ThiagoDamasceno: Crônica: Velha Roupa Colorida

domingo, 16 de setembro de 2012

Crônica: Velha Roupa Colorida

Velha Roupa Colorida
Por Thiago Damasceno

           
Era manhã de quarta-feira quando saí pela cidade pra comprar umas roupas. Roupas banais pro dia a dia. De volta a casa, aproveitei pra separar as roupas que ainda iria usar das roupas velhas que eu poderia vender prum brechó. Enfim, organizei o guardarroupa e percebi que cada roupa conta uma história.

Uma blusa do Pink Floyd que há tempos não usava só me lembrou as férias de julho de 2009 em Carolina, especificadamente num dia em que saí de bicicleta com os amigos rumo à região conhecida como Bom Jardim, principalmente prum lugar chamado Paredão pra banhar no rio. Isso não aconteceu mais.

Uma bermuda muito grande que ganhei de presente de aniversário e que nunca usei ainda se mantém nova. Ela não faz meu estilo. Nunca mais recebi outra igual. Uma blusa entre as preferidas, dada por uma ente querida há tempos distante, ainda marca presença no guardarroupa. Nunca mais apareceu alguém semelhante.

Esses objetos ativaram minha memória.

Um pensamento oriental diz que é sempre bom renovarmos as energias da casa tirando objetos velhos. Se eu acreditasse nisso diria que estava tirando a “energia suja” do quarto jogando fora umas roupas velhas e que algumas roupas velhas ainda foram deixadas no quarto com suas energias negativas talvez por mero apego humano de não querer jogar fora as histórias que elas contam.

Ainda velha, mas que eu sempre uso, minha blusa hippie, toda colorida, semelhante a que o grande cantor Joe Cocker usou no Festival de Woodstock, em 1969.


Como graduando em História, iniciei meu estágio este ano. Estou na fase de “regência”, onde ministro aulas, no meu caso, pro nono ano de uma escola estadual. Trabalho os temas da Guerra Fria com música e um dos temas que trabalharei será o movimento hippie. Li sobre a juventude da época, indústria cultural, música e outros temas. Quando vejo minha velha blusa lembro de Woodstock (marco do movimento hippie, da música jovem e da absorção do hippismo pelo capitalismo) e também do triste fato de que todo aquele sonho, aquele euforia e desejo de mudança de uma geração foram assimilados pelo capitalismo, sendo vendidos. Blusas hippies são a prova disso. O “poder das flores”, o “Verão do Amor”, a “Paz & O Amor”, “A imaginação ao Poder” são temas, slogans e ideias que viraram mercadoria. Lembro de John Lennon dizendo: “O sonho acabou”.

O sonho acabou e estamos agora acordados, mastigando assuntos que começaram a entrar nos debates públicos nas décadas de 1960, 1970: pacifismo, aborto, feminismo, drogas, meio ambiente, misticismo, etc, etc, etc. Será que nossa geração tem o mesmo desejo de mudança, o mesmo desejo de renovação, de reorganizar seu guardarroupa quanto as gerações anteriores?

“Você não sente nem vê, mas eu não posso deixar de dizer meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
E o que há algum tempo era jovem novo, hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer!”

(Belchior, Velha Roupa Colorida)



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