Aqueles Tempos É Que Eram...
Por Thiago Damasceno
O filme Meia-Noite em Paris, de Woody Allen, tem como tema principal a insatisfação dos homens com a sua época e o desejo de viver em uma época passada. Tenho a mesma vontade, pelo menos no campo da música. Há meses ouço apenas artistas, bandas e produções dos anos 1960 e 1970: Beatles, Pink Floyd, Jethro Tull, Ptarmigan, Bob Dylan, Neil Young, Leonard Cohen, Mutantes, O Terço, Casa das Máquinas, O Peso, Belchior, Zé Ramalho, Arnaldo Baptista, Secos & Molhados e outros. Minhas leituras literárias também se inclinam pra essa época.
Certo dia fui à biblioteca municipal, na Praça Cívica, renovar o empréstimo do livro Sidarta, do escritor alemão Hermann Hesse (1877-1962). Nessa estória, o jovem filho de brâmane, Sidarta, parte em busca de sabedoria e paz interior. Alguns pontos de sua jornada são semelhantes à jornada de Buda e o protagonista do romance se encontra com o mesmo, elogiando a doutrina budista, mas defendendo que não pode vivê-la, pois ele não viveu o que Buda viveu a ponto de adotar sua doutrina. Assim, o budismo serviria pra Buda, mas não serviria pra Sidarta. Este chega à conclusão de que é a experiência individual que leva à sabedoria, virtude e autoconhecimento, e essa ideia agitou boa parte da juventude dos anos 1960 e 1970 que tinha os livros de Hesse na cabeceira.
Na biblioteca, esperei na fila pra renovar o empréstimo do livro, atrás de uma senhora. Deixei a obra em cima do balcão pra olhar outras e ela reparou no livro. Disse que era muito bom e que fez sua cabeça naquela época. Começamos então um papo-cabeça. Trocamos ideias sobre músicas da época e ela disse que foram anos difíceis, mas é como uma frase cujo autor esqueci: “Foram tempos difíceis, mas foram os melhores da nossa vida”. A frase exata não é essa, mas é por aí. A dificuldade principal eram os tempos de ditadura e concordamos que a geração de hoje é acomodada, comparada com as anteriores.
Sem querer ser totalmente emocional nessa clássica discussão, lhe falei que um dos problemas da juventude atual (toda geração tem seus problemas) são as poucas ou quase nenhuma ideologia. Temos hoje o desenvolvimento sustentável. Grande coisa, já que no atual ritmo industrial, a natureza irá mesmo por água abaixo. Mas também as ideologias anteriores (pacifismo, hippismo e outros ismos) caíram por terra. A exceção talvez tenha sido o feminismo. Não sei ao certo. O que sei é que o sonho de um mundo melhor, no campo espiritual, realmente acabou, como disse Lennon.
Durante boa parte da conversa, aquela senhora olhou pro horizonte além da praça, com uma expressão distante. Ela não estava fugindo da conversa, estava lembrando, como se visse Woodstock no lugar das avenidas Araguaia e Goiás (a direção em que ela olhava) dizendo coisas nostálgicas como “Aqueles tempos é que eram... sabe?!”. Talvez o maior problema da nossa geração seja o que estava acontecendo com o personagem Sidarta antes de sua aventura: ausência de experiências satisfatórias. Nos falta viajar pra algum lugar. “Ir pra algum lugar pra descobrir alguma coisa”, como disse o personagem Dean Moriarty em On The Road. Mas o que é essa coisa... Não sei ao certo.
Passei para fazer um pesquisa de seu olhar sobre Buda, mas quando cheguei aqui me deparei com outra perspectiva. Vou fazer minha crítica: Parabéns, você escreve muito bem! És um escritor detalhista. O texto é bom, mas é como um livro sacana!
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