ThiagoDamasceno: Séries de TV: O Final de Lost (Parte 01)

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Séries de TV: O Final de Lost (Parte 01)


Comentando o Final de Lost – Parte 01
Comentários Gerais


Por Thiago Damasceno

           
             Assisti toda a série Lost nesses últimos meses. Concluída essa “missão”, escrevi um texto comentando seu discutido final, que é amado por uns e odiado por muitos. O texto ficou enorme, então o dividi em três posts. Neste primeiro, faço um comentário geral sobre o seriado. Postarei o segundo texto no próximo sábado, onde farei uma lista de perguntas e respostas para entender e revisar o enredo básico da série. No terceiro texto, comentarei exclusivamente o final desse marco da cultura pó, sob a perspectiva da literatura. Esses textos têm boas informações (e guias) para quem viu a série ou para quem ainda não a viu e não se incomoda com spoilers.


           O seriado Lost foi criada por J. J. Abrams, Jeffrey Lieber e Damon Lindelof e produzido pelos estúdios ABC, Bad Robot Productions e Grass Skirt Productions, tendo sido exibido pela Rede ABC nos EUA. Aqui no Brasil, foi exibido pelo canal fechado AXN e pela Rede Globo. Entre 2004 e 2010 a série foi a mais cultuada pela Internet afora, reunindo elementos dos gêneros drama, suspense, aventura, fantasia e ficção científica, causando agitações nas redes virtuais com discussões e teorias dos fãs sobre seus temas: natureza misteriosa e selvagem, aparições fantasmagóricas, monstros de fumaça, números amaldiçoados, viagens no tempo, dramas inteligentes, entre outros. A série começou bem, porém, a partir da terceira temporada sua qualidade (em termos de estória, e não de produção) começou a cair até chegar à sexta e última temporada, a mais fraca, que usou o atualmente banal recurso narrativo deus ex machina, que será discutido na terceira e última postagem sobre o final da série.


O Começo

            O episódio piloto começa mostrando Jack Shepard (Matthew Fox) abrindo os olhos. Quando o médico se levanta, vemos que ele está caído em um bambuzal. Ouvindo gritos, ele corre para uma praia e quando chega lá, se depara com um avião caído e muitos mortos e feridos. Desse desastre sobreviveram 48 pessoas, os passageiros do vôo Oceanic 815, que caiu numa ilha do Oceano Pacífico. Como se essa tragédia não fosse suficiente, a ilha está fora dos mapas e é perigosa e mágica. Os personagens percebem isso na primeira noite quando ouvem ruídos metálicos que destroem árvores. E assim começa essa grande saga, com seus personagens postos num Mundo Especial hostil, estranho e muito, mas muito misterioso.

            A primeira e a segunda temporada são impecáveis. O desenvolvimento dos personagens é feito mostrando-os na ilha e em flashbacks, nas suas vidas antes da queda do avião. As estórias são exibidas assim, com duas linhas narrativas por episódio, às vezes três, garantindo uma dinamicidade desvairada que me fazia ver quatro a oito episódios por dia. Sendo gravada em Oahu, no Havaí, e com um grande elenco, Lost consolidou um elevado padrão de produção para TV e considero que seu ápice são as duas primeiras temporadas. Enigmas deslizam pelos episódios: parentes falecidos dos personagens aparecem; um monstro de fumaça negra ataca o que bem entende; são descobertas escotilhas da Iniciativa Dharma, um projeto científico desenvolvido na ilha nos anos 1970; os Outros, habitantes da ilha desde antes da queda do avião, atacam os sobreviventes; etc, etc. Nas temporadas seguintes, mais personagens são introduzidos junto com novos mistérios. Algumas tramas são solucionadas, como a causa da queda do avião, mas o número de enigmas sem solução ainda permanece maior. Creio que foi nisso que os roteiristas de Lost pecaram: no excesso de personagens e mistérios, gerando consequentemente, uma enorme dificuldade para criar boas soluções para tudo.


O meio

            A qualidade da série caiu drasticamente (mais uma vez, em termos de estória) na primeira metade da terceira temporada, tendo como reflexo a queda de audiência nos EUA, indo de 18 milhões para 15 milhões de espectadores. Essa queda se acentuou de 12 milhões para 9 milhões entre o final da quinta temporada e o início da sexta. Claro que devemos levar em conta os downloads feitos pela Internet. Apesar da qualidade da série ter diminuído, ela ainda estava à frente de qualquer outra série produzida na época. A produção de Lost foi uma coisa cinematográfica. 

            A terceira temporada começa fraca, mas a série recupera seu fôlego na segunda metade dessa temporada. Até então os episódios estavam menos dinâmicos e o recurso dos flashbacks já se mostrava esgotado, sem contar os enredos fracos e arrastados, como os sofrimentos de Jack, Kate e Sawyer na cidade dos Outros e o perigo que o Sr. Eko (Adewale Akinnoueye-Agbaje) corre sendo quase comido por um urso. E mais mistérios foram aparecendo. Mas considero a grande virada da terceira temporada o 14º episódio, Exposé, que foca na trágica estória de amor dos personagens secundários Nikki (Kiele Sanchez) e Paulo (Rodrigo Santoro), culminando nas suas mortes bizarras, bem ao estilo Lost.

A quarta temporada foi a menor da série, com 14 episódios, e focou em um cargueiro que Charles Widmore (Alan Dale) enviou para procurar e matar Benjamin Linus (Michael Emerson), além da possibilidade dos sobreviventes irem embora. Os roteiristas deram mais uma mostra de sua criatividade trabalhando com flashforwards, linhas narrativas/cenas que mostram a vida de alguns sobreviventes no futuro, já fora da ilha. Os que conseguiram sair são chamados de Seis da Oceanic (Jack, Kate, Hugo, Sun, Sayid e Aaron). Os flashforwards, abordando os futuros dos personagens, criam dúvidas sobre como eles conseguiram sair da ilha, que além dos seis já citados, também há o piloto Frank Lapidus (Jeff Fahey) e o vilão Benjamin Linus (Michael Emerson). É fato que os roteiristas e produtores de Lost, usando recursos narrativos clássicos ou inovadores, dominam esses recursos e prendem o público ao que contam.


          Na quinta temporada, as linhas narrativas gerais mostram as vidas dos personagens que escaparam da ilha e as vidas dos personagens que permaneceram na ilha. Esses últimos começam a experimentar viagens no tempo e o ponto forte dessa temporada são essas viagens. O seriado assume mesmo o caráter de ficção científica. Desde a segunda temporada são mostrados muitos livros, como A Volta do Parafuso, de Henry James, mostrando a presença do gênero fantástico na série, Ratos e Homens, de John Steinback e Uma Breve História do Tempo, obra marcante do genial físico Stephen Hawking, cujas últimas ideias foram expostas em sua obra mais recente, Uma Nova História do Tempo. Mais personagens são desenvolvidos, como Charles Widmore, Eloise Hawking (Fionnula Flanagan) e os irmãos Jacob (Mark Pellegrino) e seu irmão gêmeo, o “Homem de Preto” (Titus Welliver). Mais mistérios são solucionados e outras respostas já podem ser formuladas, mas muita coisa ainda permanece em aberto.


            A quinta temporada terminou de forma empolgada, cheia de aventura ao estilo Indiana Jones; O Mundo Perdido, de Sir Arthur Conan Doyle, e demais tramas aventurescas. Alguns personagens seguem o conselho do físico Daniel Faraday (Jeremy Davies) e decidem jogar uma bomba de hidrogênio no instável bolsão eletromagnético da Estação Cisne, na tentativa de apagar tudo que aconteceu com eles na ilha. O clima de correria à moda de Caverna do Dragão (todo mundo desesperado para voltar para casa) é bacana, mas os motivos que levam alguns personagens a destruir a estação são confusos, pois esses já estavam com suas vidas perdidas antes de irem à ilha e realmente viveriam melhor permanecendo naquele mundo paradisíaco. Como exemplo, Jack, que voltou à ilha por livre e espontânea vontade por passar a acreditar em Destino, mas iria querer sair da ilha de novo para quê?



Outros também voltaram porque quiseram, como Hugo, Sun e Kate, mas esses tinham objetivos claros. Benjamin Linus também voltou, mas é outro que também não tinha um motivo preciso. No caso de Linus, se todos queriam ir embora (de novo), por quê ele não lembrou de girar a engrenagem da Estação Orquídea, que transporta quem a gira direto ao deserto da Tunísia?


Claro que Linus é um vilão, mas a partir dessa temporada uma coisa que me incomodava era o fato dos personagens não revelarem certas coisas aos outros, coisas que facilitariam a vida de todos e deixaria a trama mais clara. Se bem que toda trama tem isso, um fator necessário para o seu andamento e parar gerar suspense. Frank Lapidus e Sayid (Naveen Andrews) entraram de gaiatos no navio, ou melhor, no segundo avião que caiu na ilha. O último episódio da quinta temporada, O Incidente – Parte 02, termina bizarramente com a bela Juliet Burke (Elizabeth Mitchell) sendo puxada (junto com todas as peças de metais próximas) pela força eletromagnética do bolsão e explodindo a bomba com as próprias mãos, quase morta no fundo do buraco. A tela fica branca e a quinta temporada termina.


O final (?)

            Ao contrário do que os personagens esperavam a explosão da bomba de hidrogênio não os tirou da ilha. Eles continuaram lá, bem no meio do conflito entre os dois irmãos: Jacob e o “Homem de Preto”, trama central da sexta temporada.


Contudo, a explosão gerou uma realidade paralela, onde o voo 815 da Oceanic não caiu na ilha e os personagens puderam seguir suas vidas, de formas diferentes, mas sempre com um cruzando o caminho do outro, como se o Destino agisse. O mesmo Destino age para que eles vivam de uma forma que consigam reparar seus erros feitos antes daquela vida em que eles caíram na ilha. Benjamin Linus, por exemplo, passa a ser um solidário professor de História Europeia, Jack aprende a conviver com seu filho, James “Sawyer” Ford é um policial honesto, parceiro de Miles, que na outra vida era um vidente vigarista.

            Enquanto isso na ilha...

            Com a morte de Jacob (assassinado por Benjamin Linus) e a posse do corpo de John Lock (Terry O´Quinn), também assassinado por Linus, pelo “Homem de Preto”, a “guerra” pela ilha começa. Na verdade, é mais uma batalha do que uma guerra propriamente dita. Ilana (Zuleiha Robinson) é a última servidora de Jacob e tem que garantir a segurança dos candidatos, mas acaba morrendo em um acidente com bananas de dinamite, acidente típico em Lost. O imortal Richard Alpert (Nestor Carbonell) fica desesperado com a morte de Jacob e diz que todos estão no Inferno. Realmente, ele tem alguma razão, mas continuaremos essa jornada de perdição com candidatos, viagens no tempo, realidades paralelas e Inferno no próximo post, onde comentarei o final do seriado e elaborarei perguntas e respostas fundamentais para entender a série e sua mitologia.


“Viver juntos ou morrer sozinhos”.
(Jack Shepard)










Um comentário:

  1. Muito bom cara. Vou ver. Aliás faz tempo que nao vejo a palavra estória. hahahaha! Vamos ao proximo post.

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