Vejamos as opiniões de três
personalidades públicas brasileiras sobre o momento crítico em que estamos. Em seguida, aplicarei a pergunta-título acima
aos seus discursos.
Um alerta: o conteúdo dessas falas
é indigesto para quem tem bom senso, empatia e solidariedade.
Para o
empresário e publicitário Roberto Justus, o conjunto de medidas preventivas
para combater o coronavírus... “Vai custar muito caro. Você está preocupado com
os pobres? Você vai ver a vida devastada da humanidade na hora do colapso
econômico, da recessão mundial, dos pobres não ter o que comer, das empresas
fecharem, do desemprego em massa, não dá pra comparar com um vírusinho, que é
uma gripezinha leve para 90% das pessoas”.
Reforçando
essa ideia, o empresário Junior Durski, dono da rede restaurantes Madero, disse
o seguinte: “Nós não podemos, por conta de 5 mil pessoas ou 7 mil pessoas que vão
morrer... eu sei que é muito grave, eu sei que isso é um problema, mas muito
mais grave é o que já acontece no Brasil [...] E agora vão morrer então 5 mil
pessoas de... pela coronavírus que nós não podemos evitar, nós não podemos
evitar... não tem como fechar tudo, se
esconder do inimigo e não trabalhar [...] Não pode parar o Brasil. O Brasil tem
que continuar trabalhando”.
E para
fechar o combo de pensamentos diabólicos, o despresidente da Desrepública
Desfederativa do DesBrasil: “A economia não pode parar. Afinal de contas, não
basta termos meios, se não tivermos como levá-los ao local onde serão usados,
bem como os profissionais têm também que se fazer presentes nesses locais [...]
Então estamos acertando para que um Estado não aja diferente dos outros e que
não bote em colapso o setor produtivo”.
É fato
que a atual pandemia está produzindo e produzirá consequências sociais
complicadíssimas, incluindo na economia, como as três criaturas mencionadas
pontuaram. Contudo, por trás dessa “inteligência” e “elegância” discursiva
(alguns bovinos podem encontrar inteligência e elegância nisso) há uma
preocupação maior com a economia e não com as pessoas.
O foco
desses três é salvar o dinheiro, não o povo. Para eles, a máquina que gera grandes
lucros para poucos não pode parar, mas a logística social da nossa saúde e,
logo, das nossas vidas, deve.
O que
esses três mentecaptos têm em comum? São homens héteros brancos e
endinheirados. Essa maldita “fórmula” gera seres (des)humanos inescrupulosos,
perversos e idiotas, como observamos cotidianamente nos últimos anos.
Pior do
que isso é o espaço que suas ideias têm. E ainda pior do que isso é quem os
apoia. Devem apoiá-los por uma mistura de representatividade (em almejar ter o
dinheiro que eles têm) e por perversão mesmo. Não aceito mais a ideia de apoio
por má informação e ignorância, pois eles chegaram ao ponto extremamente
alienante de defender dinheiro no lugar de vidas sem o mínimo receio! Eles vêm
a público afirmar isso como se fossem ideias ou opiniões a serem levadas em
conta!
Onde
quem enfiar tanto dinheiro? Para quê serve um mundo cheio de dinheiro sem gente
para viver nele? Onde essa corrida pelo ouro vai nos levar?
Parafraseando
Drummond em “Poema de Sete Faces”: “Para quê tanto dinheiro, meu Deus, pergunta
meu coração”.
Não é
o dinheiro que gera a gente, mas o contrário! Quantas pessoas ainda devem
morrer e quantas desgraças ainda devem acontecer para que entendam isso?!
É hora
do “Nós” contra “Eles”. Devemos boicotar, censurar e rebater essas ideias e
discursos. Devemos nos rebelar em massa e escorraçar esse tipo de conduta,
opinião e argumentação, pois isso virou uma questão de sobrevivência.
Se
Eles querem o dinheiro, Nós queremos a vida.
Thiago Damasceno, 25 de março
de 2020