ThiagoDamasceno: Crônica: CIDADE GRANDE, Cidade Pequena I

sábado, 20 de abril de 2013

Crônica: CIDADE GRANDE, Cidade Pequena I

Crônica escrita em meados de 2011 e revisada um dia desses.

CIDADE GRANDE, Cidade Pequena
I

Por Thiago Damasceno

        Sempre digo pros meus amigos: “Goiânia é uma pequena cidade grande”. Digo isso porque em qualquer lugar que você vai, em qualquer setor, em qualquer dia, você encontra um conhecido nesta cidade, mesmo que você não tenha a oportunidade de falar com ele e só veja seu rosto familiar desaparecendo lentamente na multidão. A cidade é grande, mas parece uma cidade do interior.

        Me comprovei esse fenômeno, já mencionado por sociólogos, no decorrer dos cinco anos que moro aqui. Esse fato é interessante porque a maioria das pessoas que migra do interior pra uma capital ou outra cidade grande (incluindo eu) entende, num primeiro momento, a cidade grande como um aglomerado de cidadãos, prédios, ruas, carros, crimes e outros elementos onde as pessoas não se conhecem bem e quase nunca encontram alguém conhecido (e também entendem tais cidades como primeiros alvos de possíveis invasões alienígenas). Tais ideias não são totalmente verdadeiras, mas as capitais são notáveis aglomerados impacientes. Entretanto, em Goiânia os encontros sempre acontecem. Até peguei a mania de contar quantos conhecidos eu encontro num passeio pela cidade. Mas vale lembrar que Goiânia, e nem toda capital brasileira, é uma São Paulo ou New York da vida, cidades das quais só ouço rumores. Nunca as vi fora da TV, nunca farejei seus ares ou andei por suas ruas.


        Conversando com uma amiga, eu falei minha primeira citação do texto e acrescentei: “O cúmulo dos encontros em Goiânia é você encontrar a si mesmo”. Disse após ter encontrado dois conterrâneos sem mais nem menos. Como seria, numa situação imaginária, encontrar a si mesmo? Você está andando e de repente se vê, mas não percebe imediatamente que é você, apenas sente algo familiar no indivíduo à sua frente. Nisso você estende a mão, ele retribui o gesto e você pergunta:

- Já te vi antes, né?

-Acho que sim. A gente deve ter sido em algum showzinho, festival...

- É mesmo... Mas e aí, como vai? Qual o teu nome?

-Algo me diz que você deve saber a resposta...

        Enfim, esse encontro de “eus” geraria uma conversa muito longa, interessante e curiosa (ou então o aniquilamento de ambos, conforme certas correntes da Física). Essa situação hipotética me lembra uma canção do Pink Floyd em que um trecho da letra diz: “Duas pessoas que andam na rua, dois olhares que se cruzam, de repente eu sou você e quem eu vejo sou eu”. E isso também me lembra a possibilidade de conversar consigo mesmo que uma cidade grande oferece. Afinal de contas, quantos pensamentos já não passaram por nossas cabeças voltando pra casa em algum ônibus lotado das 18 horas? Quantos projetos de vida já fizemos e desfizemos esperando o ônibus chegar no ponto em que o esperávamos? Quantas vezes, distraídos com as ideias, quase fomos atropelados andando pelas ruas?

            Nossas mentes seguem o ritmo das cidades e nossos corpos também.
      

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