Espanto
Já dizia Gullar:
“A poesia nasce do espanto”
Um poeta não senta à mesa para escrever um poema
Ele senta à mesa porque um poema bateu à sua porta
E ele abre a porta
E torna-se refém das palavras
E as organiza, esteticamente, durante seu cativeiro
Porque os poemas nascem assim
Um poeta anda pela rua
Emociona-se
Ou defeca no banheiro
E repentinamente
É invadido por um enxame de palavras
Palavras loucas para serem resgatadas
E ficarem a salvo no papel
Alguns poemas nascem de lágrimas
Outros de dores, saudade, sonhos ou alegrias
Mas de fato, nascem do espanto
Porque nem sempre são esperados
Mas sempre são bem-vindos
Thiago Damasceno
Quem Tem Pressa Come Apressadamente
Os pedestres têm pressa
Os carros têm pressa
Os famosos, os anônimos
Os mendigos, os milionários
Os homens e as mulheres
Têm pressa
Os trabalhadores têm pressa
Os estudantes têm pressa
A natureza, a indústria
Os comerciantes, os desocupados
Os senhores e os escravos
Têm pressa
Os existencialistas, os marxistas.
Os epicuristas, os positivistas
Os neonazistas e os pacifistas
Têm pressa.
A guerra espera ansiosamente pela trégua
Muitos têm pressa
Até o tempo, que anda mais rápido a cada dia
Ontem eu tinha 5 anos
Hoje tenho 99
E amanhã estarei dentro de um caixão feito às pressas
Os cristãos, os maias e os cientistas
Marcaram o fim do mundo
Para depois de amanhã
É sempre tão cedo...
Ainda bem que esse “depois de amanhã” não tem pressa
Thiago Damasceno
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