ThiagoDamasceno: Psiquiatria: Comentando a Obra “Mentes Perigosas" de Ana Beatriz Barbosa Silva

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Psiquiatria: Comentando a Obra “Mentes Perigosas" de Ana Beatriz Barbosa Silva

Vizinhança Perigosa
Por Thiago Damasceno


“Meu caro Will, você já deve estar curado. Pelo menos do lado de fora. Espero que não esteja muito feio. Que coleção de cicatrizes você tem! Nunca esqueça quem lhe deu as melhores. E seja grato. Nossas cicatrizes têm o poder de lembrar que o passado foi real. Vivemos numa época primitiva, não, Will? Nem selvagens, nem sábios. O meio termo é sua maldição. Uma sociedade racional me mataria ou me utilizaria de alguma forma. Você sonha muito Will? Penso sempre em você.
Seu velho amigo, Hannibal Lecter”.
(Hannibal Lecter no filme “Dragão Vermelho”)

A leitura da semana foi tão sombria quanto o famoso personagem psicopata citado acima. Li Mentes Perigosas: O Psicopata Mora ao Lado, de Ana Beatriz Barbosa Silva. Ana Beatriz é médica graduada pela UERJ, psiquiatra pós-graduada pela UFRJ e escritora com uma bem sucedida carreira voltada à sua área de formação. Seu público-alvo é o público em geral, principalmente os não-acadêmicos em psicologia e psiquiatria.


            Mentes Perigosas trata sobre a psicopatia e os psicopatas com uma linguagem clara e emotiva, com leitura agradável (em termos de prosa e discurso, não em termos de tema). A obra também não deixa de mencionar o embasamento científico que os temas pedem e esse embasamento não compromete o entendimento do texto pelo público leigo. Pelo contrário. A base científico-psicológica do livro enriquece nossos conhecimentos acerca desses assuntos tão polêmicos e complexos. 


             Logo na Introdução a autora cita a fábula do escorpião e do sapo, na qual o escorpião mata o sapo mesmo após este ter lhe levado nas costas durante uma travessia em um rio. Pouco antes de morrer, o sapo pergunta ao escorpião o motivo daquele ataque. O escorpião apenas responde “Porque essa é a minha natureza”. A partir desse ponto de vista Ana Beatriz incia sua abordagem.

            Os termos psicopatia e psicopata vêm do grego psyche (mente) e pathos (doença), mas a autora já nos informa que os psicopatas não se encaixam no diagnóstico tradicional das doenças mentais. Os doentes mentais sofrem de delírios ou alucinações (esquizofrenia) ou têm grandes sofrimentos mentais (pânico, depressão, etc). Os psicopatas não são portadores desses males. Além disso, um psicopata sabe que é diferente das demais pessoas, sabe que é um psicopata. Ele tem noção disso. Então, o que é um psicopata?

Ana Beatriz aborda a psicopatia como um transtorno de personalidade na qual seu portador, o psicopata, possui maior atividade na parte racional cerebral, e não na emocional. As interconexões entre as funções racionais e emocionais dos psicopatas também são deficientes. Logo, o psicopata é mais razão do que emoção e não compartilha de certas características emocionais que são comuns aos seres humanos normais, como empatia, sentimento de culpa e profundidade sentimental. Os psicopatas não possuem consciência, que está diretamente relacionada à conexão entre as coisas e as pessoas, às capacidades de amar e de se colocar no lugar de outro. 

          Como se não bastassem serem desprovidos dessas qualidades, os psicopatas ainda apresentam algumas características que permitem que nós os identifiquemos. São elas: conhecimento sobre vários temas, embora de forma superficial; grande capacidade de eloquência; egocentrismo e megalomania; comportamento impulsivo e necessidade constante de excitação – o que explica o caráter socialmente transgressor de muitos psicopatas. Com tais caracteres, os psicopatas burlam as leis e visam dominar as pessoas – mentalmente e corporalmente – com o intuito de terem prazer e/ou poder. Eles não se importam com os sentimentos e as vidas alheias, mas suas ações vão de leves e moderadas a extremas. Os mais “brandos” aplicam golpes financeiros, e os mais perigosos, homocídios sistematicamente planejados e com grande requinte de crueldade.

         Mencionei algumas características que o livro aborda com o objetivo de favorecer a identificação e a proteção contra essas criaturas. A autora cita vários casos – principalmente nacionais - e, embora mencione sempre características comuns aos indivíduos com esse perfil, ressalta que a psicopatia tem suas variantes, pois 4% da população mundial, entre homens e mulheres, apresentam o transtorno. 

       Além dessas considerações, destaco outra grande contribuição da obra, que é a desconstrução de certo estereótipos e sensos comuns que existem relacionados aos psicopatas e à psicopatia, que são:

1 – Psicopatas não têm aparência malvada e “suja” ou são o oposto, belos e charmosos. A realidade é mais complicada. Eles são indivíduos de qualquer idade – até crianças – e que estão em diferentes camadas sociais. Podem ser professores, médicos, grandes empresários, etc.
2 – Uma minoria dos psicopatas é homicidade e extremamente violenta. E boa parte passa a vida toda simulando uma vida normal, sendo “cidadãos de bem”.
3 – As causas da psicopatia não são apenas genéticas ou apenas culturais, mas oriundas do intercâmbio de ambas, mostrando a complexidade do fenômeno.

          Mentes Perigosas também aborda as temáticas da psicopatia infantil, maioridade penal e a polêmica discussão sobre o senso moral humano e animal. Para a autora, um indivíduo que tenha predisposição genética à psicopatia e que seja criado em um ambiente cultural que estimule seu transtorno inato será um psicopata perigoso cuja reeducação ou readaptação à vida social são impossíveis.

            A obra fala de um tema complicado e, muitas vezes, difícil de digerir. Não é fácil afirmar e acreditarmos que existe uma maldade inata e indivíduos que estão à solta por aí, sendo humanos na aparência, mas em termos mentais, praticamente não-humanos. Recomendo a todos a leitura da obra na íntegra. Continuarei minhas leituras sobre a temática e posteriormente postarei aqui as visões de outros estudiosos sobre esse sombrio assunto. 




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