Uma
Carta
Por Joana Lopes
Sexta-feira, 13/01/12
Abri os olhos e deixei o calor de uma madrugada mal
dormida correr pelo meu rosto. O cansaço deslizava da minha cabeça para minhas
pernas e se estatelava na maciez da cama. Pelos cantos dos olhos percebi a
claridade que invadia o quarto, tentando atravessar as janelas. Eu sabia que
seria mais um dia com céu azul, muito sol e o vento se desviando de nuvens
acumuladas aqui e ali. Seria um dia bonito totalmente diferente da noite
anterior, quando aquele amor que alimentei por alguns meses pediu que eu apenas
deixasse as coisas como estavam, sem sequer tentar me ouvir mais.
Gradativamente criei uma afeição maior que a amizade por alguém.
Eu precisava lhe falar e ele poderia sentir o mesmo por mim, ou não. Se não
sentisse o mesmo, diria “não” e no pior dos casos, poderia se afastar, como
fazem muitas pessoas quando somos sinceros e autênticos com elas. E ainda é uma
máxima de muitos dizer: “Seja você mesmo!” Você pode ser assim (se conseguir) e
se souber conviver com o afastamento de algumas pessoas. Não é tão fácil assim
ser espontâneo e ser aceito desse modo.
Levantei tonta da cama, querendo que a noite anterior não
tivesse existido. Olhei para minha amiga que dormia na cama ao lado, talvez com
os ouvidos doloridos de tanto ouvir meus desabafos por toda a noite. Andei pela
casa rumo ao banheiro e um monte de papel que estava em cima da mesa da sala
chamou minha atenção. Havia um envelope verde cheio de selos. Não resisti à
tentação e olhei seus dados. Quem havia mandado o documento, do Rio de Janeiro,
era o namorado da irmã de minha amiga. A irmã voltou para o Rio há dois dias. Parece
que hoje ou quem sabe amanhã, os dois amantes matarão suas saudades.
Pensei naquele envelope. As esperanças que eu tinha sobre
relacionamentos amorosos haviam morrido na noite anterior, mas aquela carta
mostrava que essas coisas estavam vivas em outros lugares e até à moda antiga,
no caso, uma carta.
Menos mal.
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