ThiagoDamasceno: Portuguesando: Denotação e Conotação?

domingo, 24 de março de 2013

Portuguesando: Denotação e Conotação?

Qual a Diferença Entre Denotação e Conotação?

Por Thiago Damasceno

            “Você é um mala! Fica nessa vida pra você ver a bomba que você vai levar no fim do ano!” – disse uma amiga preocupada e direta para o seu amigo, que não era eu. Sempre fui estudioso. Mas essa expressão está mais carregada com denotação ou conotação? Leiamos este texto para responder a essa dúvida que há milênios assola muitos brasileiros! (Isso foi uma hipérbole).

            Toda palavra tem um significado habitual e direto. Mas também uma palavra pode ter vários significados, dependendo do contexto em que é usada. Por exemplo, a palavra “corrente”. Podemos pensar logo em um emaranhado de metal usado para prender alguém ou algo, mas quando lemos “O jornal anunciou que haverá uma forte corrente de ar frio” e “Sua culpa no homicídio é corrente” logo temos significados diferentes. No primeiro exemplo, “corrente” significa fluxo e no segundo exemplo, significa fato sabido de todos. Essa variedade e multiplicidade de significados é a famosa polissemia, que enriquece as línguas. Realizadas tais preliminares explicacionais, foquemos agora no objetivo do texto. Alguns exemplos foram tirados da apostila para concursos do professor Jonas Rodrigo Gonçalves.

            A denotação (ou linguagem denotativa) acontece quando usamos palavras e expressões nos seus sentidos usuais, literais, objetivos, conforme seus significados no dicionário. Por exemplo: “A corrente marítima manteve o barco na rota”. O sentido de corrente e barco nesse trecho são os habituais.

            A conotação (ou linguagem conotativa) acontece quando as palavras e expressões são usadas de forma criativa e original, adquirindo novos significados. Há muita imaginação, emoção e subjetividade na conotação. Como exemplo, um trecho da belíssima Roda-Viva de Chico Buarque: “A gente vai contra a corrente/ Até não poder resistir/ Na volta do barco é que sente/ O quanto deixou de cumprir/”. Corrente aqui pode ser visto como sinônimo de poder dominante e barco, como sinônimo de resistência. A canção fala sobre resistência durante a ditadura militar, poder político (corrente) dominante no período em que a obra foi composta.

            Por ser mais criativa, a linguagem conotativa é usada em textos literários, como romances, contos, poemas e letras de música. Outro exemplo são alguns versos do famoso poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias: As aves que aqui gorjeiam/ Não gorjeiam como lá/’. O eu-lírico do poema está distante de sua terra natal e expressa sua saudade. Podemos interpretar o poema no seu sentido denotativo? Claro, pois o eu-lírico sente saudades do canto dos pássaros de sua terra natal. Mas também podemos interpretar o poema conotativamente, pois aves também significam todas as diferenças entre a terra natal do eu-lírico e o lugar em que ele se encontra agora. Enfim, como diz a canção Sonho de Uma Flauta do grupo O Teatro Mágico: “Nem toda palavra é aquilo que o dicionário diz”.

            Porém, nem só de literatura vive a linguagem conotativa. Ela também é usada em textos não-literários escritos ou orais (reportagens, mensagens publicitárias) e na fala cotidiana, informal. No trecho do começo do texto: “Você é um mala! Fica nessa vida pra você ver a bomba que você vai levar no fim do ano!” temos significados criativos para “mala” e a expressão “levar bomba”, significados fáceis de entender para os fluentes em português. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário