Goiânia,
Cidade do Pecado
Por Thiago Damasceno
Pago a conta na drogaria às
nove e meia da noite como quem acerta as contas com o Diabo. A imaginação me
leva à morte: Aquele carinha ali na esquina é bandido? Aquele maluco que vem
caminhando apressado tá armado? Será que vou sentir a dor do tiro ou vou
desmaiar primeiro? Se eu morrer, vão saber pra quem avisar?
- Alô, Dona, seu filho foi
baleado.
- E como ele tá?
- Ah, tá tipo... Morrendo,
mas ele tá fazendo isso muito bem.
- Que bom! Ele sempre foi mesmo
um menino muito esforçado!
Eu queria que minha vida fosse um espetáculo de
absurdices. Mas ela parece ser pior do que isso.
Todo dia, vejo os atarefados rasgando a Avenida Anhanguera
como guerreiros lutando nas cruzadas; esbarro com os agoniados passando por
cima dos canteiros da Avenida Goiás como se estivessem com as sogras em seus
encalços; tropeço nos cafetões do consumo que se perdem pela Rua 4 e ouço os
concursados estáveis em saudosismo bobo lamentarem que o Centro já foi mais
movimentado.
- Meu amigo, ‘mais movimentado’
foi o rabo do teu pai! Eu tô é me acabando nesse calor!
E assim os sonhos se liquefazem e depois se evaporam e
vão subindo, subindo, ascendendo às estrelas até se espatifarem no piso ao
avesso do espaço sideral. E o pecado é exatamente isso: o arrebatamento de
sonhos, o coma induzido dos desejos, o exorcismo da ganância, a vitória da
preguiça e dos gestos do conforto.
E, aos meus olhos, parece que é assim que as pessoas
nascem e reencarnam: entre RGs e CPFs padronizados, entre as últimas tendências
bregas da moda; e parece que é assim que a cidade se planeja: reformando a cada
dia suas desvirtudes, demolindo vontades, arquitetando a mornidão.
E toda mornidão é pecado!
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