Comentando O Hobbit
Por Thiago Damasceno
Cumprindo a promessa de semana
passada, retorno a postar nesta casa virtual tal qual um hobbit bolseiro
retornando ao seu aconchegante lar doce lar no Condado após inúmeras aventuras
em terras sombrias. Pois bem...
Nesta semana
terminei minha leitura de O Hobbit, e
neste post não pretendo de forma
alguma fazer uma análise literária da obra – até porque ainda não tenho
conhecimentos teóricos e técnicos para tal – mas apenas mencionar minhas
impressões ao lê-la e comentar coisas gerais sobre o livro e os filmes. Sou
apenas um escritor de primeira viagem buscando aprender os ossos do ofício com
os mestres.
O romance
inglês O Hobbit (1937), escrito por
John Ronald Reuel Tolkien, conta a estória de Bilbo Bolseiro e da companhia de
anões de Thorin Escudo de Carvalho rumo à Montanha Solitária, onde repousa o
terrível dragão Smaug sobre o lendário tesouro dos anões. Nessa obra, viajamos
pelas paisagens, personagens e estórias da Terra-Média, lugar mitológico que
ficou mais conhecido mundialmente com a trilogia literária e cinematográfica O Senhor dos Anéis.
O Hobbit é uma obra fundamental para
introduzir qualquer pessoa no rico universo criado por Tolkien. Uns falam que é
uma obra feita para crianças, pois sua estória é simples: um bando de
aventureiros parte para matar um dragão e recuperar um tesouro roubado. Mas,
como todo tema de estória pode ser simplificado – em termos de palavras – e toda
trama tem suas subtramas, sou da opinião de que O Hobbit é feito para todas as idades, sendo aconselhável tanto
para crianças quanto para jovens e adultos que desejam viajar na imaginação. A
linguagem e as técnicas de Tolkien, simples e sofisticadas, estão em plena
sintonia, permitindo sua compreensão por crianças e não desconsiderando os
leitores adultos. Talvez a ideia de que é uma obra para crianças seja pelo fato
de o narrador mencionar várias canções, utilizar onomatopeias e explorar a
sonoridade das palavras, sendo tais efeitos mais associados à infância. Porém,
temas maduros e mais sombrios são constantes na obra.
Meu capítulo
preferido é o quinto, intitulado Adivinhas
no Escuro. Nele, Bilbo encontra Sméagol/Gollum no interior das Montanhas
Sombrias e, consequentemente, também encontra o Um Anel, que é citado apenas
como um anel mágico antigo que confere invisibilidade ao seu portador. No
contexto geral do universo tolkeano, sabe-se que, nessa fase da grande trama,
Sauron ainda não está tão poderoso, de forma que o anel está numa fase digamos
que... “dormente”. Assim, ele não é visto como o maligno anel que tocará o
terror Terra-Média afora.
Nesse
capítulo, achei muito interessante o processo de apresentação e construção de
Gollum. Em todo o livro, é autor é onisciente e usa elementos discursivos que
atraem o leitor e o situam na estória, como “nossa história”, “vamos ver
que...”, “vocês devem se lembrar”, dando-nos a impressão de estarmos em
coletividade ouvindo o contador, remetendo a um ambiente folclórico. No
entanto, esse narrador, ao apresentar Gollum, “perde” sua onisciência e
desconhece Gollum, até diz “Ali no fundo,
na beira da água escura, vivia o velho Gollum, uma pequena criatura viscosa.
Não sei de onde veio, nem quem ou o que ele era. Era um Gollum – escuro como a
escuridão, exceto por dois grandes olhos redondos e pálidos no rosto magro”
e aos poucos, vai conhecendo o personagem, inclusive seu passado e seu gosto
pelo anel mágico. O narrador entra em contanto com Gollum e seu anel
paralelamente ao leitor, de forma que isso une cada vez mais narrador,
personagem e leitor. Meus estudos de técnica literária estão iniciando agora,
mas sinto que posso dizer que Tolkien, no processo de apresentação e construção
do personagem Gollum, usou o recurso do fluxo
de consciência (de forma simples e “camuflada”), demonstrando,
discursivamente, os pensamentos e/ou opiniões do personagem. Apenas acho.
Quanto aos
dois filmes que temos até agora...
São bons e bem
produzidos, mas como li em um site cujo
nome não lembro agora, evidenciam o caráter megalomaníaco de Peter Jackson. De
forma nenhuma a estória de O Hobbit cabe
em três filmes. É uma estória modesta – comparada às outras - dentro do
universo Tolkien, por mais que nela se explique como Um Anel foi encontrado por
um hobbit. Agora é esperar pelo próximo filme, que representará, em três horas,
a morte de Smaug e o desfecho do lendário tesouro dos anões, e no meio haverá,
claro, coisas que Peter Jackson inventa como Legolas e etc para segurar – e
enrolar –o filme até que ele dure três horas, Mas como fã que sou, não quero
nem saber... vou vê-lo assim que entrar em cartaz!
Contudo,
entretanto, todavia, fica claro que os filmes estão bem adaptados e expressam
claramente a mensagem mitológica, simples e humana do livro: a riqueza em
excesso corrompe; o ouro excessivo gera ganância e a ganância não fornece uma
vida plena, pois um ser consciente e saudável precisa de mais coisas do que
ouro, como amizades, lealdade, equilíbrio, coragem e boas histórias para
contar.
Por fim, meus
sentimentos ao ler o último capítulo do livro...
Concluem-se
nele as etapas básicas da Jornada do Herói e as consequências da ação, como a
morte de três personagens carismáticos e as relações entre homens, anões e
elfos no entorno da Montanha Solitária, que são satisfatórias. O retorno de
Bilbo ao lar é tão agradável quando a Vila dos Hobbits, e a leitura dos últimos
acontecimentos – cotidianos e banais, diga-se de passagem – geram saudade, me
fazendo pensar em quantos meses se passarão ate que eu sinta necessidade de
enveredar de novo pelas estradas e palavras de Lá e de Volta Outra Vez.
Referência
TOLKIEN, J. R. R. O Hobbit. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
Obs: O papel dessa edição é de dar inveja a qualquer pergaminho élfico.
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