Cuiabando Por Cuiabá
Por
Thiago Damasceno
Não tem jeito: não
importa o que aconteça acho que vou ser sempre o rapaz principiante do interior,
clamando por um mundo simples, justo, pacífico e solidário. Estava eu, uma
noite após a minha colação de grau, preso às teias tecnológicas em um hotel em
Cuiabá-MT. Vou explicar melhor.
Compromissos
esperavam para serem cumpridos em um fim de semana do meio do mês anterior. A
colação de grau, na sexta-feira, impediria minha viagem à capital matogrossense
via ônibus. Era o jeito ir via avião. Detalhe: eu nunca havia voado em um.
Outro detalhe: sou fã de Lost. Pois
bem...
Com auxílio de minha linda e paciente
namorada, consegui lidar com a logística do embarque e fixar o corpo em uma
poltrona do avião. Era bem na parte da frente da máquina voadora. Fiz questão
que fosse na frente, pois em Lost o
avião se partiu ao meio e o pessoal da frente caiu numa área da ilha mágica que
era mais favorável do que o outro lado da ilha, onde caíram as pessoas da parte
de trás do avião. Quem viu a série sabe que o pessoal da parte de trás sofreu
muito na mão dos Outros. O pessoal da parte da frente sofreu bem menos, por
mais que tivessem que enfrentar quase que diariamente uma coluna viva de fumaça
negra assassina. O fato é que, caso as condições ficcionais de Lost se concretizassem, eu queria
sobreviver com o pessoal da frente do avião.
A decolagem foi tensa, admito. Um
enjoo básico, a sensação neil armstrongeana de ir à Lua (exagerado!...) mas depois comecei a gostar. E na volta, eu e o
avião já éramos velhos conhecidos. Valeu, Santos Dumont! Valeu, Irmãos Wright!
Valeu seja lá quem dispute o título de inventor do avião! Os ônibus são,
realmente, rudimentares e atrasados, inda mais os coletivos...
No dia anterior meu pai e um tio
haviam dialogado sobre a segurança dos aviões. Após teses e antíteses e nenhuma
síntese dos dois, fiz minha própria síntese e, de fato, o avião é o meio de
transporte mais seguro. Ninguém entra armado e, dificilmente a máquina cai, e se
cair, você pode ter certeza que antes de morrer você foi uma pessoa que subiu
na vida.
Ao descer no Aeroporto Internacional
Marechal Rondon, em Várzea Grande, deparei-me com uma cidade em obras. E nas
horas posteriores em que circulei por Várzea e Cuiabá, deparei-me com mais
obras. Coisas da Copa. Coisas que ninguém acredita que serão finalizadas no
tempo devido, desde o advogado engravatado ao vovozinho bêbado no boteco.
Cortando caminho entre a opeira e o
concreto e - por que não? – entre a opressão capital-urbano-futebolística-globalizante-pós-moderna,
cheguei ao hotel onde, de forma fria e meticulosa, um quarto reservado me
aguardava. Imediatamente fui bem recebido e adentrei no recinto que me era
devido. Fechei a porta. Escuridão total. Me perguntei: “Que diabéisso?”.
Abri um pouco a porta para a luz do
corredor entrar no quarto e me guiar por entre as sombras tenebrosas. De que
adianta um curso superior se você não sabe que alguns quartos funcionam via
cartão magnético? Pois é...
Bastou colocar o cartão magnético –
que o recepcionista me deu - no encaixe inserido no interruptor ao lado da
porta e pronto: luzes se acenderam, o ar condiconado roncou, a TV ligou, o
frigobar gelou, um mundo novo entrou em ebulição perante os meus olhos cansados
de tantas nuvens e estrelas! Tudo ligado via cartão: maravilha da tecnologia
que ajuda a economizar energia, pois sem o cartão magnético no encaixe, essa
diva eletrizante chamada energia elétrica
não pode percorrer suas vias para podermos desfrutar do seu conforto. Só
que, até relacionar tudo isso na teoria e na prática, levei uns cinco minutos. Quase
ia esquecendo de dizer que o cartão também serviu para abrir a porta do quarto,
mas isso eu descobri rapidamente, coisa básica de se esperar de um Homo sapiens sapiens.
Após esse leve contratempo
intelectual cotidiano, me perguntei o que a noite de Cuiabá poderia oferecer a
um rapaz irreverente, festivo, baladeiro e extrovertido como eu. A resposta
foi: TV a cabo e uma boa noite de sono.
Na noite posterior, peguei o avião
de volta para Goiânia. Já éramos melhores amigos eu e o avião. Nem pensava mais
em Lost ou coisas afins como abduções
extraterrestres com o avião em trânsito. Pensava em voltar com mais tempo e
mais dinheiro – bem mais dinheiro – para poder ver mais coisas do estado, como o
pantanal, as cachoeiras, as obras da Copa finalizadas (talvez), etc. Já havia
visitado Mato Grosso antes, mas essa viagem, contarei em outra crônica.
Até semana que vem com aventuras
emocionantes em Jataí-GO!
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