ThiagoDamasceno: Poemas: Espanto, Quem Tem Pressa Come Apressadamente

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Poemas: Espanto, Quem Tem Pressa Come Apressadamente



Espanto

Já dizia Gullar:
“A poesia nasce do espanto”
Um poeta não senta à mesa para escrever um poema
Ele senta à mesa porque um poema bateu à sua porta
E ele abre a porta
E torna-se refém das palavras
E as organiza, esteticamente, durante seu cativeiro

Porque os poemas nascem assim

Um poeta anda pela rua
Emociona-se
Ou defeca no banheiro
E repentinamente
É invadido por um enxame de palavras
Palavras loucas para serem resgatadas
E ficarem a salvo no papel

Alguns poemas nascem de lágrimas
Outros de dores, saudade, sonhos ou alegrias
Mas de fato, nascem do espanto
Porque nem sempre são esperados
Mas sempre são bem-vindos


Thiago Damasceno



Quem Tem Pressa Come Apressadamente

Os pedestres têm pressa
Os carros têm pressa
Os famosos, os anônimos
Os mendigos, os milionários
Os homens e as mulheres
Têm pressa

Os trabalhadores têm pressa
Os estudantes têm pressa
A natureza, a indústria
Os comerciantes, os desocupados
Os senhores e os escravos
Têm pressa

Os existencialistas, os marxistas.
Os epicuristas, os positivistas
Os neonazistas e os pacifistas
Têm pressa.
A guerra espera ansiosamente pela trégua

Muitos têm pressa
Até o tempo, que anda mais rápido a cada dia
Ontem eu tinha 5 anos
Hoje tenho 99
E amanhã estarei dentro de um caixão feito às pressas

Os cristãos, os maias e os cientistas
Marcaram o fim do mundo
Para depois de amanhã

É sempre tão cedo...
Ainda bem que esse “depois de amanhã” não tem pressa


Thiago Damasceno

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