ThiagoDamasceno: Séries de TV: O Final de Lost (Parte 02)

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Séries de TV: O Final de Lost (Parte 02)


Comentando o Final de Lost – Parte 02
A Última Temporada e Perguntas & Respostas Para Entender a Série

Por Thiago Damasceno

            Iniciei meus comentários sobre o final de Lost no post anterior, comentando certos aspectos gerais da série. Agora comento a última temporada e exponho algumas perguntas e respostas fundamentais para entender (e revisar) o seriado e sua mitologia. Sábado que vem será concluída essa épica jornada de posts sobre o polêmico fim dessa grande série.


A última temporada

            Como disse antes, a trama central dessa temporada é a luta entre os irmãos Jacob e o “Homem de Preto”. Benjamin Linus (Michael Emerson) matou o carismático John Locke (Terry O´Quinn) e depois viajou com esse corpo e demais personagens em outro avião que também caiu na ilha. Essa queda já era prevista, pois segundo os cálculos de Daniel Faraday (Jeremy Davies), o avião passaria em um ponto dentro da trajetória da ilha pelo espaço-tempo. Após a queda do segundo avião, as coisas se complicam (como sempre).

O Homem de Preto (Titus Welliver) parece ser um espírito e se apossa do corpo de John Locke, persuadindo Benjamin Linus a matar Jacob (Mark Pellegrino). O conflito continua entre o Homem de Preto e os servidores de Jacob, pois o Homem de Preto quer fugir da ilha e os aliados do finado Jacob devem impedir essa fuga e proteger os candidatos, que são alguns sobreviventes do desastre aéreo original e que devem substituir Jacob na sua função de guardião da ilha.

Na temporada anterior alguns candidatos estavam nos anos 1970, mas com a explosão da bomba de hidrogênio no bolsão eletromagnético da Estação Cisne, eles voltaram ao presente e entraram no meio da luta dos irmãos. Porém, a explosão da bomba também produziu uma realidade paralela, onde os sobreviventes não caíram na ilha no primeiro voo, o Oceanic 815, e onde eles têm uma segunda chance para viver uma vida melhor, bem melhor do que suas vidas antes da queda do avião da Oceanic. A partir daí o seriado caminha para seu fim e, para uma série de TV, inova mais uma vez nos recursos narrativos, utilizando os chamados flashsideways, que mostram as vidas dos personagens na realidade paralela. As linhas narrativas dos episódios ficam então no tempo presente, na ilha, e nos flashsideways.

A caminhada final parece ótima, contudo, considero (e muitos outros) essa temporada como a pior da série. Lost acabou mal ao usar uma solução fácil para todos os seus personagens e enigmas, que foi a intervenção divina, o deus ex machina. Em outras palavras, no último episódio se descobre que todos os personagens estavam mortos, mortinhos da Silva! Entretanto, tudo que eles viveram foi real. Como disse antes, comentarei mais no próximo e ultimo post. Vamos agora para uma lista de perguntas e respostas que elaborei para revisarmos as tramas centrais.


Perguntas e Respostas Para Entender Lost

O que é a ilha?

            A ilha é um lugar mágico, palco do confronto entre duas entidades mágicas: Jacob e seu irmão, o Homem de Preto, como foi apelidado pelos fãs, pois em nenhum momento da série seu nome é informado, mas o chamam de “monstro” ou “fumaça negra”. (Sim, é ele!). Como está claro nesse ponto a presença do universal mito dos irmãos brigões, como Caim e Abel, Jacó e Esaú, Thor e Loki, chamo o irmão de Jacob (Jacó, em português), de Esaú.

            As propriedades da ilha desafiam a lógica e a ciência atual, mas a maior de todas é a sua capacidade de viajar no espaço e no tempo. Isso é devido aos seus bolsões eletromagnéticos subterrâneos, bolsões que a Iniciativa Dharma pesquisava nos anos 1970 com a intenção de manipular o tempo. Como a ilha se locomove constantemente pelo espaço-tempo, é muito difícil encontrá-la, mas os cálculos do físico Daniel Faraday permitiram prever sua posição, e é assim que alguns personagens voltaram à ilha na quinta temporada, recebendo as informações de Eloise Hawking (mãe de Faraday) e pegando um avião que passou num ponto da trajetória da ilha, provocando a “queda” do avião e seu posterior aparecimento na ilha.


Por que o voo Oceanic 815 caiu na ilha?
           
Durante suas pesquisas a Iniciativa Dharma perfurou um dos bolsões eletromagnéticos, o da Estação Cisne, causando um distúrbio energético. Para consertar o problema a Iniciativa passou vinte anos construindo uma escotilha com um código que deveria ser inserido em um computador a cada 108 minutos. O código era a sequência 4, 8, 15, 16, 23, 42. O mecanismo do computador e da digitação do código libera uma energia que neutraliza a energia eletromagnética liberada pela perfuração, impedindo possíveis acidentes. A digitação do código foi feita por anos por Kelvin e seu parceiro, Desmond David Hume (Henry Ian Cusick). Como os dois viviam trancados na escotilha, sofriam muito estresse, até que certo dia brigaram e acidentalmente Desmond matou Kelvin, numa praia, quando este tentava fugir da ilha em um veleiro. Após o assassinato, Desmond voltou correndo para a escotilha, pois o prazo de 108 minutos já estava acabando, mas ele não chegou a tempo, causando um pequeno terremoto na ilha. Mesmo assim, Desmond digitou o código depois dos 108 minutos e o acidente foi controlado, entretanto, seu pouco tempo de existência foi suficiente para derrubar o avião da Oceanic, que “aparentemente” estava passando pelo lugar errado na hora errada...

Disse “aparentemente” porque houve um motivo maior por trás da queda do avião, motivo que será discutido mais a frente.



Quem são Jacob e Esaú? Qual o motivo de suas brigas? O que é a fumaça negra?



            O 15º episódio da sexta temporada, Across The Sea, põe luz em muitas questões. A disputa entre os irmãos tem como base a missão de Jacob de não deixar seu irmão sair da ilha. Tudo começou na Antiguidade, com o naufrágio de um navio e a sobrevivência de uma tripulante, a jovem Claudia. Após o naufrágio, Claudia acordou na praia e foi auxiliada por uma mulher que se dizia estar sozinha na ilha e que também havia chegado lá por acidente. Com mais perguntas de Claudia, como “Há quanto tempo você está na ilha?”, a mulher responde com “Cada pergunta que respondo leva à outra”, mostrando não querer revelar muito. Claudia está grávida e dá à luz ali mesmo na ilha a dois bebês. A mulher faz o parto, colocando um bebê em um pano branco e o outro, em um pano preto, marcando o início da simbologia de oposição dos dois irmãos. Tudo corre “bem”, até que a mulher mata Claudia golpeando-a na cabeça com uma pedra.

            Jacob e Esaú crescem ignorantes das suas origens e mãe biológica. Jacob usa roupas brancas e brinca com pedras da mesma cor e Esaú adota sempre a cor preta. Esse equilíbrio se quebra em um certo dia, quando os dois irmãos vêem outros homens na ilha. Até então pensavam que viviam sozinhos com sua mãe. Viviam tão isolados que nem conheciam certas palavras e pensavam que eram os únicos humanos naquele local e que não havia outro lugar no mundo além da ilha. Esaú também vê o fantasma de sua mãe biológica e a segue, encontrando uma aldeia de homens, os outros sobreviventes do antigo navio naufragado. Outro mundo se abre para Esaú, pois até então ele pensava que nada existia além do oceano. Era assim que sua mãe de criação dizia. Revoltado com ela, Esaú vai embora e se une aos homens para encontrar uma forma de sair da ilha para assim, entrar em contato com o mundo exterior. 

            Jacob permanece com sua mãe de criação, mas visita Esaú frequentemente, até que descobre que os homens usam de conhecimentos e invenções (posteriormente chamados de “ciência”) para sair da ilha. Esaú lhe mostra um bolsão encontrado, onde eles crêem que está a saída do lugar, um dos bolsões futuramente explorados pela Iniciativa Dharma. Nesse bolsão os homens construíram uma roda de madeira semelhante (ou sendo mesmo) à engrenagem da futura Estação Orquídea que, quando girada, transporta quem a girou para o mundo exterior.



Sabendo do fato, a mãe dos irmãos mostra a Jacob o lugar da ilha em que ele deve proteger, que ela chama de Luz ou Coração da Ilha, uma pequena cratera em um riacho. Ela já havia mostrado o lugar antes para os dois irmãos, mas agora ensina o caminho a Jacob e lhe dá a função de guardião da ilha. Dessa cratera sai uma forte luz amarela, que é a fonte da ilha, de onde vem morte, vida e renascimento. A mãe de Jacob lhe diz para não entrar lá e proteger o lugar, além de não deixar seu irmão sair da ilha, pois coisas horríveis iriam acontecer.


No fim desse caso de família, Esaú mata sua mãe e Jacob luta com ele, deixando-o inconsciente e jogando-o no coração da ilha. Momentos após Esaú cair na cratera de luz, a fumaça negra sai de lá, bastante agitada. Jacob a segue e encontra Esaú morto nas pedras. Então ele o enterra ao lado de sua mãe nas cavernas, as mesmas cavernas em que Jack encontra água, na primeira temporada, e descobre os dois esqueletos, o de Esaú e o de sua mãe. A fumaça negra é Esaú e tem sua origem na entrada dele no coração da ilha.




Voltando a uma questão anterior, qual o motivo maior da queda do voo 815 da Oceanic?

            Quando a mãe de Jacob lhe mostra o Coração da Ilha e diz que ele será seu guardião, lhe enche um copo com água do riacho, murmura algumas palavras e dá a água para ele beber, dizendo que agora ele é igual a ela. Dessa bebida mágica vem a habilidade de Jacob de não envelhecer (ele e seu irmão estão “vivos” desde a Antiguidade). Ela diz que seu tempo acabou e que agora é a vez de Jacob. Quando o tempo deste acabar, ele deverá escolher outros. E como a sexta temporada mostra, Jacob foi atrás de outros para substituí-lo, ou seja, de candidatos, que são Jack, Katie, Sayid, Jin e Sun Kwon, Hugo e James/Sawyer. Alguns ele escolheu desde pequenos, como Kate e Sawyer, os demais, quando já estavam adultos, aparecendo em pequenos e cruciais momentos das vidas dos personagens. No caso de Sawyer, Jacob lhe deu a caneta para que ele continuasse a escrever uma carta ao assassino de seus pais. Sawyer era criança e estava no funeral do seu pai e da sua mãe.


No próximo sábado postarei o terceiro e último texto “Comentando o Final de Lost”, destacando a influência de três gêneros literários na série: o estranho, o fantástico e o maravilhoso, além do recurso narrativo deus ex machina.

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