ThiagoDamasceno: Crônica: CIDADE GRANDE, Cidade Pequena II

sábado, 27 de abril de 2013

Crônica: CIDADE GRANDE, Cidade Pequena II

NOTA: A Universidade Estadual de Goiás (UEG) está em GREVE. A situação é crítica: prédios em risco de desabamento, falta de água tratada em alguns campus, ausência de restaurantes universitários (R.U.s), necessidade de mais concursos para professores, mais bolsas de estudos para os alunos, etc, etc.
Cadê o governo estadual que prometeu desenvolver a Educação do estado?
Cadê a UEG exibida na propaganda eleitoral do PSDB?
Por quê diabos esse mesmo governo dá dinheiro a UFG enquanto a Universidade Estadual se complica cada vez mais?

PENSE BEM ANTES DE VOTAR

Para mais informações: http://www.movimentomobilizaueg.blogspot.com.br/


Mais uma crônica escrita há tempos e revisada em mais um dia desses...

CIDADE GRANDE, Cidade Pequena

II

Por Thiago Damasceno

        Na quinta-feira (14/04/11) encontrei um velho amigo de Carolina e ficamos zanzando pela cidade atrás de umas coisas. À noite, eu, ele e sua irmã fomos pro McDonald´s tirar os estômagos da miséria alimentar. Refletimos que em Carolina, assim como em qualquer cidade pequena, poderíamos ficar sentados nas mesas dos barzinhos por muito tempo sem se preocupar em voltar pra casa. Naquele dia estávamos preocupados com o horário do último ônibus e com a violência nas ruas, como sempre. Se tivéssemos carro ainda estaríamos preocupados com a violência. Sempre haverá mais preocupações nas cidades grandes do que nas pequenas. Nas cidades grandes se vive mais em relação a um sistema, traímos mais as nossas horas e a nós mesmos com as coisas que nós mesmos criamos (enquanto sociedade) e quando damos fé, estamos vivendo feito robôs, preocupados com a possível falha de uma engrenagem qualquer. Vivemos numa paranoia de tempo.

        Voltei pra casa de ônibus e peguei-o do lado errado. Não é novidade. Sempre acontece comigo quando vou pegar ônibus. Perguntei pra um homem de meia idade que estava sentado atrás de mim sobre como poderia voltar para o Centro. Ele respondeu e eu ri de mim mesmo. Fiquei pensando e minutos depois perguntei pra ele se eu poderia parar e voltar na avenida pelo qual o ônibus passava no momento. Ele disse que eu economizaria mais descendo adiante, em um terminal chamado Cruzeiro e concluiu irritado: “Quer gastar dinheiro à toa rapaz?” Fiquei calado. Na verdade eu queria dar 1 milhão de reais pra chegar mais rápido em casa e matar minha sede, embora eu não estivesse com “a sede, a sede de beber a vida em infinitas viagens”, como escreveu o poeta goiano Afonso Félix de Souza.


        Chegando ao Terminal do Cruzeiro, um terminal respeitável, reformado e decente com seu banheiro novo e aquela coisa boa chamada limpeza, uma senhora que estava no mesmo ônibus que eu e viu a dúvida passando furtivamente pelos meus olhos me guiou até o ponto onde eu poderia pegar um ônibus pra minha Terra Prometida. Ela aparentava ter entre 55 e 60 anos. Retribuí sua gentileza carregando sua sacola de compras. Quando entrei no ônibus ela acenou pra mim e disse um “Vá com Deus!”. Amém.

        Segundos após ter sentado, uma mulher entre os 45 e 50 anos sentou do meu lado e foi contando que estava cansada. Perguntei se ela estava trabalhando e a conversa rolou. Ela estudava num programa chamado EJA (Educação de Jovens & Adultos), pois abandonou os estudos quando engravidou aos 17 anos. Ela falou que estava arrependida de ter largado os estudos e cansada da vida de dona de casa, então voltou a pôr a cara nos livros. E ela disse que também falou isso pra uma amiga sua, questionando: “Cê tá satisfeita em ser dona de casa, em fazer comida pro seu marido o tempo todo?”. Fantástico! Muitas pessoas divertidas estão escondidas no anonimato do dia a dia. Ela desceu antes de mim e a conversa se encerrou. Foi um bom papo. Gosto de ouvir histórias, mas chega a ser bizarro e engraçado o fato de uma pessoa contar parte de sua vida pra um desconhecido simplesmente porque precisa de alguém pra desabafar. Ela me contou mais coisas do que relatei neste parágrafo.

        Cheguei em casa ainda vivo. O retorno nem foi tão perigoso assim, mas o perigo persegue a todos a toda hora. Fiquei pensando no homem que se irritou com minhas perguntas, na senhora solidária e na mulher que voltou a estudar. Fiquei pensando nesses vários personagens que o cotidiano nos apresenta meio que por acaso.

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