ThiagoDamasceno: Crônica: Goiânia, Cidade dos Ventos

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Crônica: Goiânia, Cidade dos Ventos


Por Thiago Damasceno

“Goiânia não ventaaa!!!”. Já ouvi essa sentença da boca de muitos goianienses. Engraçado é que tem anos que moro no sexto andar e tem dias que os ventos faltam é arregaçar as janelas de vidro. O calor de Goiânia não é ocasionado – muito menos explicado – pela suposta falta de vento, mas existe simplesmente por existir. O calor goianiense é um ser em si mesmo.

               Saio do médico e vou pedalar um pouco. Vento, vento, vento. Por todos os lados... vento. Desde ontem as tardes estão bem bonitas: claras, azuis, calmas, ventuosas. Leves, nutritivas e saborosas como uma crônica ao vento.

               Caminho pelo Centro, com um sapatênis com solado fino, sentindo com tudo o chão sob os pés. Vento, vento, vento... e vento. Acho que só assim é possível sentir de fato a cidade em que se mora.

               Namoro uns livros pelas livrarias, compro uma revista na banca da Goiás. É a Leituras da História, com a matéria sobre os refugiados na capa. Vento, vento, vento... do Oriente Médio à América do Sul.

              Leio sobre o sofrimento dos refugiados enquanto, desumanamente, engulo uma jantinha de espetinho de gato com uma Eisenbahn Pilsen no boteco da esquina. Leio uma opinião sobre o Trump, o garçom vê e puxa papo sobre o muro do México. Atualidades, garçom simpático, conversa oficial de boteco e enquanto isso... Tome-lhe vento!

               Volto pra casa pensando em todo o dia. Tento chegar a uma conclusão favorável da vida cotidiana enquanto o Sol se põe. Às vezes essa conclusão é sincera, às vezes minto pra mim mesmo. Mas tudo bem, acho que só o vento não mente.

               Ah, e por falar nele...

Vento, vento, vento. Por todos os lados... vento. Desde ontem minha vida anda leve, nutritiva e saborosa como uma crônica ao vento.


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