A Graça de Um Lugar
Só Seu
Por Thiago Damasceno
O
protagonista Ethan Hawley – do romance O
Inverno da Nossa Desesperança, de John Steinbeck – tem um Lugar, um local especial
no antigo cais de sua cidade. Pra esse Lugar ele vai sempre que precisa
refletir sobre as mudanças na sua vida. E lá, sozinho e em silêncio, ele alça altos
voos nos seus pensamentos existenciais.
Creio que todos nós precisamos de
algo do tipo. É fundamental pra relaxarmos e chegarmos a uma espécie de centro
a partir do qual iremos agir. O meu Lugar não é tanto um local, pois não
envolve um local e um momento definidos, mas algo criado por mim, algo
circunstancial, envolvendo mais do que local, tempo e pensamentos. Descobri-o
há pouco. Criei-o com a ajuda do livro de crônicas A Graça da Coisa, de Martha Medeiros, e o álbum Velha Gravura (1990) do grupo Quaterna
Réquiem.
Conheci a escritora gaúcha em um
programa de entrevistas, no Conexão
Roberto D´Ávila, se não me engano. Gostei da sua forma de ver as coisas.
Quando encontrei seu livro de crônicas não pensei duas vezes antes de
comprá-lo. Em A Graça da Coisa,
Martha escreve com fluidez e naturalidade sobre diversos temas da vida privada
e da vida social, sempre instigando a reflexão. É uma escritora de mão cheia no
gênero textual crônica, híbrido de jornalismo e literatura.
Por mãos cheias também é composto o
grupo de música instrumental Quaterna Réquiem. Criado no final dos anos 1980 no
Rio de Janeiro pela tecladista Elisa Wiermann e pelo baterista Cláudio Dantas, a
banda mistura música de câmara com progressivo sinfônico. É uma beleza só.
Músicas instrumentais ao embalo de diversas atmosferas sensoriais. Coisa linda
de se ouvir. Destaque para as canções “Aquartha”, “Velha Gravura” e “Madrugada”.
E pra quê lugar melhor do que ler
Martha Medeiros e ouvir Quaterna Réquiem? Tento começar todos os meus dias
assim, nessa vibe bem “de boas”.
A graça da vida está nesses pequenos
prazeres.
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Gostaria de deixar aqui uma crônica que eu mesma escrevi.
ResponderExcluirSe quiser e se achar que está a altura, autorizo a publicação em seu blog.
Crônica: O moinho da vida
Por: Gessica Filgueiras
Fazendo uma analogia entre a vida e uma música que mexe muito comigo, que em sua melodia e letra me levam para um lugar distante pelo qual desperta cheiros e emoções, vejo-me sentada em frente ao meu moinho, vendo as águas passarem. Ali naquela beira de riacho, vendo o moinho girar percebo que a cada volta ele aparece diferente, mais úmido, mais desgastado, com resquícios das águas em cada giro, com isso sua vida útil também não é a mesma, a cada movimento se despedaça, morre um pouco. Percebo ainda que ao longo de seu trabalho, o moinho cria expectativas em sua missão, mal sabe ele que enquanto gira nas águas dando-as vida, movimento também tritura grãos esmagando-os em perfeitos movimentos sincronizados.
Moinho, vida; águas, pessoas; grãos, sonhos...
E assim vou seguindo, cavando com meus próprios pés os abismos que irei beirar. E assim vou herdando os cinismos dos amores que me perpassam, lembrando sempre que ainda é cedo, muito cedo e que mal comecei a desvendar o que o moinho ou a vida me reserva e que sem saber o rumo que tomar, já anuncio a hora da partida. A vida, essa vida que cai um pouco a cada esquina é a mesma que me transforma e que com o tempo jamais será a mesma que é.
Data: 30/12/2015 Hora: 00:30