ThiagoDamasceno: Crônica: “A Vida é Uma Longa Canção”

sábado, 6 de abril de 2013

Crônica: “A Vida é Uma Longa Canção”

Crônica escrita em 06/04/12, na ressaca da gravação do álbum Cantos Urbanos, e revisada hoje, um ano depois.

“A Vida é Uma Longa Canção”

Por Thiago Damasceno

            É noite de sexta-feira. Choveu e está fazendo frio, mas a chuva já parou. Venho ao meu quarto, ligo o computador e tento estudar. Lembro que preciso fazer um layout novo pro blog. Uso uma foto que Heitor tirou em Carolina durante um dos dias de gravação de “Velho Silêncio”. Coloco ao lado da foto umas frases do Bob Dylan, que interpreto como um momento de autoconhecimento. Um momento que estou passando “jamais visto em toda a história” da minha vida. Lembrou do Lula? “Conhece-te a ti mesmo”. Já dizia a inscrição do Templo de Delfos, na Grécia Antiga. Dizem que Sócrates também defendia esse princípio.

            Lembro também que é preciso organizar o material pro blog “Viajante Clandestino”, onde eu e Heitor divulgaremos nossas músicas. Pego um DVD onde gravei todos os clipes que fizemos e assisto a todos. A saudade bate no peito. Mando um SMS pra Heitor dizendo: “A saudade dói, bixo”. Mais uma vez afirmo que as férias foram alucinantes. Pra saber mais, leia as crônicas “Seguindo Viagem”. Acho que nem as pessoas que estavam mais próximas da dupla dinâmica poderiam sentir o que sinto. Acho que só ele sente. De qualquer modo, não quero bater mais uma vez na mesma tecla. O momento foi único. É aí que começa a questão.

            Encosto meu rosto na grade gelada da janela do quarto, ainda sentado na mesma cadeira onde sento para ficar de frente ao PC, pois a janela fica ao lado do computador. As luzes da cidade estão acesas, uma ambulância passa gritando, a drogaria em frente começa a ser fechada, poucos carros passam pela rua, uns mendigos andam de lá pra cá. A cidade começa a dormir e enquanto o tempo passa as lembranças martelam na minha cabeça. Parece que aqueles meses rodeados por parentes, amigos e música envolveram outra pessoa que não era eu. Estranho como você olha pro seu passado e não se vê muito bem. Será que a mudança de uma pessoa, que ocorre entre o passado e o presente, é tão profunda assim a ponto da pessoa estranhar a si mesma?

            O budismo ensina a tentar não sofrer com o que aconteceu e com o que pode acontecer. Ensina a manter a mente serena e a se colocar no momento, evitando o apego, que seria, basicamente, a criação de expectativas irreais em cima de objetos, pessoas e momentos. Mas o próprio budismo admite que criamos expectativas. É da natureza humana. A prática meditativa nos ensina as lições difíceis e milenares pra não cair no apego. É muito difícil andar no chamado “Caminho do Meio”. É difícil lidar com a passagem do tempo. É difícil controlar a mente.


Estou me expondo muito? Talvez. Ou talvez eu só deva sentar no escuro do quarto e pensar sobre mim e minhas relações com as pessoas, objetos e fatos da minha existência, como fiz ontem. Talvez por isso eu tenha acordado hoje mais “pé no chão”. Estou me expondo muito? Talvez. E talvez este blog sirva mesmo pra isso ou eu apenas estou servindo ao meu narcisismo, essa necessidade que muitos têm de se expor. Ou talvez eu só queira que meus leitores me conheçam mais, ou simplesmente desabafar via Internet. Por onde andam os papéis?

Estou falando demais? Talvez. Ou talvez seja a hora de, mais uma vez, buscar refúgio na Arte, tal qual um típico romântico do século XIX. Quem disse que ela não tem suas funções? Talvez seja hora de escrever uns contos e quem sabe, depois, compor algumas músicas.

Ouço agora, após escrever esta crônica, meio que para aceitar a “realidade”, a canção “Life Is Long Song”, da banda escocesa Jethro Tull, que acaba com os seguintes versos:

“A vida é uma longa canção,
mas a música termina cedo demais para todos nós”.
(Ian Anderson)





Nenhum comentário:

Postar um comentário