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A Batalha do
Apocalipse
Da Queda dos Anjos ao
Crepúsculo do Mundo
Por Thiago Damasceno
A batalha final do Universo
se aproxima. As hostes celestiais lutarão uma última vez antes do despertar do
Altíssimo. A humanidade, com suas próprias guerras, também caminha para o fim.
No meio da linha de fogo está Ablon, o Anjo Renegado. Expulso do Céu após
liderar uma revolta contra o autoritário arcanjo Miguel, o Renegado se vê como
peça chave na política do mundo espiritual.
Essa poderia ser uma premissa do livro de fantasia A Batalha do Apocalipse: Da Queda dos Anjos
ao Crepúsculo do Mundo do jornalista, blogueiro,
escritor, roteirista e nerd carioca Eduardo
Spohr.
Capa do Livro |
Em 572 páginas de prosa
Spohr nos apresenta um universo ficcional que une o nosso mundo cotidiano – o
mundo material – ao mundo espiritual, composto por dimensões como o Inferno,
Paraíso, dimensão etérea, reino das fadas dentre outras de diversas mitologias.
Nascido
em 1976 e sendo um nerd desde cedo,
tendo viajado pelo mundo com seus pais, se formado em Comunicação Social e
trabalhado como jornalista, Spohr escreve bem e mescla com maestria elementos
de vários campos da cultura esotérica e popular, criando assim um universo
rico, coerente e divertido. Como se diz no Nerdcast
80: O Apocalipse, o livro de Spohr não é uma mera farofa. Suas influências vão
desde as mitologias grega e nórdica a obras como Highlander, Anjos Rebeldes (ambos
filmes criados e roteirizados por Gregory Widen), animes como Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco e filmes como os westerns de Clint Eastwood em que este encarna a figura do
“pistoleiro solitário”. Apesar da miscelânea de referências, a ficção de Spohr
não é uma mistureba sem sentido. A
Batalha do Apocalipse estranhou – e ainda estranha - alguns leitores, mas a
meu ver tudo fica nos eixos e tem sua identidade, bastando para isso abrir a
mente e aceitar que sim, há escritores nacionais no gênero fantasia e ficção
científica.
Fiz
menção de denominar a obra como “ficção” para deixar isso bem claro a pessoas
que possam levar o enredo do livro demasiado a sério – para o bem ou para o mal
– devido às suas escolhas religiosas e eclesiásticas. A Batalha do Apocalipse, como o próprio nome denuncia, tem como
foco a mitologia hebraico-cristã, expressa no Antigo e no Novo Testamento, mas
outras visões religiosas são abordadas na obra. Há outros deuses e criaturas.
Jeová - ou Yahweh - é apenas mais um, e o que saiu vitorioso das batalhas
cósmicas. Essa abordagem é adequada para uma obra sobre o fim do Universo, temática
que abarca outras concepções mitológicas e religiosas.
Vamos
conhecer essa ficção sobre o fim do mundo mais a fundo. Primeiramente farei um
resumo do Universo da obra e de sua trama. Em seguida, comentarei alguns aspectos
literários, elogiando sua narrativa mítica e épica, mas fazendo “vista grossa”
à técnica narrativa no que concerne aos seus pontos de vistas e aos diálogos.
Por fim, apresentarei um pouco sobre a história de criação e publicação do
romance, um marco da cultura nerd e
da atualmente chamada “literatura fantástica brasileira”.
Eduardo Spohr |
O
Universo de A Batalha do Apocalipse
Das
Batalhas Primevas ao Armagedon
Nos primeiros tempos da existência do cosmos o deus
Yahweh, da província da Luz, entrou em conflito com as entidades da província
das Trevas, lideradas pela deusa Tehom. Para auxiliá-lo, Yahweh criou os cinco
arcanjos: Miguel, Gabriel, Uziel, Rafael e Lúcifer. Juntos, os seis venceram as
entidades das trevas e Yahweh reinou absoluto no Universo, principiando suas
criações. Assim terminaram as chamadas Batalhas Primevas.
No Sexto Dia de criação - que para a noção de tempo do
Homem corresponde a milhões de anos – Yahweh criou a humanidade, dotada de alma
imortal e livre arbítrio, diferente dos anjos, com almas mortais e sem livre
arbítrio. Satisfeito com tudo que fez, inclusive com sua criação favorita, o
Homem, o Altíssimo adormeceu e deixou o comando do Céu com o arcanjo
primogênito, Miguel.
Quando a Roda do Tempo - artefato criado por Yahweh para
marcar a sucessão das eras - concluir seu ciclo, o mundo espiritual e o mundo
material se unirão em um só, a Batalha do Armagedon se iniciará e o Altíssimo
despertará para punir os injustos e coroar os justos. Assim afirma o Manuscrito
Sagrado dos Malakins, casta angélica considerada a mais sábia e conhecedora dos
segredos do Cosmos.
No contexto do tempo presente de A Batalha do Apocalipse, o crepúsculo do Sétimo Dia se aproxima e
os atores do Céu, da Terra e do Inferno se movem para a batalha final.
A
Ira dos Arcanjos
Sentindo inveja e ciúme dos humanos, o arcanjo Miguel
inicia uma série de ataques à Haled, denominação dada ao mundo dos homens.
Nessas investidas, alguns anjos se destacam, dentre os quais Apollyon, o Anjo
Destruidor, inimigo mortal de Ablon. Ambos pertencem à casta dos querubins,
casta dos anjos guerreiros, e comandam legiões.
Outras cruéis investidas contra os humanos foram a
destruição de Sodoma e Gomorra - pelas mãos de Apollyon - e o Dilúvio, por meio
dos poderes dos ishins, casta angélica que comanda as forças da natureza. Um
ishin envolvido diretamente no dilúvio foi Amael, o Senhor dos Vulcões, que
carregou o arrependimento por toda sua vida.
O dilúvio extinguiu as maiores civilizações dos
primórdios da humanidade, que foram Enoque, a Bela Gigante, e Atlântida, a
Pérola do Mar, chefiada por Órion, anjo amigo de Ablon. A dupla fraternal viveu
em Atlântida nos seus tempos de glória, quando Órion criou uma civilização
pacífica e desenvolvida, livre dos males e da violência. Os dois anjos levam
nos seus semblantes a nostalgia daquele belo passado remoto.
Ablon vs Apollyon |
Os
18 Renegados & A Queda de Lúcifer
Revoltado contra as arbitrariedades violentas de Miguel,
Ablon incitou 17 anjos de sua confiança a se rebelarem contra os arcanjos.
Ciente de que os arcanjos são invencíveis em poder, os revoltosos se uniram a
um poderoso que mostrou certo desagradado com as atitudes de Miguel. Uniram-se
a Lúcifer, a Estrela do Manhã. Porém, na assemble angélica em que se discutia a
destruição de Sodoma e Gomorra, Lúcifer denunciou a conjuração de Ablon e
Miguel condenou os 18 à Haled.
Essa renegação significou que nenhum dos 18 poderia
voltar ao mundo espiritual. Não poderiam atravessar o tecido da realidade.
O mundo material e o mundo espiritual são separados por
meio de uma membrana mística invisível, o chamado tecido da realidade. Essa
membrana é criada pela consciência coletiva humana. Ou seja, a medida que os
homens desenvolveram a ciência e o racionalismo, distanciando-se das práticas
religiosas primitivas, o tecido da realidade se engrossou e o mundo espiritual
revelou-se cada vez menos aos homens. Apenas os sensitivos e magos mais
poderosos continuaram a ver e interagir com os seres e elementos das dimensões
do mundo espiritual.
Os anjos, ao irem para a Haled, encarnam em avatares,
corpos físicos de aparências semelhantes aos seus corpos no mundo espiritual.
Esses corpos, apesar de serem mais fortes e rápidos e terem asas, podem ser abatidos.
Para acabar de vez com o avatar e a alma de um anjo, basta arrancar seu
coração.
Os 18 renegados ficaram para sempre presos em seus
avatares, tendo que aprender a viver como homens e, enquanto se adaptavam à
vida na Haled, Lúcifer ganhou prestígio junto a Miguel e usou disso para
arquitetar sua própria conjuração, desejando vencer o irmão Miguel e coroar-se
ele mesmo deus em Tsafon, o Monte da Congregação. Para isso, o arcanjo reuniu
um terço dos anjos contra seu irmão, mas perdeu a peleja, sendo expulso para o
Inferno.
Enraivecido, Lúcifer passou a culpar os renegados e
enviou demônios à Haled para caçá-los, sendo que Miguel também já enviava seus
agentes para aterrorizar a vida dos 18. Com o tempo, eles foram sendo
derrotados, principalmente pelas mãos de Apollyon, e Ablon se tornou o Último Renegado.
O
Crepúsculo do Sétimo Dia
A trama de A
Batalha do Apocalipse começa, no tempo presente, com o encontro de Órion e
Ablon no topo da estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, cidade escolhida
por Ablon para viver por pertencer a um país neutro perante os conflitos
militares, econômicos e políticos mundiais, realizados por dois grupos, a Liga
de Berlim (EUA, Japão e Europa Ocidental) contra a Aliança Oriental (Rússia,
China e Coréia do Norte).
Órion exerce a função de Arauto - arquétipo do mensageiro
– que leva uma mensagem ou missão para o Herói, arquétipo encarnado na estória
por Ablon. A mensagem é nada mais, nada menos que uma visita ao Inferno:
Lúcifer deseja falar com o Anjo Renegado. Este aceita se encontrar com Lúcifer,
mas não sem antes se proteger com a ajuda de Shamira, uma bela feiticeira que
ele conheceu na Antiguidade, nos tempos de poderio de Babel na Mesopotâmia. O
casal se encontrou em tempos importantes da história da civilização como na queda
de Babel, no auge de Roma, na Idade Média e na conquista de Constantinopla
pelos turcos otomanos em 1453. Utilizando a força de espíritos negros, Shamira
conseguiu manter sua juventude por séculos a fio, tudo com o intuito de um dia
poder viver pacificamente com seu amado Ablon.
O contratempo para a consumação do amor entre os dois é o
rapto de Shamira pelas mãos do Anjo Negro ou Anjo do Abismo Sem Fundo, um misterioso
agente de Miguel.
Enquanto a Batalha do Armagedon se aproxima, Ablon
precisa decidir se alia-se ou não com Lúcifer para enfrentar Miguel e encontrar
um jeito para entrar no mundo espiritual e liderar os anjos contra o arcanjo
primogênito, obtendo assim justiça e salvando sua amada. No caminho, nosso
Herói enfrenta vitórias e derrotas e encontra inimigos e aliados.
Ablon |
Por
falar no enredo, aproveito para registrar que minha parte favorita do livro é o
ataque de Ablon a Babel para salvar Ishtar. É uma verdadeira cena épica com um
andarilho encapuzado no deserto, um rei louco, um exército bem armado e uma
cidade lendária, com uma construção icônica como a Torre de Babel. Essa
passagem ficaria exuberante em um filme.
Também
adorei o final do livro, resolvendo tudo, sem deixar pontas soltas e a trazer
de volta pistas e soluções que o leitor esquece no decorrer da narrativa, mas
que sempre estiveram lá. As consequências do conflito apocalíptico fecham com
maestria o início da estória, dando a ela um tom mítico.
Aspectos
Literários
A
Batalha do Apocalipse: Um Épico
Eduardo Spohr optou por um narrador que faz uso de um
discurso épico, opção adequada para uma estória sobre a trajetória milenar de
Ablon, abarcando desde os primórdios da vida humana na Terra até o início dos
anos 2000, contexto do fim do Sétimo Dia.
Ablon encarna o Herói padrão. É honrado, corajoso,
valoroso e defensor da justiça. Na vez em que perdeu a cabeça, nos tempos
humanos da Idade Média, decidiu enfrentar Lúcifer no Inferno e foi mal, sendo
preso por 200 anos e condenado à morte. Foi salvo graças à Órion, seu amigo
fiel e Lilith, demônia que vivia em meio ao luxo e prazer. A relação entre
Ablon e Órion é de confiança total, semelhante a de Dom Quixote e Sancho Pança
e muitos outros. É a relação chamada “Amor de Companheiro”. A relação breve entre
Ablon e Lilith remete ao amor proibido, do mito de Orpheu. Essa relação
mitológica também perpassa a vivência entre Ablon e Shamira, sendo notável o
esforço desta para acompanhar seu amado pelo passar dos séculos.
Miguel é o vilão principal, encarnado o arquétipo Sombra,
cujos valores representam a energia do lado escuro São valores opostos aos do
Herói. Lúcifer encarna predominantemente – pois também é uma Sombra – o
arquétipo Camaleão, um ser mutável, que dissimula. Como ele mesmo e o ditado
popular afirmam: “O Diabo tem muitas faces”.
Sendo um épico, A
Batalha do Apocalipse inicia com o Manuscrito Sagrado dos Malakins
referindo-se a um tempo mitológico, ou seja, a um pseudotempo, muito distante e
remoto, que vai além da nossa forma matemática de contar as eras (BORGES, 1986):
“Há muitos e muitos anos, há tantos anos quanto o número de estrelas no céu, o
paraíso celeste foi palco de um terrível levante” (SPOHR, 2014, p. 9). Nossa
mente não pode contar com precisão esse tempo e, no final, ele se mostra ainda
mais mitológico.
Narração
O narrador da
ficção escatológica é onisciente e seu foco ou pessoa narrativa é a terceira
pessoa do singular, com traços de impessoalidade. Farei “vista grossa” à
questão técnica do ponto de vista, que é a perspectiva a partir da qual se
conta a estória.
O ponto
de vista predominante em A Batalha do
Apocalipse é o do seu protagonista, Ablon, mas esse ponto de vista sempre é
transferido para outros personagens durante as cenas. Por exemplo, em
determinada luta sabemos o que Ablon vê e pensa, e linhas depois ficamos
sabendo o mesmo do seu oponente. Como David Lodge (2011) afirma em seus artigos
sobre a escrita de ficção, mudanças de pontos de vista não são proibidas, são
feitas segundo as escolhas do autor, mas uma consistência mal organizada desse
aspecto técnico não contribui para a formação de sentido da obra, formação
feita com a leitura.
Claro, não há regras nem
leis determinando que um romance não possa mudar de ponto de vista quando o
autor bem entender; mas se essa decisão não for tomada de acordo com algum
plano ou princípio estético, o envolvimento do leitor, o processo em que o
sentido do texto se produz, será perturbado. (LODGE, 2011, p. 38).
Outra questão que surge nessa mudança inconsistente de
pontos de vistas é: por que temos conhecimento do que um personagem sente, vê e
ouve em certo momento e em outro não?
Como dito, tratando-se de criação, não há regras. Mas particularmente,
prefiro pontos de vistas mais consistentes, porém, as mudanças inconsistentes do
ponto de vista de A Batalha do Apocalipse
não atrapalharam meu envolvimento com a estória, como alerta o crítico e
escritor David Lodge. Muito pelo contrário: o enredo em si já capta e mantém a
atenção de qualquer nerd ou
aficionado pelas temáticas do livro.
Outro ponto que quero destacar são os diálogos. Alguns amigos
confessaram-me que não acharam as falas convincentes, que as pessoas no dia a
dia não falam daquele modo, etc. De fato, os personagens falam em um tom
formal, mas acho esse tom consistente com a trajetória dos mesmos porque eles
viveram muitos anos e são sábios. São anjos, demônios, magos e bruxas. O que
não achei convincente foram algumas sentenças em que há diálogos que explicam
demais ou mencionam o que o leitor já sabe sobre a estória, como o que Ablon
diz a Órion:
“- Eu sou um anjo renegado,
o último ainda vivo. Estou condenado a viver neste mundo físico. Não posso mais
cruzar o tecido da realidade como vocês. Mas não é preciso ser muito esperto
para notar que o Armagedon se aproxima” (SPOHR, 2014, p. 21).
É estranho um personagem falar de tal modo sobre si
mesmo, ainda mais para um amigo que o conhece há tempos. Sem contar que, tecnicamente,
esse breve resumo sobre o personagem cabe perfeitamente à voz do narrador ou à
voz de um personagem explicando a um terceiro.
Por falar em personagens, creio serem válidas algumas
considerações.
Dos personagens mais ativos de A Batalha do Apocalipse, apenas uma é genuinamente humana: Shamira,
a Feiticeira de En-Dor. Nem por isso a
empatia deixa de ser feita, pois os demais personagens, principalmente Ablon e
Órion criam uma forte empatia devido aos seus valores humanos.
Parece-me que, com exceção de Lúcifer, todos os
personagens da obra são simples ou planos, pois suas caracterizações são feitas
de forma rápida e direta e seus atributos permanecem, tornando-os personagens
previsíveis. No caso dos anjos e demônios, pelas suas próprias naturezas, é
normal que permaneçam sempre os mesmos. Já Shamira... creio que poderia ser
mais bem trabalhada. É uma humana muito bonita e inteligente que passa todas as
eras apaixonada por uma criatura apenas, Ablon! Mas ela exerce bem sua função
de “princesa a ser resgatada pelo mocinho”, já que é raptada por Miguel, assim
como a figura mitológica da princesa Andrômeda, prisioneira do monstro Kraken e
a à espera de seu herói, Perseu.
Lúcifer aparenta ser um personagem mais complexo, pois
têm motivações contra os humanos ao mesmo tempo em que parece ter saudade dos
dias em que viveu junto ao Criador. Ou tudo isso pode ser mera dissimulação
sua. O que se passa em sua mente não é claro. Sendo o Príncipe das Trevas, tudo
se pode esperar dele. Talvez o fato de ele ser um personagem mais trabalhado
venha da variada quantidade de fontes sobre essa sinistra figura religiosa e
mitológica, fontes que influenciaram a criação de Spohr.
Ablon tem muito dos personagens Conan MacCleod, Goku,
Seya e do tipo “pistoleiro solitário” de Clint Eastwood. Com ele, ocorre o
mesmo que
ocorre com personagens
centrais de narrativas de consumo de massa como por exemplo, nos filmes em
série de televisão: os traços do herói já são conhecido e, em cada novo filme,
ele vai confirmar os mesmos traços. Assim, ele sempre aparecerá em situações
que confirmarão o fato de ele ser “corajoso”, “justo”, etc. – um comportamento
previsível. (JUNIOR, 1995, p. 20).
Apesar de ser um personagem simples, a trajetória de
Ablon não é coroada apenas por vitórias, mas também por derrotas e obstáculos.
Mais
um aspecto técnico que destaco no livro são seus capítulos e ganchos. A
organização dos capítulos e seus ganchos – indo entre o passado e o presente,
com Ablon tendo flashbacks – são
excelentes. A leitura de A Batalha do
Apocalipse é viciante. Como interromper a leitura após ler algo como o
trecho a seguir?
Determinado, decidiu que, desta vez,
entraria em Jerusalém e não retrocederia de novo.
Por um
segundo, o Primeiro General fechou os olhos e, em um único instante recordou-se
daquela que, provavelmente, fora a mais célebre de suas aventuras. (SPOHR,
2014, p. 204).
Outra questão, não puramente literária, é o tratamento
dado à Idade Média (século V ao XV). Sendo formado em História, atentei à
abordagem dada àquele período, considerado nefasto. “Aconteceu naqueles dias
sombrios, durante a chamada Idade das Trevas. Tempos sangrentos eram
aqueles...” (SPOHR, 2014, p. 383).
A ideia de Idade Média como Idade das Trevas é um mito
criado pelos eruditos modernos para justificarem seu próprio tempo, visto como
progressista e racional, em contraste com os tempos medievais, tempos com
avanços e retrocessos como quaisquer outros. Quem divulgou essa ideia de Idade
Média como um período sombrio foi o pedagogo alemão Christoph Keller
(1638-1707), em latim Cellarius, mas
claro que, sendo uma obra de ficção e entretenimento, A Batalha do Apocalipse não precisa discutir a fundo essa questão.
Criação
e Publicação de A Batalha do Apocalipse
O romance de Eduardo Spohr foi publicado pela primeira
vez – com tiragem de 100 cópias - com sua vitória no II Concurso Literário do
Fábrica de Livros do Senai-RJ. Essas tiragens foram vendidas no site Jovem Nerd, de forma independente. Ao
fim das 100 cópias, leitores pediram mais, desejo atendido quando Spohr e os demais
membros do site imprimiram mais
cópias. Essa “etapa” da obra passou por várias reimpressões, atendendo a uma
demanda sempre crescente, vendendo mais de 4 mil exemplares entre 2007 e 2009.
Em
2010 A Batalha do Apocalipse foi
publicada pela Verus, vendendo mais de 400 mil exemplares desde seu lançamento.
Outras obras do autor lançadas pela mesma editora foram Protocolo Bluehand: Alienígenas (2011) e a Trilogia Filhos do Éden:
Herdeiros de Atlântida (2011), Anjos da Morte (2013) e Paraíso Perdido (2015). Este último foi
lançado há poucos dias.
Ainda
segundo o site oficial do escritor, Spohr foi premiado em 2012 pela Fundação
Luso-Brasileira na categoria “revelação”. Seus livros foram publicados na
Holanda, Alemanha e Portugal, com direitos de suas obras sendo vendidos para a
Turquia.
A
ampulheta do Tempo não cessa e por isso devemos esperar mais obras de aventura
e ação desse autor.
Referências
A Batalha do Apocalipse (Site Oficial). Sobre o Autor. Disponível em http://www.abatalhadoapocalipse.com/.
Acesso em 16/09/2015.
BORGES, Vavy Pacheco. O Que é História. São Paulo: Brasiliense,
9ª edição, 1986.
Jovem Nerd (Site Oficial). Nerdcast n° 80: A Batalha do Apocalipse. Disponível em http://jovemnerd.com.br/nerdcast/nerdcast-80-a-batalha-do-apocalipse/.
Acesso em 30/08/15.
JUNIOR, Benjamin Abdala. Introdução à Análise da Narrativa. São
Paulo: Scipione, 1995.
LODGE, David. A Arte da Ficção. Porto Alegre, RS:
L&PM, 2011.
SPOHR, Eduardo. A Batalha do Apocalipse: Da Queda dos
Anjos ao Crepúsculo do Mundo. Campinas,
SP: Verus, 57ª edição, 2014.
VOGLER, Christopher. A Jornada do Escritor: Estruturas
Míticas Para Contadores de Histórias e Roteiristas. Rio de Janeiro: Ampersand
Ed., 1997.
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