A
Noite Goianiense
Por Thiago Damasceno
A noite goianiense cheira a cerveja, cheira à
“cantina das trevas” e a uísque caro que leva ao mesmo efeito de uma pinga
nacional boa e barata. A noite goianiense cheira à nicotina, porronca e
maconha. Cheira a um perturbador alívio.
A noite goianiense cheira à
ressaca e à sofreguidão da última noite mal dormida.
A noite goianiense cheira a
vulvas e pênis tanto encharcados quanto ressecados. A noite goianiense cheira a
arrotos imorais. Cheira a fogo e cinzas de prazeres.
A
noite goianiense cheira a pobres almas desesperadas mendicantes de atenção, a
anjos em busca do Paraíso, a demônios viciados no Mal procurando em vão a
salvação.
Mas
salvação não há na noite goianiense.
A
noite goianiense cheira a intelecto ansioso por gamas de assuntos, por
questões, dúvidas e incertezas que aflijam o espírito e por isso mesmo o
acalante, porque não há nada mais relaxante para a angústia existencial tu que viver
em busca de respostas.
A
noite goianiense cheira a você preferir ir a um pub onde uma banda faz cover do
bom e velho Nirvana a ir a um show de
uma banda internacional viajada cujo som não passa de um rockão antigo que começa a tocar numa daquelas cenas clichês de
filmes hollywoodianos em que dois
motoqueiros descolados entram num bar.
A
noite goianiense cheira à tua amiga te deixando em casa na calada da madrugada enquanto
a cevada já corrompe teu senso de juízo e direção e ela já te fez todas as
perguntas cujas respostas você só confessaria pra Deus ou pro Diabo.
A
noite goianiense cheira à busca por algo, mesmo sabendo que você não vai
conseguir esse algo, mas que precisa quebrar a cara, pagar pra ver.
A
noite goianiense cheira à sobrevivência após andar por quebradas obscuras em um
setor nobre. É na nobreza que se escondem os vícios. A pobreza nada tem a
esconder, é explícita e declarada. A miséria é sincera. A riqueza mente.
A
noite goianiense cheira à lição de se satisfazer e se contentar com uma bela
noite de sono. A cama está lá toda a te abraçar.
A
noite goianiense chega ao fim no teu quarto silencioso enquanto aquela velha
parábola zen fica a ecoar na tua
mente cheia de conceitos e ideias até que você a acalme porque no final essa é
a única saída que resta no beco da ansiedade.
A
noite goianiense cheira à tua sombra, cheira à tua projeção nublada no escuro.
A
noite goianiense cheira à meditação. Mas salvação não há na noite goianiense.
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