ThiagoDamasceno: Crônica: “Crepusculário”

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Crônica: “Crepusculário”


“Crepusculário”

Por Thiago Damasceno, sobrevivente do Armageddon maia

“É engraçado. A gente nunca devia contar nada a ninguém.
Mal acaba de contar, a gente começa a sentir saudade de todo mundo”.
(O apanhador no Campo de Centeio)

            Um dia desses, andando e matando o tempo em uma enfadonha formatura, parei perante um notável exemplar de graça e beleza do sexo oposto. Observei-a do meu canto e continuei observando do mesmo lugar após ela ter saído de onde estava, mas então eu já observava algo mais belo, maior, mais profundo e mais poético. Vi o oeste que estava perdendo seu azul e ficando cada vez mais negro. O Sol estava se pondo. Era mais um crepúsculo.

            A memória da gente é engraçada. Lembramos mais facilmente o que nos causa interesse e esse interesse depende das nossas ligações emocionais com determinados fatos. E às vezes, até tais fatos importantes aparentemente são esquecidos, mas basta ver ou ouvir alguém ou alguma coisa que estava relacionado ao que aconteceu que lembramos certas coisas, e constatamos que “não lembrávamos que lembrávamos”.

            Aquele crepúsculo serviu de gatilho à minha memória. Imediatamente lembrei dos muitos crepúsculos que vi na minha pequena cidade natal, do píer na beira do rio. Também lembrei dos crepúsculos quando não havia píer. Eu lembrei, eu vi. Eu me vi sentado em frente ao rio, “ventaniado” pelo suave vento quase frio, ouvindo a água bater no concreto, observando os reflexos e ondas da água, assim como bolos de espumas flutuantes vindos da fábrica, um cheiro de peixe, o tranquilo e constante barulho abafado de uma canoa amarrada sendo agitada pela água e lutando contra a corda que a amarrava em algum toco na beira do rio.

               Lembro também do tom azul morto do céu, com as primeiras estrelas aparecendo, às vezes algum planeta. Aquele cheiro de pele queimada e protetor solar. Aquele ar de fim de tarde e um bilhão de expectativas para a noite. Parecia que o mundo iria começar ao contrário, numa noite, e não em um dia. “E disse Deus: Haja noite! E o mundo começou”.


               Lembrei de alguns amigos, um violão, umas canções, um poeta conterrâneo que me passava pela cabeça dizendo “Uma parte de mim é todo mundo: Outra parte é ninguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem”. E ele não é o mesmo que escreveu “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”.

            A canção “Veraneio”, do Viajante Clandestino, aborda tudo isso e muito mais. “Veraneio” é a canção mais pessoal que já compus. Destaque pra chegada da noite no fim do clipe e a citação de alguns versos do poeta, também conterrâneo, Nonato Pires.


           Estou nostálgico? Claro. Talvez por isso eu esteja no futuro. Mas por mais que eu esteja em outros lugares e noutros tempos olhando pros crepúsculos, lembro sempre dos meus primeiros crepúsculos observados. Faço o meu “crepusculário”, uma coleção de crepúsculos, com os crepúsculos da terra natal. Os demais, talvez eu deixe na fila de espera.

“Muitas vezes já me despedi de quem vai e volta”.
(Veraneio)
           
            E é isso mesmo. Muitas coisas vão e voltam, de forma que é uma grande besteira ficar remoendo o passado simplesmente por remoê-lo, para pensar em como poderia ter sido. Por mais atraente que isso possa ser, muitas vezes é perigoso. Bom mesmo é sair desse espaço e buscar novos horizontes, procurar fazer um crepusculário com outros e vários crepúsculos. Lidamos com o tempo tendo em mente passado, presente e futuro. Percebo que certas vezes esquecemos esses dois últimos adjetivos. Disse adjetivos, e não substantivos. O que aconteceu não acontece mais, não existe mais, a não ser talvez, numa hipotética dimensão paralela.

Foto: Vilmar Rego


Obrigado a todos os leitores, ouvintes e internautas que acompanharam minhas (e nossas) atividades como músico e blogueiro. Em 2013, a partir da segunda semana de janeiro, volto com mais música, TV, literatura, cinema, etc. E agora, escrevo algo inédito na história da raça humana: Feliz Ano novo.


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