” no Rock in Rio não é novidade. Na edição de 1985 houve Ivan Lins e na edição de 2001 houve Sandy &Júnior e Britney Spears, por exemplo. Houve mais artistas de outros gêneros em outras edições e na edição deste ano, mas não conheço todos, então citei apenas as bandas e artistas que conheço.  

        Em entrevista ao jornalista Roberto D´Ávila, Roberto Medina anunciou que o evento será realizado agora de dois em dois anos, com espaço pra música eletrônica, sertaneja e várias vertentes. Vale ressaltar que o ecletismo e (óbvia) comercialização do Rock in Rio existe e vêm sendo criticados desde a edição de 1985. E o ecletismo e a comercialização do festival só vem crescendo. Feitas essas considerações, muitos perguntam: “Mas o que diabos tudo isso tem a ver com rock?” A resposta, meus caros, ou uma delas, é: nada, a não ser os lucros.

            Como já mencionei, é difícil definir rock. Também é difícil dizer qual foi a primeira canção do gênero. As possibilidades estão em “Rockett 88” de Jackie Breston & Os Delta Cats e “That´s All Right”, de Elvis Presley. Mas seja qual for o primeiro registro do estilo, é fato que desde que Elvis é Presley, o rock é comercializado.

Segundo os historiadores Antônio Brandão e Milton Duarte, “indústria cultural” é a apropriação da indústria pelos elementos das culturas erudita e popular, que englobam livros, revistas, discos e demais elementos transformados em mercadoria. Essa visão também foi conceituada pela Escola de Frankfurt, grupos de filósofos e cientistas sociais do final da década de 1920. Ainda conforme essa vertente, os meios de comunicação fazem a propaganda das mercadorias e nós somos induzidos a comprá-las. Por mais que o rock seja contestador e rebelde, não se pode esquecer que ele é vendido. O capitalismo assimila e vende muita coisa, desde a música rebelde a movimentos contraculturais, como o hippismo. Em suma, o capitalismo obedece àquele velho ditado: “Se você não pode vencer seu inimigo, una-se a eles”. Partindo disso, percebe-se que os empresários que sustentam o evento enfiam no palco os artistas que estão na moda, que estão vendendo e ajudando a encher seus bolsos.

Contudo, existe uma leve impressão e um ingênuo engano que as coisas não eram exatamente dessa forma nas edições anteriores, principalmente na de 1985. Acontece que antes, havia mais artistas e bandas de rock de qualidade em voga. Hoje o cenário musical é outro, dominado por uma música quase que totalmente comercial, que não diz muita coisa e nem encanta muito. Podem me considerar saudosista e romântico, mas francamente, nas primeiras edições havia uma porrada de bandas excelentes como Queen, Yes,  Titãs e muitas outras. E hoje? Muitos artistas popistas com suas canções muito comerciais e demais companheiros de popices. Não estou falando mal da chamada cultura popular, só de artistas bem comerciais cuja qualidade artística é comprometida devido ao grande caráter de vendas que suas obras têm.

O rock é eclético. Não há dúvida. Recebeu e recebe influência de muitos outros gêneros, mas é curioso notar que vemos bandas e artistas de Axé no Rock in Rio e nenhuma banda ou artista de rock em carnavais. Deve ser porque hoje os artistas de Axé vendem mais. Ainda nessa análise, menciono que a edição do festival de 2004, a primeira internacional, em Lisboa, foi bastante criticada. Ela só mostrou o andamento comercial do festival que só aumentava e continua aumentando. Se Ben 10 continuar fazendo sucesso, suas canções podem marcar presença nos próximos Rock in Rio.

Este é meu comentário sobre o Rock in Rio e, apesar do “poréns”, ao menos muita gente tem noção do rumo em que a música está indo. Menos mal, menos mal. Pra concluir o texto, citarei um trecho de umas das minhas canções preferidas, que não sei bem se cabe citá-la neste texto. Mas pouco importa, pois já diziam os Titãs: “Foda-se”.  

“Saudações a quem tem coragem, aos que tão aqui pra qualquer viagem. Não fique esperando a vida passar tão rápido. A felicidade é um estado imaginário.”
 (Barão Vermelho - Pense & Dance)


Referências

DAPIEVE, Arthur. BRock: o rock brasileiro dos anos 80. Editora 34, São Paulo, 1995.

BRANDÃO, Antônio Carlos e DUARTE, Milton Fernandes. Movimentos culturais de juventude. São Paulo, Moderna, 16ª Edição, 1996

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