ThiagoDamasceno: Crônica

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Crônica

O Grande Amigo
Por Átila Douglas

              Hoje meu cachorro morreu. Estou triste, sensível. Tão sensível como um iceberg rente ao aquecimento global, sensível como um policial sem colete no Morro do Alemão. Meu cachorro não era só um cachorro, era O Cachorro. Mais que um animal: um amigo, um companheiro fiel, que independente do meu humor, estado civil ou cheiro, lá estava ele, abanando seu rabo pra me receber e me “adorar”.


Um filme que relata essa idéia é “Sempre Ao Seu Lado”, com Richard Gere e Joan Allen, com direção de Lasse Hallström, lançado em 2009. Trata da fidelidade de Hachi, o cachorro de Parker (Richard Gere), que cria um grande laço de lealdade entre ambos, e mesmo após a morte se seu dono, Hachi o espera em seu ponto de chegada: uma estação de trem, durante 10 anos.
Após esse fato surgiu-me a idéia desta crônica, revendo alguns conceitos dos seres humanos ditos racionais.
Atualmente o que anda contando na sociedade é o ter, e não o ser. Pessoas se sentem donas de outras e não medem esforços pra “passar por cima” das outras. Barbaridade é o nome disso meus caros amigos.
Ao acordar, já que agora estou de férias, ligo minha tevê para apreciar os graciosos programas matinais, mas em quase todo instante há um Plantão da Globo nos informando a entrada da polícia em um local, a prisão de um determinado meliante, ou mesmo a apreensão de certa quantia de drogas. Para os mais fanáticos em televisão, um desses plantões seria a morte da incrível Dercy Gonçalves, mas isso não vem ao caso.
Canso-me da tevê e vou ler um jornal. A mesma coisa, só que em letras. Vou acessar a Internet com seus inúmeros sites divertidos, apaziguadores. Porém, ao abrir meus e-mails, adivinhem o que leio?! Quem acertar ganha uma bala.
Isso meus caros, significa que as coisas simples da vida que a vovó dava tanta ênfase foram esquecidas ou perdidas. Os amores sinceros, as amizades verdadeiras estão cada vez menos comuns, e sem falar no tempo, que se transformou em inimigo. O relógio, antes se ser um informador de horas, é também seu patrão.
O lucro (melhor dizer capitalismo) é o objeto mais importante, mais valioso e mais afável do ser humano moderno. Nada é concitado, todos são cavalos com cabresto de todos e o que mais me deixa chateado é que nem sempre percebemos isso.
Certo dia, estava atravessando a Avenida Goiás, no Centro da linda Goiânia, quando quase presenciei um atropelamento de um cachorro. O pobre só não foi esmagado pela máquina porque correu cerca de um metro antes do carro lhe acertar. Vendo isso, percebi o tamanho da preocupação desse animal, quase nula. Resolvi bater um papo com ele.
Ao interceptá-lo, indaguei sobre o ocorrido, e o motivo dele não ter saído antes do quase fato mórbido. Sua resposta foi simples: “não há motivos pra preocupações”. Fiquei pensativo com essa informação e puxei uma conversa com meu novo amigo. Ele me falou de como enxergava o ser humano, de como nossa raça é imoral e suja, sem perceber um lindo pôr-do-sol, uma chuva (quando não é ácida) simples e outras belezas naturais.
Disse mais, que sua raça se ligava entre si, até mesmo por telepatia. Seus amigos eram sujos, fedidos e famintos, mas ele não se importava, pois quando ele mais precisava, lá estavam eles pra lhe socorrer. Ofereceu-me aulas pra aprender a ser mais cachorro do que ser humano, mais simples, menos empedernido e insensato com os outros, para eu dar mais valor ao cachorro que tenho em casa e outras coisas interessantes.
Quando eu ia dizer sim ao seu pedido, um carro me atropelou. Acordei assustado, com meu celular despertando, era hora dos afazeres, hora de viver a realidade rápida e cruel.

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