ThiagoDamasceno: Crônica

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Crônica

        Eufemismo é uma Figura de Linguagem que permite a suavização de fatos e/ou termos chocantes. Como exemplo, versos famosos de Álvares De Azevedo: “Descansem o meu leito solitário/ Na floresta dos homens esquecida”. Forma clara e direta: “Ponham meu caixão no cemitério quando eu morrer”.
        Leia abaixo a crônica de estréia de Átila Douglas e veja o embaraço que um simples eufemismo pode causar.

Thiago Damasceno

Encontros & Desencontros
Por Átila Douglas
 
          Há pessoas que se divertem sem compromisso, são os participantes da chamada "Geração Tribalista", que nas noites baladeiras cantam "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo." Porém, depois de vários copos de cervejas, vodkas, whisks, acabam em um quarto solitário sem a desejada companhia para aquecer-se no frio da noite.
         Tempos atrás, éramos diferentes, pensávamos em ter uma companhia, e não várias, que na verdade, na hora em que mais se precisa, não podem ajudar. Ou posso estar enganado. Ainda há homens e mulheres que pensam em romantismo, em andar de mãos dadas no parque, ver o pôr-do-sol e o nascer da lua e sob a luz desse luar, desejar-se intensamente, descobrir um ao outro.
         Não entendo essa "geração" que 'pega' todo mundo, que se esbalda em salivas alheias depois de um porre ou outro e está reclamando de que não tem uma companhia para compartilhar segredos, dividir angústias, etc. Encontrei aí uma contradição.
         Andando pelas ruas, numa dessas tardes que a gente não tem nada pra fazer, estava lá eu, pensando neste, digamos, triste caso em que nos encontramos hoje. De repente, encontrei uma amiga, velha amiga, que não via há muito tempo. Vejam só o que ocorreu.
        Depois daquele saudosismo todo, abraços e assassinato da saudade, descobri que ela estava solteira.

-Ah, mas o que houve?! - perguntei surpreendido ela e seu marido (esqueci de mencionar que ela era casada) tinham um amor de dar inveja a qualquer casal. Típico romance do século XIX.

-Meu marido me deixou - respondeu.
        
         Seguindo meu raciocínio no que estava pensando anteriormente, antes de encontrá-la, sugeri o seguinte (eis a melhor parte):

-Pare de se lamentar, seu marido deve ter ido pra essas baladas noturnas, e como todos, beijou todas e achou alguém melhor que você.

         Nesse momento sua cara de espanto e palidez me surpreenderam.

- Vem comigo um dia desses, pra você "se vingar" dele e se divertir.
        
         Tentei alegrá-la com essas palavras, das melhores maneiras, mas algo assustador (pra mim) saiu de sua boca:

-Não. Ele morreu.
        
         Senti-me empedernido, insensato, desumano, sem ter pra onde ir, sem ter o que fazer, sem ter onde me esconder.

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