Por Thiago Damasceno
“Goiânia não ventaaa!!!”. Já
ouvi essa sentença da boca de muitos goianienses. Engraçado é que tem anos que
moro no sexto andar e tem dias que os ventos faltam é arregaçar as janelas de
vidro. O calor de Goiânia não é ocasionado – muito menos explicado – pela suposta
falta de vento, mas existe simplesmente por existir. O calor goianiense é um
ser em si mesmo.
Saio do médico e vou pedalar um pouco. Vento, vento,
vento. Por todos os lados... vento. Desde ontem as tardes estão bem bonitas:
claras, azuis, calmas, ventuosas. Leves, nutritivas e saborosas como uma
crônica ao vento.
Caminho pelo Centro, com um sapatênis com solado fino,
sentindo com tudo o chão sob os pés. Vento, vento, vento... e vento. Acho que
só assim é possível sentir de fato a cidade em que se mora.
Namoro uns livros pelas livrarias, compro uma revista
na banca da Goiás. É a Leituras da História, com a matéria sobre os
refugiados na capa. Vento, vento, vento... do Oriente Médio à América do Sul.
Leio sobre o sofrimento dos refugiados enquanto,
desumanamente, engulo uma jantinha de espetinho de gato com uma Eisenbahn
Pilsen no boteco da esquina. Leio uma opinião sobre o Trump, o garçom vê e puxa
papo sobre o muro do México. Atualidades, garçom simpático, conversa oficial de
boteco e enquanto isso... Tome-lhe vento!
Volto pra casa pensando em todo o dia. Tento chegar a
uma conclusão favorável da vida cotidiana enquanto o Sol se põe. Às vezes essa
conclusão é sincera, às vezes minto pra mim mesmo. Mas tudo bem, acho que só o
vento não mente.
Ah, e por falar nele...
Vento,
vento, vento. Por todos os lados... vento. Desde ontem minha vida anda leve, nutritiva
e saborosa como uma crônica ao vento.