ThiagoDamasceno: Crônicas: Seguindo Viagem

quinta-feira, 22 de março de 2012

Crônicas: Seguindo Viagem

Seguindo Viagem

Por Heitor Gomes Lopes
Numa ensolarada tarde de segunda-feira (05/03/12)
Carolina-MA

Thiago acaba de partir daqui de casa. Diz ele que tem de ir. Parece que a vida lá fora o chama... Alguma coisa assim. Foram 76 dias vendo ele todos os dias, desde o dia 21 de Dezembro de 2011, quando chegou em Brasília com seu violão, suas flautas e um tênis vomitado. Viemos juntos pra Carolina (MA), nossa terra natal.

Dois meses e meio simplesmente pra tocar, trocar músicas, compor, relembrar velhas parcerias, conversar sobre a vida, rever tanta coisa que a gente ama em Carolina.

A gente viveu. Tivemos férias alucinantes, botando em prova o conceito “Carpe Diem” que tão vemos desde os poemas neoclássicos até as músicas de Belchior. Fizemos tudo o que sabemos fazer de melhor, fizemos o que quase ninguém sabe fazer, com muita energia.
Enquanto estávamos aqui, ainda sentíamos saudade de tudo isso que ainda não tinha passado. Tudo isso que pra ele acabou de terminar e que pra mim só durará mais 4 dias.

Vai doer um pouco voltar à vida normal. Parar de mexer integralmente com música, entrar de cabeça no dia a dia que tenta tirar as canções da mente. Mas o Thiago tem uma ideia sobre como lidar com isso.

Ao final dessas férias ele começou a citar muito a frase do Kerouac, “a beleza das coisas deve estar no fato de terminarem”. Isso não me impediu de chorar um pouco na mesa do almoço. Não vai me fazer uma pessoa menos nostálgica. Mas acho válido. O passado, a medida que vai se tornando, vai ficando mais bonito.

A vida passa, os momentos vão virando memória, a gente sempre tem de colocar o pé na estrada e dar adeus às coisas. Quando a vida acaba, simplesmente, a maioria das pessoas se vai sem deixar nada nesse mundo, nenhuma marca. É por isso que vamos deixando nossas músicas por aí. Pra o mundo saber o que a gente fez. Pra o mundo escutar a nossa voz, já que temos algo a dizer.

Tenho de agradecer ao Thiago pelas férias. Pelas músicas, pelo sentimento de ser músico, pelas críticas... Mas principalmente, por deixar na minha memória muita história pra contar. Espero que ele tenha um bom ano, que por onde ele andar fale que somos camaradas e que possamos viver algo parecido com isso “quando o inverno voltar”, como ele diz na canção “Veraneio”.

Que nós sigamos nosso caminho agora, já que temos de viajar, mesmo sem saber se é isso que se deve fazer, se nosso lugar é aqui ou no centro-oeste. É por isso que somos “Andarilhos”, é por isso que somos “Viajante Clandestino”.

Até a próxima vez.


Seguindo Viagem

Por Thiago Damasceno
Numa nostálgica noite de segunda-feira (12/03/12)
Goiânia-GO
           
Passei parte das férias dizendo pra Heitor que faria vários textos sobre aqueles dias e que os postaria no blog. Isso não o impediu de começar a escrever primeiro que eu. Ainda bem, já que seu texto é de uma sensibilidade única e eu estava numa crise de criatividade profunda no campo “prosa”, que acabou agora. Publico os dois textos no mesmo post, pra chegar a “duas visões da mesma história”. Como se vê pelas datas, só consegui escrever algo uma semana após ter partido de Carolina-MA, devido à crise e à minha digestão das coisas....
           
Saí da casa de Heitor por volta das 12h30min daquela ensolarada segunda-feira. Me despedi dos seus pais, que estavam almoçando na casa em frente à sua e depois cruzei a rua pra ir à sua casa me despedir dele. Não precisei entrar na casa de novo, já que ele estava indo almoçar na casa em frente, com seus pais. Nos abraçamos no meio da rua mesmo, debaixo do Sol. Comecei a querer chorar. Ele foi almoçar. Vi que meu MP3 não estava na sacola que eu carregava e voltei pra pegar a chave da outra casa com ele e procurar meu aparelho na residência. Ficamos na calçada e nos poucos segundos em que ele ficou de me dar a chave, encontrei o MP3 enfiado no fundo da sacola que eu segurava. Era o motivo pra eu me despedir de novo e quem sabe, falar algumas coisas, algumas coisas que eu vinha pensando desde metade das férias. Sempre penso em tudo que vou falar e nem sempre falo.

Nos abraçamos de novo e dessa vez, chorei muito. Deformei meu rosto mal barbeado. Expressei toda uma onda de melancolia acumulada há dias. Seus olhos também começaram a lacrimejar e ele começou a dizer algumas que ele pôs no seu texto, algo de “obrigado por me fazer me sentir um músico...” Essas coisas... Eu que agradeço por ele ter arranjado e tocado muitas canções que eu não conseguiria tocar com tamanha qualidade nessa altura do campeonato. Também queria agradecer por todas as noites mal dormidas, consumidas em conversas e trocas de segredos, gargalhas e preocupações existenciais, pelas críticas, brigas e paciência por suportar minha personalidade exigente (e, às vezes, grosseira) na hora de mexer com Arte. Errei e acertei. Talvez mais errei do que acertei, mas o resultado são várias histórias pra contar, um álbum chamado “Cantos Urbanos” e uma amizade mais madura e estável.

Eu queria falar tudo isso na hora, mas não consegui. Me considero escritor, letrista e principalmente, compositor nato, alguns já até me chamaram e chamam de poeta, mas não encontrei palavras pra falar-lhe na hora. Ou melhor, eu até as tinha na ponta da língua, mas não consegui cuspi-las. Eu disse que depois a gente se falava e que eu ia fazer um texto sobre isso... Segui caminhando pela rua, rumo a um beco que me levaria pra longe dali e olhei pra trás, pra vê-lo por uma última vez. Ele estava olhando pra mim, com os braços cruzados, a cabeça erguida como que pra não deixar as lágrimas caírem e os pés firmes no chão, numa pose monumental de quem diz: “E aê, vai encarar?”.

Continuei chorando, mas não por muito tempo. O bendito/maldito Sol secou minhas lágrimas bem rápido. Só fiquei com uma careta de dor e com o rosto vermelho. Uma vermelhidão causada pelo calor do Sol e pelo o aumento do fluxo sanguíneo no rosto.

E por que choramos tanto? Ele mora em Brasília e eu, em Goiânia. Cidades próximas, podemos nos ver algumas vezes. E por que choramos tanto? Acho que não choramos tanto um pelo outro. Amigos que são amigos continuam sendo amigos ao se verem todos os dias ou de 10 em 10 anos. Choramos porque um momento marcante e muito bom havia acabado. Choramos porque explodimos, choramos porque ejaculamos nossas emoções em cada acorde, em cada ritmo, em cada nota cantada em “Cantos Urbanos” durante os 76 dias que nos vemos todos os dias. Foram muitas emoções trabalhadas e arremessadas em músicas. Esse álbum é parte das nossas vidas entre 2008 e 2012, período em que fomos embora de Carolina, nosso mundo seguro e perfeito até então. Período em que o mundo nos deu um tapa na cara e nos mostrou que é mais do que aparece na TV e nos livros.

Assim, aprendemos a falar sobre o cotidiano duro dos trabalhadores brasileiros (Vida de Cão), a desfrutar pequenos prazeres como andar à noite sem destino (Andarilho Noturno), a cantar sobre a terra natal com seus vícios e virtudes (Eu Vim de Longe) e a esperar alguém especial chegar em casa (Velho Silêncio).

Choramos por causa de tudo isso e muito mais. Pelos amigos que perdemos, pelos amigos que fizemos, pelos problemas com entes queridos, pela infância perdida, pelas perdas, pelos ganhos, pelos dias, pelo carpe diem, pelo mundo novo que nos espera aqui e sabe-se lá mais onde. Choramos por saudade, por risos, músicas, poemas, literatura, histórias, filmes, jogos, amores perdidos, possíveis amores futuros, futuro, cachorros, dinheiro, religião, filosofia, por uma gama de fatos, coisas e sentimentos. Choramos pelos 76 dias que talvez não se repitam. Chorei pelo que eu queria que acontecesse e não aconteceu, chorei por causa do Sol escaldante que queimava minha pele.

A cada dia a gente amadurece mais, mas parece que sempre há uma criança querendo que os dias fiquem eternamente iguais, pra ela poder brincar com seus amigos e ter seus brinquedos, seus entes queridos e aproveitar tudo isso como se não houvesse amanhã, mas o amanhã sempre chega. Ainda bem.

Como defende o escritor norteamericano Jack Kerouac, talvez a beleza esteja mesmo no fim das coisas. Então, que eu sempre tenha olhos pra ver o fim delas e a bendita intuição pra farejar pessoas alucinadas e iluminadas que saibam acompanhar isso.

Textos dedicados todos que participaram direta e indiretamente dessa história, a quem viu e ouviu a gente tocando por aí e a quem viu os clipes e baixou as músicas. São muitas pessoas, mas estão todas nas nossas memórias.  

Obs: Agradecimentos especiais a Orlean's Silva, que participou com sua guitarra elétrica na faixa "Geração Coca Zero".

“Dizem que a vida passa, os momentos ficam desvanecidos na memória e o presente fica pra trás... Então, as músicas, vamos deixando por aqui”.
(Heitor Gomes Lopes)

Baixe o álbum completo, gratuitamente:
Viajante Clandestino - "Cantos Urbanos" 

Clipes

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