ThiagoDamasceno: Crônica: Melancolia & Máscaras

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Crônica: Melancolia & Máscaras


Crônica escrita no dia 25/10/11

Melancolia & Máscaras

Por Thiago Damasceno
           
            Uma cena não vai sair da minha cabeça enquanto eu caminhar sobre a face da Terra. Estava eu, hoje, há poucos minutos, sentado em frente da televisão, bebendo chá verde e ouvindo uma canção via TV/DVD Player. A canção se chama Silêncio, do grupo Heróis da Resistência, fundado em 1986 por Leoni, após sua saída do Kid Abelha. No refrão dessa belíssima canção, o famoso Leoni canta: “E a gente acaba a noite sempre assim. Bebendo orgulho e solidão. Chorando em frente da televisão, mantendo o silêncio pra ninguém ouvir, pra ninguém ouvir”.

            Eu estava melancólico (e ainda estou) devido a infortúnios que aconteceram dias atrás, devido à saudade de minha terra natal, de amigos e de parentes, como todo mundo. Não era tristeza, muitos menos apatia. Era (e é) melancolia. Se alguém me chamasse pra uma festa, eu iria, mas iria com a melancolia. Considero a melancolia um estado de espírito que deixa alguém pensativo e pessimista, mas que não impede nenhum tipo de ação. O pior que pode acontecer é o indivíduo melancólico ter um constante olhar voltado pro horizonte, como se estivesse procurando algo que perdera há muito tempo.

            E era assim que eu olhava pro céu de Goiânia, ficando pouco a pouco rubro por causa do pôr do sol. Pena que os malditos prédios cobriram o dormir do nosso astro rei. Pensei nas pessoas que andavam a pé e a carro pelas calçadas e ruas, querendo chegar logo em casa e descansar. Pensei também nos personagens que elas deviam ter assumido por todo o dia. Não é novidade que mostramos vários semblantes e caras & bocas pros outros. Somos atores que fazem vários personagens no cotidiano, mas só nós, no escuro e no silêncio dos nossos quartos, sabemos exatamente o que se passa conosco (ou não, para os mais perdidos). Ninguém é o que aparenta, de fato. Somos sinceros e autênticos entre quatro paredes.

Assim, pensando nos diversos personagens dos atores famosos e anônimos, concordei com Leoni, quando ele canta, ainda em Silêncio:  “Sempre que a noite chega e você não tem pra quem fingir. Só eu sei, o que isso dói”. A noite estava chegando e era hora de eu me despir de alguns personagens. Nessas horas sempre aparece alguém pra conversar, seja cara a cara, por msn ou via celular. Basta olhar a quantidade de “amigos” que temos no “Facebook”, “Orkut” ou “MSN”. Amigos, colegas ou conhecidos, sempre há alguém por perto.

Contrariando o canto de Leoni, fiquei em frente da televisão sem chorar e acompanhado a certa distância (via celular), mas acompanhado. Me levantei, sentei em frente ao meu PC e digitei esta crônica. Escrever alivia um pouco a melancolia. A Arte tem esse efeito. Schopenhauer que o diga. Se bem que a Crônica está entre o Jornalismo e a Literatura, mas tudo bem, é como diria nosso brilhante escritor mineiro, João Guimarães Rosa: “Escrevendo posso me esconder de mim”. Escrever seria, em parte, adotar outra máscara?

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