ThiagoDamasceno: Crônica: O Furto, A Viagem, A Carolina

sábado, 1 de agosto de 2015

Crônica: O Furto, A Viagem, A Carolina

O Furto, A Viagem, A Carolina
Por Thiago Damasceno


Andar em ônibus lotado no final do expediente é um saco. Ainda mais quando furtam sua carteira! Claro que Goiânia não escapa dessas trollagens do Universo contra nós, meros mortais.
           
Estava na fila do Eixão pronto pra pagar as passagens quando Morena Tropicana ofereceu seus trocados. Então embarcamos. Ao descermos, não senti o peso da carteira no bolso. Oh, Céus! Fui furtado! Pela primeira – e espero que última – vez! Refiz meu trajeto e procurei nas lixeiras ao receber a dica de que os ladrões pegam só a grana e jogam as carteiras fora. Encontrei uma carteira, de fato, mas não a minha. Era de uma mulher. Só estava com seus cartões do banco e de lojas. Um instinto humanitário de solidariedade me fez pegá-la pra devolver à dona.

Nessa “brincadeira”, perdi RG, dois cartões de banco e uns R$ 300,00. Nada mal pra um primeiro furto.

E a viagem já estava comprada. Após analisar friamente, vi que o melhor seria continuar a empreitada, mesmo aos trancos e barrancos. E assim o fiz, não sem antes correr pra conseguir um B.O. e pegar om ônibus a tempo. Essas coisas deram certo no fim. O Acaso sabe o que faz.

Mas viagem pra onde? Pra velha terrinha natal, Carolina. Passei uma tarde rasgando o Tocantins em meio ao calor, calor e calor. Ah, e calor também. O ar condicionado da van fez o favor de estragar. Mas após uma espera ansiosa, daquelas que quanto mais você anda mais distante da chegada parece ficar... cheguei. Porém, cheguei no fim da festa, após toda uma galera e aquele espírito eufórico de Julho terem indo embora, mas cheguei a tempo de captar o essencial que quase nos escapa aos olhos.


Passados quase três anos, pus os pés na casa a avó e encontrei a anciã como da primeira vez que  lembro tê-la visto na infância, costurando em sua velha máquina ao final do corredor. Mas ela já não era mais do que uma memória. No meu íntimo, sabia que faltava apenas essa visão para entender que haviam passados os dias em que sua ancestralidade radiante reverberava pela casa.

Passada a lide com a mortalidade nossa de cada dia, era hora de rever os amigos. Nada como eles pra acalmar a tempestade interior. Após pôr a conversa em dias e alguns copos, o garçom nos traz uma garrafa de cerveja com a solene fala:

- Essa é a saideira!

            O costume dos barzinhos de expulsar os fregueses quando os garçons guardam as mesas e cadeiras enquanto ainda há clientes parece ser de praxe no Brasil, mas acho que só mesmo em Carolina isso chega a níveis de ousadia insuportáveis. Pois é... garçons dizendo qual garrafa é a saideira. Pelo menos bebemos socialmente.

            Hora de voltar pra casa. Dormir é pros fracos, e ainda bem, pois dormir é muito bom. Antes da cama, deitei os pés pelas ruas ancestrais, as ruas em que fui criado. A sensação é de mudança com mesmice. É complicado. É libertar o carrasco que te prendeu. É reviver um Thiago menino andando de lá pra cá com sua bicicleta Monark. É ter consciência que cada esquina, casa ou canto tem sua história com enredos, personagens e clímax. É assistir de camarote ao filme da sua vida. É compreender que não importa quantos lugares e pessoas você conheça, Carolina vai estar sempre lá, guiando.

            Sou só um mero mortal vindo cá e de volta outra vez.

  



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