ThiagoDamasceno: Redação Para Concursos & Vestibulares – Parte 01

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Redação Para Concursos & Vestibulares – Parte 01


Redação Para Concursos & Vestibulares
Explicações, exemplos e dicas
Parte 01: Primeiras dicas, concisão, ordem & clareza

Por Thiago Damasceno

            O final do ano já chegou e os concursos e vestibulares vêm batendo à porta de muitos. Nada melhor do que ler algo que ajude nessa “missão”. Por isso resolvi escrever posts sobre o tema na forma mais clara possível, mas esses posts não serão de forma alguma um manual de redação, serão um conjunto de dicas e ensinamentos. Começo por este, com algumas abordagens simples, mas cruciais para um bom texto. Este informativo é um primeiro passo para uma escrita mais aprimorada. Aceito críticas e sugestões. Comentem!

- Primeiras dicas

            Começo citando a dica mais clichê, mas sempre útil. Acho que ela ronda nosso planeta de geração a geração desde que o Homem inventou esse negócio chamado escrita. A dica é a seguinte: quer escrever bem? Leia e escreva.

            Leia qualquer publicação. De livros a revistas de qualquer gênero, passando por jornais e anúncios de outdoors. Não existe a desculpa do “Tô sem tempo”. A leitura de um romance pede muito tempo, mas a leitura de um conto ou de uma crônica, não. Experimente ler uma crônica diariamente em qualquer jornal ou nos milhares de blog, inclusive neste (Olha eu vendendo meu peixe!). Para quem lê muito, parabéns! Para quem não exercita muito a leitura, olhos à obra!

            E quanto a escrever? É claro que você precisa escrever várias redações antes de escrever a tão esperada redação do concurso ou do vestibular. E o que pedem é dissertação. No próximo post falarei mais sobre essa categoria textual. Mas o bom é que você não precisa necessariamente escrever apenas dissertação, que é mais complicada, para alguns. Explicarei melhor.

            As provas pedem, geralmente, uma redação dissertativa, mas para quem não anda indo muito bem com a dita cuja, aconselho que se exercite também outros tipos de textos. Os tipos narrativos e descritivos, por exemplo. Que tal treinar a narração? Para quem tem gosta de inventar estórias, escreva contos ou até romances, se possível. Quem não gosta muito de inventar, pode escrever crônicas ou, melhor ainda, e muito mais fácil: um diário! Todo mundo sabe o que é um diário, mas em outra postagem falarei especificadamente dele. Logo a seguir há um trecho do diário de Zlata Filipovic, escrito quando ela tinha 11 anos. Nessa época, Saravejo, sua cidade natal, foi cercada por tropas sérvias durante a guerra civil da Iugoslávia.


Sábado, 23 de maio de 1992
Dear Mimmy,

            Nunca mais falei de mim para você. Falo de guerra, de morte, de ferimentos, de granadas, de tristeza e de sofrimento. Quase todos os meus amigos partiram. Mas mesmo que eles estivessem aqui, será que a gente ia conseguir se ver? O telefone não funciona, e não íamos poder nem conversar. Vanja e Andrej foram embora; para Dubrovnik, para a casa de Srdjan. Lá a guerra acabou. Tanto melhor para eles.  


            Quando eu era pré-vestibulando, bombei muito nas aulas de redação. Durante uma das aulas, que foi sobre o diário da famosa Anne Frank, decidi escrever um diário. E o fiz. Nem cansei muito, porque escrevia no computador mesmo. É muito mais fácil e rápido, além de proporcionar uma correção melhor. Mas quem prefere usar caneta ou lápis, mãos à obra também. O diário trabalha a memória e não exige muita criação, exige mais que você ordene os pensamentos, frases, trabalhe pontuação, além de permitir que seu autor brinque com as palavras, usando figuras de linguagem, que só enriquecem a comunicação.  O diário é um tipo de relato. Para dar um exemplo, cito a seguir um trecho do capítulo 4 do livro On The Road – Pé na Estrada, que é constituído, basicamente, pelos relatos de viagem de seu autor, Jack Kerouac (1922-1969):

A mais incrível carona da minha vida estava prestes a aparecer: um caminhão, com uma plataforma de madeira na traseira com seis ou sete caras jogados em cima. Os motoristas, dois garotos agricultores loiros do Minnesota, estavam recolhendo toda e qualquer alma solitária que encontrassem estrada afora – eles formavam a mais simpática, sorridente e jovial dupla caipira que se pode imaginar, os dois vestindo um macacão, uma camiseta e nada mais, ambos ágeis e com pulsos grossos e um amplo sorriso de “cumequitá?” resplandecendo pra tudo e pra todos que cruzassem o caminho deles. Eu corri, perguntei: “Tem lugar pra mais um?”. Eles disseram: “Claro, sobe, tem lugar pra todo mundo”. (KEROUAC, 2008: 44)

            Como a ideia é falar brevemente desse trecho, desconsiderarei as noções estilísticas do autor e destacarei elementos que quero chamar a atenção do praticante da escrita. Sinta-se à vontade ao escrever, assim como Kerouac na sua prosa rápida, usando expressões poéticas como “alma solitária”, adjetivos e termos engraçados como “cumequitá”. Mas sinta-se livre dessa forma quando estiver praticando seu diário, e não uma dissertação. Nem toda metáfora ou “liberdades linguísticas” são bem-vindas em dissertações. Sugeri o exercício acima como exercício de diário ou qualquer outra forma de relato, enfim, para praticar a escrita.

            Quero lembrar também que é bom escrever não com regularidade, como muitos defendem, mas com metas. A regularidade cansa. E o que quero dizer com metas? Escrever um determinado número de textos por determinado tempo. Eu escrevo pelo menos dois textos por semana, sem me preocupar com quais dias ou horários devo escrever. Me preocupo apenas em escrever dois textos por semana, desde trabalhos universitários à anedotas. O diário pode ser escrito todo dia, ou não. O importante é que você não se canse e nem veja o ato de escrever como um estorvo.

            Então, a primeira dica é essa: escreva com metas, regulares ou irregulares. Aconselho escrever um diário. Lembre-se de escrever dissertações também. Fica a seu critério a quantidade de textos, mas pratique!

- Concisão

            Concisão é expressar ideias no mínimo possível de palavras. Isso ajuda na clareza (tópico seguinte) e logicamente, na compreensão do leitor e na economia de linhas e no tempo para responder uma prova. Este parágrafo já é um exemplo de algo conciso. Vamos agora para uma expressão sem concisão e outra mais enxuta. O exemplo vem da minha “famosa” crônica A Falta Que 5 Centavos Me Fizeram”. Para lê-la, basta ir ao lado nas “Postagens Mais Populares”.

Versão original

“O quanto uma mísera moeda de 5 centavos pode ser crucial em algum momento das nossas existências? Alguns podem ousar responder “Nunca!” Mas veja bem caro leitor, o destino nos reserva surpresas. Os eventos aqui narrados aconteceram comigo hoje, por volta do meio-dia”.

Versão concisa

“O quanto uma moeda de 5 centavos pode ser importante em algum momento? Alguns podem dizer que não, mas o destino reserva surpresas. O que narro aqui aconteceu comigo hoje, por volta do meio-dia”.

            Nas duas versões, passei a mesma ideia: “Por mais que se pense o contrário, uma pequena moeda de 5 centavos pode fazer falta em algum dia. Leia esta crônica e você verá”. Na “Versão Original”, coloquei mais adjetivos e chamei o leitor diretamente, o que é aceitável para uma crônica. Para uma dissertação é mais aconselhável um número menor de adjetivos e o tão pedido tom impessoal (falaremos sobre isso na próxima postagem). Na concisão, a grosso modo, não se enfeita muito o texto. O mais importante é transmitir com clareza. Por falar na dita cuja...

- Ordem & Clareza

            Um texto claro não deixa dúvidas quanto ao seu sentido. Essa sentença foi concisa e clara. Veja que a concisão e a clareza são “casadas”. Simplifique seu texto e ele será claro. Mas lembre que ser simples não é ser simplório. A ordem das frases é importantíssima. Coloque as frases na ordem mais lógica possível. Vamos ao exemplo que inventei:

Versão sem muita clareza

“Ao chegar ao castelo, recebeu Harry Potter um escudo viking, feito de aço e banhado a ouro, que estava acompanhado por um grupo de adeptos do Mago Merlim”.

            Hã? Os adeptos de Merlim estavam acompanhando Harry Potter ou o escudo viking? O pronome relativo “que”, mal colocado, gera essa dúvida. A função desse pronome é relacionar os termos e evitar repetição. Mas temos no parágrafo um problema de ordenação que gera um duplo sentido, uma ambiguidade.

Caso o pronome se refira a Harry Potter, deve ser colocado o mais próximo possível desse sujeito. Se ele ficar longe, parecerá que está se referindo ao “escudo viking”. Vamos melhorar?

Versão com clareza

“Ao chegar ao castelo, Harry Potter, que estava acompanhado por um grupo de adeptos do Mago Merlim, recebeu um escudo viking, feito de aço e banhado a ouro”.

            Pronto! Pronome “que” em um lugar mais adequado que levou a uma interpretação sem dúvidas do parágrafo. Lembre-se sempre que seu texto será lido por outras pessoas e que elas precisam entendê-lo, mas seus leitores não pensam do mesmo modo que você, então, procure sempre ser o mais claro possível em seus textos.

Espero ter ajudado com esta primeira postagem, que foi leve e introdutória. Mais posts virão. Até a próxima!


Referências

KEROUAC, Jack. On The Road - Pé Na Estrada. . Porto Alegre, L&PM Pocket, 2008.

NETO, Pasquale Cipro. Português passo a passo – volume 01. Barueri, Gold Editora ; EP & A, 2007.

SILVA, Rita de Cássia da Cruz. Redação para concursos e vestibulares. São Paulo, Digerati Books, 2008.

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