ThiagoDamasceno: Crônica de Viagem: Cuiabando Por Cuiabá

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Crônica de Viagem: Cuiabando Por Cuiabá

Cuiabando Por Cuiabá

Por Thiago Damasceno


Não tem jeito: não importa o que aconteça acho que vou ser sempre o rapaz principiante do interior, clamando por um mundo simples, justo, pacífico e solidário. Estava eu, uma noite após a minha colação de grau, preso às teias tecnológicas em um hotel em Cuiabá-MT. Vou explicar melhor.



                Compromissos esperavam para serem cumpridos em um fim de semana do meio do mês anterior. A colação de grau, na sexta-feira, impediria minha viagem à capital matogrossense via ônibus. Era o jeito ir via avião. Detalhe: eu nunca havia voado em um. Outro detalhe: sou fã de Lost. Pois bem...

            Com auxílio de minha linda e paciente namorada, consegui lidar com a logística do embarque e fixar o corpo em uma poltrona do avião. Era bem na parte da frente da máquina voadora. Fiz questão que fosse na frente, pois em Lost o avião se partiu ao meio e o pessoal da frente caiu numa área da ilha mágica que era mais favorável do que o outro lado da ilha, onde caíram as pessoas da parte de trás do avião. Quem viu a série sabe que o pessoal da parte de trás sofreu muito na mão dos Outros. O pessoal da parte da frente sofreu bem menos, por mais que tivessem que enfrentar quase que diariamente uma coluna viva de fumaça negra assassina. O fato é que, caso as condições ficcionais de Lost se concretizassem, eu queria sobreviver com o pessoal da frente do avião.

            A decolagem foi tensa, admito. Um enjoo básico, a sensação neil armstrongeana de ir à Lua (exagerado!...) mas depois comecei a gostar. E na volta, eu e o avião já éramos velhos conhecidos. Valeu, Santos Dumont! Valeu, Irmãos Wright! Valeu seja lá quem dispute o título de inventor do avião! Os ônibus são, realmente, rudimentares e atrasados, inda mais os coletivos...

            No dia anterior meu pai e um tio haviam dialogado sobre a segurança dos aviões. Após teses e antíteses e nenhuma síntese dos dois, fiz minha própria síntese e, de fato, o avião é o meio de transporte mais seguro. Ninguém entra armado e, dificilmente a máquina cai, e se cair, você pode ter certeza que antes de morrer você foi uma pessoa que subiu na vida.
            Ao descer no Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande, deparei-me com uma cidade em obras. E nas horas posteriores em que circulei por Várzea e Cuiabá, deparei-me com mais obras. Coisas da Copa. Coisas que ninguém acredita que serão finalizadas no tempo devido, desde o advogado engravatado ao vovozinho bêbado no boteco.

            Cortando caminho entre a opeira e o concreto e - por que não? – entre a opressão capital-urbano-futebolística-globalizante-pós-moderna, cheguei ao hotel onde, de forma fria e meticulosa, um quarto reservado me aguardava. Imediatamente fui bem recebido e adentrei no recinto que me era devido. Fechei a porta. Escuridão total. Me perguntei: “Que diabéisso?”.

            Abri um pouco a porta para a luz do corredor entrar no quarto e me guiar por entre as sombras tenebrosas. De que adianta um curso superior se você não sabe que alguns quartos funcionam via cartão magnético? Pois é...

            Bastou colocar o cartão magnético – que o recepcionista me deu - no encaixe inserido no interruptor ao lado da porta e pronto: luzes se acenderam, o ar condiconado roncou, a TV ligou, o frigobar gelou, um mundo novo entrou em ebulição perante os meus olhos cansados de tantas nuvens e estrelas! Tudo ligado via cartão: maravilha da tecnologia que ajuda a economizar energia, pois sem o cartão magnético no encaixe, essa diva eletrizante chamada energia elétrica não pode percorrer suas vias para podermos desfrutar do seu conforto. Só que, até relacionar tudo isso na teoria e na prática, levei uns cinco minutos. Quase ia esquecendo de dizer que o cartão também serviu para abrir a porta do quarto, mas isso eu descobri rapidamente, coisa básica de se esperar de um Homo sapiens sapiens.

            Após esse leve contratempo intelectual cotidiano, me perguntei o que a noite de Cuiabá poderia oferecer a um rapaz irreverente, festivo, baladeiro e extrovertido como eu. A resposta foi: TV a cabo e uma boa noite de sono.

            Na noite posterior, peguei o avião de volta para Goiânia. Já éramos melhores amigos eu e o avião. Nem pensava mais em Lost ou coisas afins como abduções extraterrestres com o avião em trânsito. Pensava em voltar com mais tempo e mais dinheiro – bem mais dinheiro – para poder ver mais coisas do estado, como o pantanal, as cachoeiras, as obras da Copa finalizadas (talvez), etc. Já havia visitado Mato Grosso antes, mas essa viagem, contarei em outra crônica.

            Até semana que vem com aventuras emocionantes em Jataí-GO! 


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