ThiagoDamasceno: Crônica: A Noite Goianiense

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Crônica: A Noite Goianiense

A Noite Goianiense
Por Thiago Damasceno


A noite goianiense cheira a cerveja, cheira à “cantina das trevas” e a uísque caro que leva ao mesmo efeito de uma pinga nacional boa e barata. A noite goianiense cheira à nicotina, porronca e maconha. Cheira a um perturbador alívio.

A noite goianiense cheira à ressaca e à sofreguidão da última noite mal dormida.

A noite goianiense cheira a vulvas e pênis tanto encharcados quanto ressecados. A noite goianiense cheira a arrotos imorais. Cheira a fogo e cinzas de prazeres.

            A noite goianiense cheira a pobres almas desesperadas mendicantes de atenção, a anjos em busca do Paraíso, a demônios viciados no Mal procurando em vão a salvação.

            Mas salvação não há na noite goianiense.

            A noite goianiense cheira a intelecto ansioso por gamas de assuntos, por questões, dúvidas e incertezas que aflijam o espírito e por isso mesmo o acalante, porque não há nada mais relaxante para a angústia existencial tu que viver em busca de respostas.  

            A noite goianiense cheira a você preferir ir a um pub onde uma banda faz cover do bom e velho Nirvana a ir a um show de uma banda internacional viajada cujo som não passa de um rockão antigo que começa a tocar numa daquelas cenas clichês de filmes hollywoodianos em que dois motoqueiros descolados entram num bar.

            A noite goianiense cheira à tua amiga te deixando em casa na calada da madrugada enquanto a cevada já corrompe teu senso de juízo e direção e ela já te fez todas as perguntas cujas respostas você só confessaria pra Deus ou pro Diabo.

            A noite goianiense cheira à busca por algo, mesmo sabendo que você não vai conseguir esse algo, mas que precisa quebrar a cara, pagar pra ver.

            A noite goianiense cheira à sobrevivência após andar por quebradas obscuras em um setor nobre. É na nobreza que se escondem os vícios. A pobreza nada tem a esconder, é explícita e declarada. A miséria é sincera. A riqueza mente.

            A noite goianiense cheira à lição de se satisfazer e se contentar com uma bela noite de sono. A cama está lá toda a te abraçar. 

            A noite goianiense chega ao fim no teu quarto silencioso enquanto aquela velha parábola zen fica a ecoar na tua mente cheia de conceitos e ideias até que você a acalme porque no final essa é a única saída que resta no beco da ansiedade.

            A noite goianiense cheira à tua sombra, cheira à tua projeção nublada no escuro.

            A noite goianiense cheira à meditação. Mas salvação não há na noite goianiense.



            Acesse também nossa página no Facebook:

Nenhum comentário:

Postar um comentário