O Furto, A Viagem, A Carolina
Por Thiago Damasceno
Andar
em ônibus lotado no final do expediente é um saco. Ainda mais quando furtam sua
carteira! Claro que Goiânia não escapa dessas trollagens do Universo contra nós, meros mortais.
Estava na fila do Eixão pronto pra pagar as
passagens quando Morena Tropicana ofereceu seus trocados. Então embarcamos. Ao
descermos, não senti o peso da carteira no bolso. Oh, Céus! Fui furtado! Pela
primeira – e espero que última – vez! Refiz meu trajeto e procurei nas lixeiras
ao receber a dica de que os ladrões pegam só a grana e jogam as carteiras fora.
Encontrei uma carteira, de fato, mas não a minha. Era de uma mulher. Só estava
com seus cartões do banco e de lojas. Um instinto humanitário de solidariedade
me fez pegá-la pra devolver à dona.
Nessa “brincadeira”, perdi RG, dois cartões de
banco e uns R$ 300,00. Nada mal pra um primeiro furto.
E a viagem já estava comprada. Após analisar
friamente, vi que o melhor seria continuar a empreitada, mesmo aos trancos e
barrancos. E assim o fiz, não sem antes correr pra conseguir um B.O. e pegar om
ônibus a tempo. Essas coisas deram certo no fim. O Acaso sabe o que faz.
Mas viagem pra onde? Pra velha terrinha
natal, Carolina. Passei uma tarde rasgando o Tocantins em meio ao calor, calor
e calor. Ah, e calor também. O ar condicionado da van fez o favor de estragar. Mas após uma espera ansiosa, daquelas
que quanto mais você anda mais distante da chegada parece ficar... cheguei.
Porém, cheguei no fim da festa, após toda uma galera e aquele espírito eufórico
de Julho terem indo embora, mas cheguei a tempo de captar o essencial que quase
nos escapa aos olhos.
Passados quase três anos, pus os pés na casa
a avó e encontrei a anciã como da primeira vez que lembro tê-la visto na infância, costurando em
sua velha máquina ao final do corredor. Mas ela já não era mais do que uma memória.
No meu íntimo, sabia que faltava apenas essa visão para entender que haviam
passados os dias em que sua ancestralidade radiante reverberava pela casa.
Passada a lide com a mortalidade nossa de
cada dia, era hora de rever os amigos. Nada como eles pra acalmar a tempestade
interior. Após pôr a conversa em dias e alguns copos, o garçom nos traz uma
garrafa de cerveja com a solene fala:
-
Essa é a saideira!
O costume dos barzinhos de expulsar os
fregueses quando os garçons guardam as mesas e cadeiras enquanto ainda há
clientes parece ser de praxe no Brasil, mas acho que só mesmo em Carolina isso
chega a níveis de ousadia insuportáveis. Pois é... garçons dizendo qual garrafa
é a saideira. Pelo menos bebemos socialmente.
Hora de voltar pra casa. Dormir é
pros fracos, e ainda bem, pois dormir é muito bom. Antes da cama, deitei os pés
pelas ruas ancestrais, as ruas em que fui criado. A sensação é de mudança com
mesmice. É complicado. É libertar o carrasco que te prendeu. É reviver um
Thiago menino andando de lá pra cá com sua bicicleta Monark. É ter consciência que cada esquina, casa ou canto tem sua
história com enredos, personagens e clímax. É assistir de camarote ao filme da
sua vida. É compreender que não importa quantos lugares e pessoas você conheça,
Carolina vai estar sempre lá, guiando.
Sou só um mero mortal vindo cá e de
volta outra vez.
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